Por definição, a proteção civil é uma responsabilidade de todos, o que se torna particularmente evidente numa qualquer ocorrência, independentemente da sua natureza, dado que, num primeiro momento, a segurança individual depende de cada um de nós e dos que nos estão mais próximos.
A criação e assimilação de uma cultura de responsabilidade, individual e coletiva, que passa, por exemplo, por evitar comportamentos de risco, é um primeiro passo, mas essencial para que as atividades de proteção civil não se esgotem em ações de socorro e se possam focar no planeamento e na preparação e apresentem um elevado grau de prontidão.
Constitui hoje uma evidência que é preciso apostar numa sensibilização/ formação/educação contínua, orientada e adequada aos diversos públicos-alvo, tendo em conta fatores tão diversos como a idade, a escolaridade, o ambiente e os riscos com que podem ser confrontados.
Mas, se a alteração de atitudes e comportamentos individuais e coletivos é uma área que carece de muito investimento, a estrutura institucional da proteção civil precisa, igualmente, de ser profundamente melhorada.
«A criação e assimilação de uma cultura de responsabilidade, individual e coletiva, que passa, por exemplo, por evitar comportamentos de risco, é um primeiro passo, mas essencial para que as atividades de proteção civil não se esgotem em ações de socorro e se possam focar no planeamento e na preparação e apresentem um elevado grau de prontidão»
É certo que este é o tempo da resposta à pandemia da Covid-19, pelo que todas as atenções dos poderes públicos (central e local) devem concentrar-se em salvar vidas e mitigar efeitos, em especial de dimensão social e económica. Porém nada impede que, paralelamente, se aproveite este momento ímpar e as suas circunstâncias para repensar o modelo de organização do sistema de proteção civil, aprofundar protocolos de atuação, redefinir missões, articular agentes, questionar opções políticas e reorientar soluções para o futuro.
A situação que há 8 meses vivemos, em Portugal e no mundo, veio mostrar profundas debilidades no âmbito da cultura de autoproteção da população e de toda a estrutura da proteção civil, confirmando claramente que a maioria dos atuais modelos sistémicos não estão preparados para enfrentar estas novas situações, as quais, se poderão tornar mais recorrentes, ou mesmo crónicas, num futuro muito próximo.
«Mas, se a alteração de atitudes e comportamentos individuais e coletivos é uma área que carece de muito investimento, a estrutura institucional da proteção civil precisa, igualmente, de ser profundamente melhorada»
Por consequência, urge alertar os governantes para a necessidade de fazerem o que raramente estão disponíveis para fazer, isto é, questionarem as suas decisões e submetê-las à dura prova da vida, mudando trajetórias e soluções que em devido tempo consideraram acertadas ou alguém os convenceu que assim era.
Os modelos de sistema de proteção civil existentes, em particular no nosso país e na Europa, foram concebidos e formatados para um padrão de risco determinante em função das especificidades de cada território e das ameaças, nomeadamente de natureza específica (incêndios florestais, atentados terroristas, sismos e outras), a que os mesmos estão expostos. Perante uma ocorrência global e impactante como a Covid-19, os referidos sistemas revelaram múltiplas fragilidades.
Assim urge criar pequenas estruturas de observação, dotadas de conhecimento científico e técnico, libertas da pressão da emergência do momento, capazes de estudar, identificar, interpretar e propor novas soluções, mais consentâneas com as múltiplas lições que esta crise permite já retirar.
Uma missão para hoje, pois amanhã será perigosamente tarde.
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