«Com grandes fogos ainda a lavrar, o rasto de destruição, cuja dimensão não é ainda totalmente previsível ou mensurável, já é bem visível em muitas localidades rurais: vidas humanas perdidas, habitações destruídas, floresta, baldios, biodiversidade, culturas permanentes e temporárias, explorações pecuárias, animais, alfaias e maquinaria atingidos», é esta a caracterização que a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) faz em comunicado da actual situação com que o país está confrontado.
Neste seguimento, a organização de agricultores reafirma a necessidade de implementação de medidas a médio e longo prazos, assim como a mobilização de meios para o rápido
apuramento dos prejuízos e da incapacidade temporária para produzir. A celeridade prende-se,com a necessidade de implementação de apoios financeiros aos pequenos e médios agricultores afectados pela perda de rendimentos e ajudas à alimentação dos animais no caso da destruição de pastagens e outras.
A CNA insta ainda que o Governo, em colaboração com autarquias e produtores florestais, deve promover a criação de Parques de Recepção e Comercialização das Madeiras salvas dos incêndios, estabelecendo preços mínimos, por forma a conseguir algum rendimento aos pequenos e médios produtores afectados e para limpar as matas e proteger o ambiente e recursos como a água e os solos.
De igual forma, é exigida «coragem política para implementar medidas que assegurem transparência na cadeia agro-florestal e o aumento do preço das madeiras na produção, factor estruturante da maior importância para a floresta nacional e atractivo para os pequenos e médios produtores florestais».
No entender da Confederação, no campo do Ordenamento Florestal a prioridade, segundo a mesma, deve ser dada «aos apoios adequados para a floresta multifuncional, não-intensiva ou monocultura», uma vez que os recentes incêndios «evidenciam reiterados erros e omissões graves no que respeita à política agro-florestal levada a cabo por sucessivos Governos».
A própria CNA que relembra que nestes contextos, os pequenos e médios proprietários são vendidos como «expiatórios da culpa dos incêndios», sendo posteriormente «forçados a limpezas caríssimas que consomem grande parte dos seus parcos rendimentos».
À semelhança do que acontece com a produção agro-pecuária, os sucessivos Governos têm deliberadamente fechado os olhos perante os monopólios esmagadores dos preços à produção agrícola e florestal. Se num lado mandam as grandes superfícies comerciais,
na floresta os preços são ditados pelas grandes indústrias da celulose, derivados da madeira e da cortiça, circunstância que muito contribui para a perda de interesse económico na floresta e na sua gestão activa.
Para os agricultores, as razões que estão na origem dos repetidos e extensos incêndios radicam na ruína da Agricultura Familiar, promovida décadas e décadas a fio por sucessivos Governos e pela União Europeia, através da Política Agrícola Comum.
Como tal, o comunicado termina com a exigência «que o Orçamento do Estado para 2025 preveja a adopção de políticas agro-rurais e florestais promotoras das pequenas e médias explorações familiares, que conjugam mosaicos vivos de agricultura, pecuária e floresta multifuncional, servindo de tampão à progressão dos extensos e violentos incêndios».
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