Palestina vencerá, mas é de sofrimento e heroicidade que se cantam os seus hinos de resistência.

Palestina, Canto e Luta!

Há 70 anos, neste dia de 29 de Novembro, a ONU declarava unilateralmente e sem consulta popular, a instauração do Estado de Israel no território da Palestina, decretando assim a divisão daquele território árabe entre um Estado Árabe e um Estado judaico.

Crianças refugiadas brincam nos destroços de um carro no campo Khan Younis, Faixa de Gaza, Palestina
CréditosMohammed Saber / Agência Lusa

A recusa do povo Árabe desta ocupação administrativa levou a que desde aquele ano de 1947 o território histórico da Palestina se tenha transformado num palco de guerras, de violações de direitos e de promessas nunca cumpridas por parte das potências ocidentais e da ONU, assim como a transformação do povo palestiniano num povo refugiado e ocupado na sua própria terra.

É urgente, nestes 70 anos da ocupação vergonhosa da Palestina e da dívida histórica da ONU para com o seu povo martirizado, afirmar a solidariedade com a luta heróica do povo palestiniano e cantar as suas dores, as suas mortes e desmascarar a cumplicidade sangrenta do Ocidente com Israel, que nos territórios ocupados mantém até hoje um apartheid criminoso e anacrónico. Palestina vencerá, mas é de sofrimento e heroicidade que se cantam os seus hinos de resistência.

O poeta dub Benjamin Zephaniah transforma as palavras em balas libertadoras da causa palestiniana no seu disco de 1995, «Back to The Roots». Um poeta, escritor, compositor e cantor britânico, Benjamin Zephaniah é um apoiante da causa palestiniana e desde sempre envolvido na luta pelo reconhecimento do Estado da Palestina, das suas fronteiras históricas e da aplicação de sanções a Israel.

Figura central da cultura de resistência árabe e da unidade em defesa da causa palestina, o que o chegou a levar às prisões egípcias de Nasser e Sadat, o cantor cego Sheik Iman Isa é um símbolo do compromisso com a luta da independência do povo irmão da Palestina.

Reza a história que quando Yasser Arafat visitou o Egipto em 1968, uma das suas principais exigências foi conhecer pessoalmente o autor de «Ya Flastiniyyeh».

Iqrit é uma aldeia cristã do Norte da Galileia, junto à fronteira com o Líbano, cuja população foi expulsa em 1948 com a invasão militar de Israel e a promessa vã de que poderiam voltar dentro de semanas.

Nunca mais puderam voltar e passaram a ser refugiados para sempre, vagueando como fantasmas entre os países árabes vizinhos. «Iqrit Files» é o nome do disco do grupo militante Checkpoint 303 e conta com a voz profunda de Jawaher Shofani a interpretar canções tradicionais da Palestina, cortadas por electrónica e discursos políticos alusivos à causa da Palestina.

O canto pungente de Shofani, rasga a paisagem de silêncio e faz estremecer os que não desistem da luta pela justiça e liberdade.

Do Líbano, o músico Marcel Khalife estabeleceu nas década de 70 e 80 um importante trabalho através dos escritos do poeta palestiniano Mahmoud Darwish, num esforço de resistência, pela preservação da identidade e da cultura do povo mártir da Palestina. Passport, de 1976, descreve a luta diária contra o esquecimento de um povo condenado ao exílio.

Kofia foi um grupo sueco e árabe de refugiados residentes em Gotemburgo, na Suécia, que durante a década de 70 compôs alguns dos hinos mais fortes da luta internacional pela libertação da Palestina. «Viva a Palestina, Esmaga o Sionismo, libertemos a nossa terra do imperialismo» é a mensagem forte e clara deste hino da luta do povo palestiniano.

Por fim, vibramos com a música tradicional de Mohammad Assaf cujo título afirma orgulhosamente «O meu sangue é Palestiniano». Dabke é o nome da música e da dança (significa «bater com os pés») do folclore da zona do Levante, que abarca a Palestina, o Líbano, a grande Síria.

Na antiga Palestina, ao contrário do mito sionista de que os territórios ocupados eram pouco mais que desertos, antes da ocupação fervilhava uma cultura dinâmica e diversa, livre da opressão e do fundamentalismo de tantas ditaduras árabes aliadas do Ocidente. 

É na cultura, nas danças e na música, mesmo debaixo de ocupação militar, que se lançam as sementes do futuro e que se preserva a identidade única de um povo que luta por ser livre na sua própria pátria.

Por isso mesmo, e porque é justa a sua luta, sabemos que a Palestina vencerá!

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