|Uruguai

Em Montevideu, uma multidão disse «não» à reforma das pensões

No âmbito da jornada de greve e mobilização convocada pela central PIT-CNT, milhares de pessoas mobilizaram-se em Montevideu contra a reforma das pensões e segurança social defendida pelo governo.

Milhares de pessoas manifestaram-se esta quinta-feira, 23 de Março, em Montevideu contra o projecto de reforma das pensões que o executivo uruguaio pretende levar por diante 
Créditos / pitcnt.uy

Uma multidão marchou, esta quinta-feira, entre a Universidade da República (Udelar) e o Palácio Legislativo, na capital uruguaia, para denunciar o projecto do governo de Lacalle Pou, que está a ser discutido por uma comissão e que, afirma a PIT-CNT, «pretende unicamente que os trabalhadores assumam os custos da reforma, trabalhando mais anos e recebendo menos».

Marcelo Abdala, presidente da PIT-CNT (Plenário Intersindical dos Trabalhadores – Convenção Nacional dos Trabalhadores), criticou o projecto do governo neoliberal e assumiu como objectivo que não seja submetido a votação durante a actual legislatura.

«Entendemos que é uma reforma que aumenta a idade da reforma, aumenta [...) os anos de trabalho e, para camadas massivas da população trabalhadora, gera menos direitos, menos reformas», denunciou o dirigente sindical, citado pela TeleSur.

Abdala destacou ainda a importância da Segurança Social, afirmando que «tem a ver com direitos desde que se é criança até se morrer; tem a ver com a protecção na deficiência, o subsídio de desemprego, os mecanismos de protecção social numa sociedade que é cada vez mais desigualitária».

pitcnt.uy

Também frente ao Palácio Legislativo, Lucía Padula, em representação da Intersocial (que integra vários movimentos), acusou o executivo de ferir, com esta proposta, as camadas mais vulneráveis da sociedade.

Em seu entender, serão os jovens os mais prejudicados com as alterações ao regime das pensões, «pois serão obrigados a trabalhar mais anos para ter uma reforma mais pequena».

«Os trabalhadores não estão dispostos a trabalhar mais para receber menos»

Numa tribuna instalada frente ao Parlamento, o responsável de Organização da PIT-CNT, Enrique Méndez, afirmou que a reforma das pensões é uma «síntese brutal» do processo de austeridade levado a cabo pelo actual governo, «para continuar a atingir as camadas mais vulneráveis e populares da nossa sociedade».

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Reforma das pensões ataca direitos conquistados por trabalhadores uruguaios

Por iniciativa da central PIT-CNT, realizou-se uma paralisação parcial de quatro horas e milhares de pessoas mobilizaram-se em Montevideu contra a reforma das pensões defendida pelo governo.

Créditos / pitcnt.uy

Estruturas sindicais integradas na Mesa Representativa da PIT-CNT aderiram à jornada de paralisação e protesto contra o novo projecto de Segurança Social, e mobilizaram-se, esta terça-feira, até ao Palácio Legislativo, onde uma comissão especial do Senado estuda a iniciativa do governo de Lacalle Pou.

Nos últimos tempos, a PIT-CNT tem estado a realizar actividades pelo país sul-americano para passar a mensagem do movimento sindical contra esta reforma e alertar para o actual contexto socioeconómico, em que, afirma, há desvalorização de salários e pensões, e mais pobreza, com mais pessoas a recorrer a refeitórios populares.

Uma reforma que «quer roubar direitos e futuro»

A intervenção principal, frente ao Parlamento, coube a Marcelo Abdala, presidente da central sindical PIT-CNT (Plenário Intersindical dos Trabalhadores – Convenção Nacional dos Trabalhadores).

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Falando para a multidão, o dirigente sindical denunciou o actual projecto de reforma da Segurança Social, porque tem como única premissa «recair nas costas dos trabalhadores», e apelou ao fim dos fundos privados de pensões, porque, defendeu, «não têm a ver com segurança social, mas com lucro».

Para Abdala, a mobilização «massiva» levada a cabo pelo movimento sindical uruguaio deu expressão à luta pelos direitos das actuais gerações de trabalhadores e das futuras, das que «ainda não nasceram e às quais esta reforma das pensões quer roubar direitos e futuro».

O projecto apresentado pelo executivo de Lacalle Pou é «aberrante» e, «se fosse sincero, diria: "proponho que trabalhes mais e que ganhes menos"», denunciou o dirigente da PIT-CNT, sublinhando que a «Segurança social nunca pode ser encarada como um custo».

Um governo que não toca nos privilégios de uns quantos

Tendo pela frente um mar de bandeiras, faixas e cartazes reivindicativos de múltiplos sindicatos, iluminados pela luz da Primavera que corre para o Verão austral, Marcelo Abdala afirmou que os mais ricos e poderosos – os chamados malla oro – têm de contribuir mais, acrescentando que, como o governo «não está disposto a tocar nos privilégios de uns quantos, para os quais governa, é óbvio que este projecto viola de forma radical os direitos conquistados pelos trabalhadores».

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Fá-lo – disse – aumentando a idade da reforma para todos os que nasceram desde 1973, atentando contra a promoção do emprego juvenil, diminuindo de forma substancial a pensão de reforma que os trabalhadores vão receber, lê-se no portal da PIT-CNT.

Neste sentido, Marcelo Abdala considerou que «estão a ir ao bolso dos trabalhadores», tendo ainda enfatizado os deméritos de um projecto que não traz nada de positivo para o sistema de cuidados aos mais idosos e às pessoas com deficiência, nem reforça a participação das mulheres trabalhadoras no mundo laboral, antes pelo contrário.

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Sublinhando que a Segurança Social foi uma conquista dos trabalhadores, Méndez disse que o projecto de reforma do governo nasceu sem o apoio popular e que a multidão ali presente era a evidência de que a luta contra «a reforma brutal e criminosa» vai prosseguir.

O dirigente sindical não se opôs a uma reforma das pensões e da Segurança Social, mas destacou que ela tem de nascer do diálogo, «algo que nunca existiu no Uruguai», e nunca de costas voltadas para o povo e os trabalhadores, procurando que sejam estes a pagar os custos.

Segundo revela a PIT-CNT, Méndez insistiu que a reforma não seja votada nesta legislatura e avisou que, se for aprovada, então haverá consequências nas ruas, porque «os trabalhadores não estão dispostos a trabalhar mais para receber menos».

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