Os trabalhadores do chá no Bangladesh estão a regressar ao trabalho, insatisfeitos, depois de o governo de Sheikh Hasina ter decidido aumentar os seus salários no valor de 50 takas (52 cêntimos) por dia. Ao fim de três semanas de luta, iniciada no passado dia 9, o salário diário de um trabalhador da recolha do chá passou de 120 para 170 takas (1,78 euro).
A decisão de aumentar os salários foi tomada no último sábado numa reunião celebrada na Ganabhaban, a residência oficial da primeira-ministra na capital do país, Daca, entre esta e a Associação do Chá do Bangladesh – que representa os proprietários das plantações.
Após o encontro, um representante da primeira-ministra disse à imprensa que, «além do aumento salarial, o número de licenças anuais, festivas e médicas e de bónus também será aumentado» e que «o custo das despesas médicas será arcado pelos proprietários das plantações».
O secretário-chefe da governante, Ahmed Kaykaus, disse ainda que, na sequência da reunião com os proprietários, os trabalhadores do chá alcançariam outros benefícios, nomeadamente ao nível da saúde, pensões, educação dos filhos e habitação, que será gratuita.
Neste sentido, tanto Kaykaus como a primeira-ministra, Sheikh Hasina, pediram aos trabalhadores para voltarem ao trabalho, refere o portal People’s Reporter, que informa que o «magro aumento salarial» provocou «reacções mistas» entre os trabalhadores, sendo que a maioria, mobilizada numa greve desde dia 13, se mostrou «zangada e insatisfeita» com o anúncio e com a aceitação das condições por parte do Bangladesh Tea Workers Union (Sindicato dos Trabalhadores do Chá do Bangladesh).
Sindicato recebeu bem a decisão, que é contestada pelos trabalhadores
O sindicato acolheu bem a decisão, indica o People’s Reporter. Nripen Pal, secretário-geral interino, disse: «Aceitamos a decisão. Ela é a primeira-ministra do país. Obrigado, primeira-ministra. Os nossos trabalhadores vão voltar ao trabalho.»
No entanto, em distritos como Sylhet, Moulvibazar e Habiganj (três dos sete distritos do chá no país asiático), vários trabalhadores mostraram-se insatisfeitos e, pedindo anonimato, disseram ao portal que 170 takas (1,78 euro) por dia é muito pouco para fazer frente às despesas diárias.
Um trabalhador na plantação de chá de Lakkatura (distrito de Sylhet) disse: «Nós aceitámos a escravatura.» E perguntou: «Como é que 170 takas nos vão ajudar quando os preços estão tão altos?»
Mais de cinquenta trabalhadores morreram após terem sido encurralados pelas chamas nos andares superiores de um edifício de vários andares que albergava uma unidade fabril sem condições de segurança. Um incêndio numa fábrica de sumos e outras bebidas em Narayanganj, nos arredores de Daca, capital do Bangladesh, causou a morte de pelo menos 52 trabalhadores, entre os quais crianças, e causou dezenas de feridos. O incêndio desencadeou-se nos pisos inferiores de um edifício de seis andares onde funcionava a fábrica, tendo-se espalhado rapidamente devido à elevada quantidade de produtos químicos e materiais inflamáveis armazenada no local. Devido à violência do incêndio, os bombeiros apenas conseguiram controlá-lo na noite de sexta-feira, mais de 24 horas depois de ter ocorrido. Os operários não puderam escapar para o exterior do edifício por este não dispor de um número adequado de escadas de incêndio e de as diversas portas de saída das áreas de trabalho se encontrarem encerradas. Tentaram fugir para os pisos superiores mas a velocidade de propagação do incêndio foi demasiado rápida e depressa as chamas os alcançaram. Os bombeiros conseguiram salvar alguns trabalhadores que conseguiram atingir o telhado, mas três trabalhadores morreram quando saltaram do edifício, para fugir às chamas. No interior os bombeiros encontraram 49 corpos carbonizados e irreconhecíveis. Apenas três dos 52 trabalhadores mortos foram identificados e os seus corpos entregues às famílias. A fábrica pertence à firma Hashem Food and Beverage, da multinacional Sajeeb Group, um dos maiores exportadores do Bangladesh. Segundo declarações do comandante de bombeiros local, recolhidas pela Reuters, cada piso tem 3,25 mil metros quadrados mas apenas duas escadas de incêndio, por onde apenas poucos trabalhadores conseguiram escapar. Além da porta de saída do edifício, também a porta de acesso aos pisos superiores ao telhado se encontrava encerrada, tendo sido essa a causa para a maioria das mortes. A organização não-governamental Bangladesh Legal Aid and Services Trust exigiu «um rápido julgamento e a punição dos responsáveis» e «uma investigação justa» ao incidente. Familiares dos trabalhadores concentraram-se no exterior da fábrica para pedir justiça, mas para muitos a hora ainda é de procurar os desaparecidos. O Bangladesh destaca-se pelas más condições de trabalho na indústria, denunciadas pelos sindicatos locais, e dezenas de acidentes industriais ocorrem anualmente no país devido a má construção dos edifícios ou a deficiente segurança contra incêndios, faz notar a Reuters. A maioria dos acidentes ocorrem no sector têxtil, que emprega milhões de trabalhadores e dá à economia país um enorme contributo. Depois do colapso da fábrica de vestuário Rana Plaza, em que mais de mil operários morreram e centenas ficaram feridos, as autoridades responsáveis pela indústria prometeram melhorar as regras de segurança nas instalações, mas em Junho passado os sindicatos acusavam o patronato de falta de renovação dos acordos de segurança no trabalho, e alertavam para os riscos de acidente decorrentes. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Morrem dezenas de operários em incêndio no Bangladesh
Fábrica sem condições pertence a grupo multinacional
Más condições de trabalho e segurança são moeda corrente
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Os dirigentes sindicais foram e estão a ser acusados de «trabalhar para os interesses dos donos das plantações». O antigo vice-presidente do Sindicato dos Estudantes da Universidade do Chá, Micah Piregu, denunciou a decisão de aumentar os salários em 50 takas (52 cêntimos) como uma forma de reprimir os trabalhadores, acrescentando: «É a gozar.»
Um trabalhador do chá em Moulvibazar acusou «a maioria dos líderes sindicais do chá de estar envolvida em corrupção». «São demasiado poderosos para que os trabalhadores protestem contra a sua decisão», advertiu.
Outra acusação comum é a de que dirigentes sindicais estão envolvidos com a Liga Awami (no poder) e defendem os interesses do governo. O People’s Report confrontou um dirigente sindical no distrito de Habiganj, que admitiu que várias responsáveis no sindicato dos trabalhadores do chá «estão metidos na política local», mas recusando a acusação de que «estejam a velar pelos interesses dos donos das plantações ou do governo». «Isso é propaganda da oposição. Nós não fazemos isso», disse.
De acordo com a fonte, a recolha do chá emprega mais de 150 mil trabalhadores em cerca de 250 plantações em sete distritos do Bangladesh: Moulvibazar, Habiganj, Sylhet, Chittagong, Rangamati, Panchagarh e Thakurgaon.
A mais recente luta destes trabalhadores começou com uma greve de duas horas no dia 9 de Agosto. Quatro dias depois, sem respostas, os trabalhadores declararam uma greve por tempo indeterminado, que envolveu bloqueios de estradas e ferrovias.
Numa primeira reunião com o governo, celebrada a 20 de Agosto, foi afirmada a decisão de aumentar os salários de 120 para 145 takas (1,5 euro), mas os trabalhadores recusaram este aumento, exigindo que o seu salário diário passasse para mais de 3 euros.
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