«Os nossos trabalhadores em Faro passam grandes dificuldades. Nós temos trabalhadores que tiveram que viver dentro de carros durante alguns meses, auferiam à volta de 350, 400, 500 euros a operarem durante um mês. Quase todos os nossos trabalhadores de Faro têm que ter um segundo ou um terceiro trabalho», disse Ana Dias, directora do SNPVAC, esta quarta-feira, na Comissão Parlamentar de Trabalho, Segurança Social e Inclusão.
Segundo a responsável, estes trabalhadores estão a trabalhar como condutores de TVDE durante a noite e trabalham para a companhia aérea durante o dia, «cansados», podendo assim «comprometer, também, a segurança do voo».
«São situações muito dramáticas que se vivem em Faro», vincou Ana Dias, realçando que, a par da questão legal, esta é uma questão social, e que «temos que eliminar por completo esse tipo de contratos».
A imprensa nacional (e a internacional) notícia o caos nos Aeroportos. A maior patronal europeia do sector, a Airlines for Europe, antevê um verão de «caos e longas filas nos aeroportos». As explicações são rápidas: (1) a recuperação dos índices pré-Covid foi mais rápida que o previsto e (2) faltam trabalhadores no sector, e já não há tempo de formar e contratar. A EasyJet anuncia o corte de milhares de voos este Verão, quatro mil já este mês de Junho. E aponta como causa a falta de tripulantes na empresa e de funcionários nas estruturas aeroportuárias. Perante um problema que se agiganta e torna incontornável, os principais responsáveis pelo problema tratam de distrair a opinião pública, de desviar as atenções das suas próprias responsabilidades. A recuperação dos índices pré-Covid foi mais rápida do que o previsto apenas porque se usaram sempre os cenários mais pessimistas. E usaram-se os cenários mais pessimistas porque eram estes que facilitavam o objectivo de aproveitar a crise para impor um corte salarial sério no sector da aviação, para despedir milhões de trabalhadores, para degradar as condições de trabalho, para reestruturar empresas e sectores. É a própria Comissão Europeia que estima uma redução de 7 milhões de postos de trabalho no sector aéreo na sequência da crise gerada pela pandemia. As companhias receberam mais de 300 mil milhões de euros de apoios públicos para evitar o colapso do sector, mas também aproveitaram para reestruturar e para despedir, umas vezes por moto próprio, noutras ocasiões empurradas pelas instituições públicas, como aconteceu à TAP. Em Portugal esta questão ficou bem registada na oposição do PCP ao plano de reestruturação da TAP e da Sociedade Portuguesa de Handling (SPDH), e às medidas da ANA, apesar dessa discussão ter sido menos pública. Recordemos que na altura o PCP insistia na necessidade de um «plano de contingência» que amparasse o sector num momento de paralisação da sua actividade por efeito de uma pandemia global, mas que garantisse que o sector estava em condições de arrancar em pleno assim que essas condições fossem vencidas. Mas o Governo PS, a Comissão Europeia, o PSD e quejandos preferiram o caminho da reestruturação, da liquidação de empregos, da redução salarial, da externalização de funções. As mesmas forças defensoras do capitalismo liberal operaram no mesmo sentido em vários outros países europeus. Agora, os mesmos que trataram de despedir 7 milhões de trabalhadores, que cortaram os salários a muitos milhões de outros, que entregaram ainda mais sectores à subcontratação, que reduziram o número de efectivos na administração pública, clamam indignados contra a falta de trabalhadores. Quando a única responsabilidade que pode ser endossada aos trabalhadores é de não terem conseguido travar – pela luta, não há outra forma – aqueles que aproveitaram a pandemia para aumentar a taxa de exploração no sector aéreo. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Opinião|
Regressam as reestruturações boomerang na aviação civil
Contribui para uma boa ideia
O SNPVAC reivindica aumentos salariais, uma vez que os salários «não estão ajustados nem ao custo de vida em Portugal, nem àquilo que se pratica no mercado da aviação aqui em Portugal, e muito menos quando comparados com os nossos colegas lá fora», afirmou Ana Dias, apontando que um colega francês ou alemão «aufere mais 90%» do que um trabalhador português na easyJet em Portugal.
O sindicato diz que os trabalhadores da easyJet em Portugal recebem cerca de menos 60%, em média, do que os restantes trabalhadores da empresa na Europa e reclama «um aumento que, pelo menos, acompanhe o crescimento da easyJet aqui em Portugal».
Ana Dias registou ainda que a companhia aérea é «líder no mercado europeu» em algumas rotas, nomeadamente nas ligações com Reino Unido, França e Luxemburgo, e recordou que adquiriu vários slots que pertenciam à TAP e que foram distribuídos no seguimento da reestruturação e os ganhos no espaço no Terminal 1 do aeroporto de Lisboa.
«A companhia continua a não assumir essa responsabilidade e a tratar os trabalhadores portugueses como trabalhadores de segunda», acusou a sindicalista.
Contribui para uma boa ideia
Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.
O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.
Contribui aqui