O psicanalista nova-iorquino Herbert J. Freudenberger denominou de síndrome de burnout «(…) um estado de esgotamento físico e mental cuja causa está intimamente ligada à vida profissional».
Um estudo da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM) centrado na problemática da síndrome, que decorreu entre Janeiro e Dezembro de 2015, concluiu que 18,7% dos médicos trabalha mais de 60 horas por semana.
O estudo, que abrangeu 1577 médicos (20% do total de médicos inscritos na secção), refere que 15,9% dos inquiridos trabalha 60 a 80 horas por semana, 2,8% mais de 80 horas e 53,2% entre 40 a 60 horas, sendo que mais de metade dos profissionais que participou no estudo faz serviço de urgência.
Os médicos que trabalham mais de 40 horas e os profissionais que realizam trabalho nocturno e serviço de urgência apresentaram níveis mais elevados de exaustão emocional, uma das dimensões da síndrome de burnout.
A pressão para uma «produção desenfreada de dados médicos», o «excesso de burocratização do Serviço Nacional de Saúde», a sua desorganização, a falta de «meios complementares de diagnóstico, de meios farmacológicos e de recursos humanos», bem como as «disfuncionalidades dos sistemas informáticos» vêm dificultar o trabalho dos médicos e potenciar situações de burnout, sublinhou o presidente da SRCOM, Carlos Cortes.
Segundo Carlos Cortes, a carga horária e de trabalho a que os médicos estão sujeitos têm uma «implicação imediata», considerando que o facto de haver quase 20% dos médicos a trabalhar mais de 60 horas é «um dado que tem de obrigar o Ministério da Saúde a reflectir», e alertando que o estudo vem «mostrar à tutela que tem responsabilidade».
Para o responsável da SRCOM, o fenómeno do burnout foi amplificado com a crise económica.
O estudo alerta para o facto de 40,5% dos médicos apresentarem sinais de exaustão emocional. Um quarto dos médicos atingiram pontuação elevada na escala de depressão, 17,1% apresentaram despersonalização (atitudes negativas, cinismo, insensibilidade e irritação), 16,5% revelaram níveis elevados na escala de ansiedade, 16,4% na escala stress e 25,4% na de «não realização profissional».
Carlos Cortes considerou que, «se não houver uma reversão muito rápida», promovida pela própria tutela, poderão surgir «situações muito gravosas», que afectam a própria qualidade e eficiência do serviço prestado nos hospitais e centros de saúde do país.
Este estudo é divulgado num contexto em que está muito presente a discussão do horário de trabalho, nomeadamente das 35 horas de trabalho semanal.
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