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Governo «mantém a privatização dos CTT», denuncia PCP

O momento escolhido para concretizar esta medida, alertam os comunistas, destina-se a que «possam ser estabelecidos contratos ruinosos» com os accionistas privados ainda antes das eleições legislativas.

O MUSP do Porto lançou o abaixo-assinado contra o encerramento do posto dos CTT da Areosa no passado dia 9
O encerramento de estações e lojas CTT provocou fortes protestos da população CréditosJosé Coelho / Agência LUSA

«O Conselho de Ministros confirmou ontem [quinta-feira] a sua decisão em manter em mãos privadas os CTT, negando o direito de ter sob seu controlo o serviço postal com o que ele comporta de interesse estratégico para o País e para as populações», critica o PCP numa nota de imprensa emitida esta sexta-feira.

Para os comunistas, trata-se de «uma decisão tão mais inaceitável quanto se tem provado que a privatização dos CTT se traduziu na degradação do serviço, de que é exemplo mais expressivo o encerramento de centenas de balcões, negando o acesso das populações, tornando-o mais caro e menos fiável».

Repudiando a decisão do Governo e lembrando que «o PS teve durante os últimos seis anos todas as condições políticas para reverter essa privatização, tendo-a sempre recusado», o PCP sublinha que «o tempo escolhido para a concretização desta medida se destina a que possam ser estabelecidos contratos ruinosos – e sem controlo atempado – com os accionistas privados ainda antes das eleições legislativas, exactamente o mesmo tipo de comportamento que o PS criticou ao Governo do PSD/CDS».

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Nos CTT, o Governo cede em tudo ao Grupo Champalimaud

O Governo assume a submissão total face às reivindicações de Manuel Champalimaud e demais accionistas dos CTT, através da resolução do Conselho de Ministros publicada em Diário da República.

Os comunistas apelam ao Governo que assuma as suas responsabilidades e trave o caminho de degradação do serviço postal
Créditos / União dos Sindicatos de Évora (CGTP-IN)

A realidade é tramada. Estava o Governo – e os comentadores do costume – tão empolgado em demonstrar que estamos perante o governo mais à esquerda desde o Conselho de Comissários do Povo, e que os Decretos da Paz e da Terra só não iam entrar em vigor por culpa do voto contra do PCP ao Orçamento do Estado, e eis que sai o Diário da República de 3 de Novembro com mais uma dose de realidade pura e dura (como se não chegasse o estado do SNS, os salários congelados, o preço das rendas e da energia, a habitação inacessível, etc.).

Veio esta realidade na forma da publicação da resolução do Conselho de Ministros sobre os CTT, aprovada ainda em Setembro, mas que só agora viu a luz do dia (coincidências...). E não é que o Governo ajoelha soezmente aos pés das reivindicações de Manuel Champalimaud e demais accionistas dos CTT? É que a submissão é total. Vejamos alguns exemplos:

– Os capitalistas que esmifram a concessão pública vinham-se queixando do facto de a ANACOM não se submeter aos seus ditames (o que de facto é uma raridade, pois os reguladores independentes foram criados para serem independentes do poder político e submissos ao poder económico). E o Governo determina que «os parâmetros de qualidade do Serviço Postal Universal e os objectivos de desempenho passam a ser definidos pelo concedente», deixando de ser fixados pela ANACOM como prevê a Lei Postal!

«E o Governo «mais à esquerda» de que alguns têm memória e outros expectativa (o que diz muito dessa memória e dessa expectativa, e pouco deste Governo), decide entregar por «ajuste directo» a um grupo capitalista a concessão do Serviço Postal Universal, passando a pagar por um serviço que sempre foi lucrativo no Estado, e permitindo a continuação da brutal degradação do serviço postal.»

– Os capitalistas que esbulham os utentes dos Correios vinham reclamando do facto de a ANACOM não os autorizar a maiores aumentos de preços (apesar de terem desde a privatização já imposto um aumento de 56% na tarifa base). Pois o Governo determina «que os preços são aprovados pelo Governo, sob proposta da concessionária», em vez de serem fixados pela ANACOM como determina a Lei Postal em vigor.

O carácter «revolucionário» da resolução só é reflectido pelo facto de a mesma determinar que, como a lei actual não permite ao Governo fazer o que quer, o Governo irá primeiro mudar a lei por decreto e depois fazer o contrato com o privado. Tudo antes de 31 de Dezembro.

E o Governo «mais à esquerda» de que alguns têm memória e outros expectativa (o que diz muito dessa memória e dessa expectativa, e pouco deste Governo), decide entregar por «ajuste directo» a um grupo capitalista a concessão do Serviço Postal Universal, passando a pagar por um serviço que sempre foi lucrativo no Estado, e permitindo a continuação da brutal degradação do serviço postal.

E, entretanto, ainda se prepara para que todos paguemos uns milhões de euros em «equilíbrio financeiro da concessão». Sobre isso, sobre o escândalo de o contrato de concessão remeter «os litígios» entre o Estado e o privado para os «tribunais» arbitrais, a resolução do Conselho de Ministros nada diz, o que augura que o mesmo mecanismo de transferência de fundos públicos para os bolsos privados está salvaguardado no próximo contrato de concessão.

Claro que todo este percurso só é possível porque ele ocorre perante o silêncio cúmplice da comunicação social dominada, fiel intérprete dos desejos e interesses do grande capital. Fidelidade que partilha com um Governo que em seis anos sempre se opôs à renacionalização dos CTT, que seis vezes se aliou a PSD e CDS-PP (e também ao Chega e à IL) para travar projectos de renacionalização, e que apenas aceitou aprovar declarações de intenções que nunca pensou concretizar e criar grupos de trabalho que nada estudaram e se limitaram a ganhar tempo. Como o comportamento presente deixa exposto.

Tipo de Artigo: 
Opinião
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Na quinta-feira, o Governo aprovou em Conselho de Ministros um decreto-lei de alteração à Lei Postal, depois de, em Setembro, ter decidido que o prestador de serviço universal seriam os CTT, por ajuste directo, e que «uma comissão de avaliação para negociar o novo contrato» iria ser nomeada, tendo em conta que o contrato actual caduca a 31 de Dezembro.

«Numa clara cedência aos interesses dos accionistas privados, o decreto agora aprovado pelo Governo de alteração à Lei Postal não só permite que o contrato de concessão seja feito por ajuste directo com os CTT, mantendo estes privatizados, como cria condições para reduzir os poderes de fiscalização e regulação, conduzindo a uma maior degradação da qualidade do serviço, a par de um novo aumento de preços e pagamento pelo Estado de compensações», lê-se na nota divulgada pelo PCP esta sexta-feira.

Os comunistas, que assumem «o compromisso de levar este decreto-lei à apreciação parlamentar, depois das eleições, para o revogar», defendem que, com esta decisão, «o PS evidencia as suas opções de submissão aos interesses dos grupos económicos e o que significaria um PS com as "mãos livres", o mesmo PS que facilitou o regresso a Portugal e a reconstrução do Grupo Champalimaud, e que em 2010 colocou a privatização dos CTT como um dos objectivos do PEC [Programa de Estabilidade e Convergência]».

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