Nas observações lidas esta segunda-feira em seu nome, numa conferência do Cairo destinada a aumentar a ajuda humanitária à Faixa de Gaza, o secretário-geral das Nações Unidas instou a comunidade internacional a «construir uma base para a paz sustentável em Gaza e em todo o Médio Oriente».
António Guterres descreveu a situação no território como «terrível e apocalíptica», e sublinhou que as condições que os palestinianos enfrentam na Faixa de Gaza podem constituir «os mais graves crimes internacionais».
Guterres destacou o impacto devastador da guerra e a necessidade urgente de acção internacional: «A subnutrição é galopante… A fome é iminente. Entretanto, o sistema de saúde entrou em colapso», observou, citado pela Al Jazeera.
A Faixa de Gaza tem agora «o maior número de crianças amputadas per capita em qualquer parte do mundo», com «muitas a perderem membros e a serem submetidas a cirurgias sem sequer serem anestesiadas», acrescentou o responsável da ONU.
No texto lido em seu nome, o secretário-geral das Nações Unidas também criticou as restricções severas impostas pelo ocupante à entrega de ajuda, considerando que os níveis actuais são «bastante insuficientes».
Em seu entender, o bloqueio da ajuda «não é uma crise logística», mas antes «uma crise de vontade política e de respeito pelos princípios fundamentais do direito internacional humanitário».
Dois meses de cerco israelita ao Norte de Gaza
Em comunicado, as autoridades do território palestiniano assinalaram os dois meses da ofensiva sionista contra o Norte do enclave, referindo, no seu canal de Telegram, que os ataques aéreos, por mar e terra provocaram pelo menos 3700 mortos e desaparecidos.
No mesmo período, no contexto da ofensiva, cerca de dez mil pessoas ficaram feridas e 1750 foram detidas, refere o texto do gabinete de imprensa, que destaca igualmente a destruição de sectores vitais.
A destruição de infra-estruturas de saúde, de redes viárias, de água e saneamento exacerbou a crise humanitária no Norte do território, transformando a região numa zona de desastre «em todo o sentido da palavra», refere a nota.
Bombardeamentos israelitas prosseguem
A ofensiva israelita desde Outubro de 2023, descrita como operação genocida ou de limpeza étnica, continua a provocar a morte a dezenas de civis palestinianos diariamente na Faixa de Gaza.
Ontem à noite, a agência Wafa dava conta de pelo menos três dezenas de mortos ao longo do dia, como resultado de ataques em vários pontos do enclave, nomeadamente em Jabalia, na Cidade de Gaza e arredores, e nos campos de Nuseirat e Bureij (na região central).
No dia anterior, as autoridades de saúde registaram pelo menos 37 mortos e 108 feridos, como consequência de vários massacres perpetrados pelo ocupante. Desde 7 de Outubro de 2023, o número de mortos subiu para 44 466 e o de feridos para 105 358, sendo a maioria das vítimas mulheres e crianças.
Milhares de mortos continuam sob os escombros ou espalhados pelas estradas, uma vez que os ataques incessantes das forças de ocupação impedem as ambulâncias e equipas de protecção civil de resgatar os seus corpos.
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