O governo da Frente Democrática de Esquerda no estado indiano de Kerala – liderado pelo Partido Comunista da Índia (Marxista) – destacou-se a nível mundial pela abordagem no combate à pandemia – centrada nas pessoas e baseada na educação e numa extensa rede de cuidados de saúde primários –, o que lhe valeu o reconhecimento da imprensa tanto na Índia como no resto do mundo.
Menos conhecida é grande empreitada levada a cabo pela Federação Democrática da Juventude da Índia (DYFI, na sigla em inglês) no estado do Sul da Índia, em resultado da qual os seus dirigentes entregaram ao governo de Kerala mais de um milhão de euros, no passado dia 6 de Agosto, numa altura em que, afirma o Peoples Dispatch, o estado lida já com uma terceira vaga epidémica.
Uma das caras mais conhecidas da iniciativa, que teve início em Maio, foi a campanha «Recycle Kerala» [Recicla Kerala], no âmbito da qual a organização de jovens comunistas foi a casa das pessoas recolher diversos tipos de materiais usados e os vendeu a ferros-velhos e centros de reciclagem.
Desde Maio, membros de 27 240 organizações de base da DYFI deslocaram-se a casas nas suas localidades, recolhendo livros usados, jornais velhos, equipamentos electrónicos estragados, entre outras coisas. Nalguns casos, as pessoas doaram peças de valor, como quadros e esculturas, contribuindo de forma substancial para a recolha de fundos.
Também houve contributos em forma de frutas, hortaliças, aves do campo e lacticínios. Alguns pequenos produtores agrícolas doaram toda a colheita da época (arroz, tubérculos, banana-da-terra, etc.). Em aldeias remotas de Kerala, onde os agricultores tiveram dificuldades em escoar a produção devido à quarentena, os comités da Federação Democrática compraram os produtos e venderam-nos posteriormente.
Para a recolha de fundos também contribuíram elementos tão diversos como a roupa feita nas aldeias, os bilhetes da lotaria estatal e o peixe pescado pelos jovens comunistas nas águas interiores do estado.
Outra grande iniciativa, revela o Peoples Dispatch, foi a limpeza dos rios por todo o estado, de onde foram retirados mais de 6,5 toneladas de plástico, que depois foi vendido para a reciclagem. Para além disso, os jovens militantes comunistas da DYFI também limparam poços, fábricas, escritórios e casas; o dinheiro que receberam foi para o monte.
O mesmo princípio presidiu à actividade de quadros da DYFI que trabalharam em estaleiros de construção, quintas e mercados: aquilo que ganharam foi entregue à recolha de fundos. Houve jovens comunistas que, para juntar dinheiro para o combate à Covid-19, venderam especialidades gastronómicas a preços acessíveis. Outros ainda encarregaram-se de arranjar transporte em localidades com ligações escassas durante à quarentena.
Alguns jogadores de futebol de Kerala, que são conhecidos e jogam em equipas nacionais, estaduais ou locais, doaram as suas camisolas, que depois foram leiloadas pelos comités respectivos da Federação. Por seu lado, alguns artistas que militam DYFI realizaram caricaturas e deram concertos de rua, respeitando as medidas de segurança.
A campanha dos jovens comunistas em Kerala não teve qualquer tipo de cobertura dos grandes órgãos de comunicação social, mas, segundo refere o Peoples Dispatch, foi bem acolhida nas redes sociais.
No passado dia 7, num encontro oficial com a imprensa, o governador de Kerala, Pinarayi Vijayan (PCI-M), valorizou a iniciativa dos jovens comunistas como um modelo para o mundo. «Esta iniciativa será lembrada como um marco do valor da juventude no nosso estado, pronta para lutar pelo bem comum, desafiando todas as adversidades», disse.
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