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Falta de comboios na Fertagus resolve-se com entrega da operação à CP

É a posição da União dos Sindicatos de Setúbal face à possibilidade de o Governo deslocar comboios da CP para a Fertagus, concessionada ao grupo Barraqueiro. Trabalhadores da CP ficaram «revoltados». 

O contrato de concessão entre o Estado e a Fertagus foi publicado em 2005
CréditosJcornelius / CC BY-SA 3.0

O primeiro-ministro, Luís Montenegro, assumiu esta quarta-feira no Parlamento que Portugal precisa de mais composições e de maior operacionalidade na linha ferroviária de Setúbal explorada pela Fertagus, admitindo direccionar composições da CP para esta linha. Num comunicado, a União dos Sindicatos de Setúbal (USS/CGTP-IN) defende que a falta de comboios na Fertagus não se resolve com ir buscá-los à CP, mas antes com a entrega do comboio da Ponte 25 de Abril à empresa pública. 

«Queremos com isto dizer que quando o Governo do PSD/CDS se prepara para disponibilizar à Fertagus (empresa de gestão privada que presta um serviço público), material circulante por via da CP (empresa pública), está a beneficiar não só o operador privado Fertagus, como também está a prejudicar a empresa pública CP», lê-se na nota.

Acrescenta que, o que «deve ser realizado» é a integração do serviço na CP, «de modo a que a empresa pública garanta a oferta da Fertagus», salientando que «existe capacidade de gestão do material circulante de forma a corresponder à oferta e a satisfazer o serviço», mas falta vontade política.

«Não há comboios encostados»

Também a Comissão de Trabalhadores da CP reagiu à eventual cedência de carruagens à Fertagus, assegurando que «não há comboios encostados» e que a possibilidade avançada por Luís Montenegro causou uma «revolta generalizada em todos os trabalhadores» da empresa. Aos microfones da TSF, a porta-voz da Comissão de Trabalhadores da CP afirmou que a empresa tem estado, inclusive, a recuperar comboios porque precisa deles para cumprir o contrato de serviço público. 

«Isto é intolerável», criticou, «porque nós acabámos, há cerca de duas ou três semanas, um investimento da inovação dessas unidades no valor de mais de 17 milhões de euros. Portanto, agora que as unidades estão um brinquinho para ir para o serviço, são retiradas à CP». Ao mesmo tempo, defende que «não é admissível que uma empresa que tenha um contrato de prestação de serviço público com o Estado, como é o caso da Fertagus, vá buscar meios de produção a outra empresa para cumprir o seu contrato».

A travessia da Ponte 25 de Abril foi concessionada à Fertagus, do grupo Barraqueiro, há 25 anos, com o Estado a garantir ao privado os comboios, a infra-estrutura, a gestão das estações, que recusou à CP, e, entre outros privilégios, o direito a manter o serviço fora do passe social durante 20 anos, cobrando o dobro do preço da CP. 

No final do ano passado, o Governo entendeu prorrogar o período de concessão em seis anos e seis meses (até Março de 2031) com o argumento de compensar as alegadas perdas no período da pandemia, informação que os seus Relatórios e Contas da empresa desmentem.

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