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Moção de Censura em França: Macron foi buscar lã e está a voltar tosquiado

De forma a manter a estabilidade  dos interesses dos grandes capitalistas, Emmanuel Macron ignorou os resultados das eleições legislativas, protelou a decisão de indigitar o Governo e estabeleceu acordos com a extrema-direita. O responsável tem nome. 

CréditosAndre Pain / EPA

O Governo de Michel Barnier foi abaixo. A moção de censura, a primeira aprovada desde o governo de Georges Pompidou em 1962, foi apresentada pela França Insubmissa, força que integra a Nova Frente Popular.  

A censura ao Governo aconteceu depois do Orçamento para 2025 ter sido chumbado, precisamente pelos Republicanos, a força governativa que alcançou somente 5% nas eleições legislativas, e a restante direita, que alegou que a Nova Frente Popular tinha desvirtuado o documento inicial. 

Não se dando feliz pela incapacidade de governar, Barnier, que não tem maioria na Assembleia Nacional, activou o artigo 49.3 da Constituição francesa para aprovar, sem votação, o seu plano de Segurança Social para o próximo ano, que visava ataques a esta.

Esta foi a gota de água para a esquerda. Já não bastava o facto do presidente Emmanuel Macron ter nomeado para o Governo um primeiro-ministro de um partido que tinha tido apenas 6,57% na primeira volta das eleições legislativas, numa manobra para não indigitar a Nova Frente Popular, vencedora das eleições, Michel Barnier procurou contornar o parlamento para aprovar aquilo que quis. 

A moção de censura aprovada ontem foi a segunda apresentada pela coligação de esquerda. A primeira, apresentada logo após Barnier ter tomado posse e o Governo constituído, foi rejeitada com os votos de Juntos pela República e o Reagrupamento Nacional, este último na salvaguarda do sistema que tanto criticam.

Ontem, a extrema-direita optou por trair a palavra dada a Macron e votou a favor da moção apresentada, fazendo com que o Governo caísse. Importa relembrar que o presidente francês não pode convocar novas eleições até Junho de 2025 e, apesar do facto da situação de crise política ter sido criada por ele, Marine Le Pen não pede a demissão de Emmanuel Macron e ressalva que ele deve respeitar as forças políticas. Dado o precedente aberto com a indigitação de Barnier, a extrema-direita pode querer assaltar o poder e por essa razão não avançam no ataque à figura presidencial.

Em comunicado o PCF afirmou que a situação criada «é a consequência lógica da escolha irresponsável do Presidente da República e do primeiro-ministro de trazer um orçamento contra o mundo do trabalho e as categorias populares, um orçamento que prossegue uma política massivamente rejeitada pelo país de continuar a servir rendimentos elevados e rendimentos de capital». A par disto, os comunistas defendem «tomada de medidas de emergência fortes e essenciais», como «a revogação da reforma previdenciária» ou o aumento de salários e pensões.

Já a França Insubmissa que já havia lançado uma petição para a destituição de Macron, que já conta com 381 594 assinaturas, reafirma esta linha. Mathilde Panot disse: «este evento histórico é um sinal poderoso: não importa o que aconteça, as pessoas podem mudar o curso da história. Agora, Macron deve ir». De acordo com o Le Monde, a Nova Frente Popular votará contra qualquer nome apresentado por Macron. 

Quem já apresentou a sua demissão foi Michel Barnier. A informação foi avançada pelo gabinete da Presidência, que deu nota de que Emmanuel Macron tinha «tomado nota» da decisão do primeiro-ministro. O presidente francês falará hoje às 20h locais, 19h em Portugal.  
 

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