Os voos irregulares com destino ao arquipélago ocupado à força pela Grã-Bretanha em 1833 ocorreram entre 27 e 30 de Julho último e foram detectados pelo Comando Aeroespacial de Merlo, através do radar táctico RPA-170M, instalado na Terra do Fogo, a província mais meridional da Argentina.
Segundo apurou o diário Página 12, os voos detectados não tinham plano de voo, autorização de travessia do espaço aéreo argentino ou comunicação oficial com as agências de controlo no país austral.
O governador de Terra do Fogo e Ilhas do Atlântico Sul, Gustavo Melella, classificou o facto como «extremamente grave» e confirmou que o governo da província activou «todos os protocolos que este tipo de acções merecem» para confirmar a veracidade da informação.
Caso se confirme, acrescentou, a sua administração vai requerer que se «actue com a maior firmeza e contundência» para que «as nossas Forças Armadas garantam de forma completa e eficiente o cumprimento dos fins que persegue a nossa Lei de Defesa Nacional».
O Ministério da Defesa comunicou o facto ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, cujos funcionários analisam a via diplomática a seguir perante o governo de Gabriel Boric.
Queixas anteriores com o Chile e o Brasil
Não é a primeira vez que a Argentina detecta voos irregulares com destino às Ilhas Malvinas, cuja soberania o governo argentino reclama junto das autoridades britânicas.
O Reino Unido recusa-se a negociar, promovendo uma política de facto consumado e violando o Direito Internacional, sendo que existem várias resoluções das Nações Unidas que reconhecem a soberania da Argentina sobre o arquipélago austral.
Em Junho último, o presidente argentino, Alberto Fernández, voltou a insistir junto das autoridades britânicas na necessidade de se regressar à mesa de negociações, mas Londres recusa-se a abandonar um ponto geoestratégico importante no Atlântico Sul, cujos recursos naturais explora.
No que respeita ao Chile, durante os governos de direita de Sebastián Piñera (2010-2014 e 2018-2022), a Argentina apresentou queixas pelo eventual apoio logístico aos voos militares britânicos.
Em Fevereiro último, ocorreu o mesmo com o Brasil, com os argentinos a protestarem contra o governo de Jair Bolsonaro por permitir a utilização de aeroportos do seu país a aviões britânicos que seguiam para as Ilhas Malvinas.
Activação dos alertas pertinentes
A única companhia aérea que tem voos autorizados para as Malvinas é a Latam, que parte da capital chilena, Santiago, faz escala em Punta Arenas e aterra em Port Stanley (Puerto Argentino, segundo a designação argentina), informa o Página 12.
Estes voos, explica a fonte, realizam-se quatro vezes por mês desde Junho, depois de terem sido cancelados durante o período de restricções associadas à pandemia.
«É fundamental no século XXI, e mais ainda numa região como a nossa, onde se conjugam interesses geopolíticos de diversas potências, e tendo em conta os acontecimentos que estão a ocorrer em várias partes do mundo», que se activem os alertas pertinentes, disse o governador da província.
No final de Junho, Guillermo Carmona, titular da Secretaria das Malvinas, Antártida e Atlântico Sul do Ministério argentino dos Negócios Estrangeiros, disse que o seu país, ao contrário do primeiro-ministro Boris Jonhson (demitiu-se a 7 de Julho), «aposta na paz, no fim do colonialismo e no respeito pelo Direito Internacional».
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