A Marcha Kisan Mukti juntou esta quinta-feira – primeiro dos dois dias de mobilização anunciados na capital do país – mais de 15 mil agricultores vindos de toda a Índia, segundo referiu à imprensa Vijoo Krishnan, membro do Comité Central do Partido Comunista da Índia (Marxista) e dirigente da sua frente camponesa, a AIKS, que convocou o protesto.
De acordo com o Mumbai Mirror, ontem o Comité de Coordenação da AIKS, que abrange mais de 200 sindicatos e organizações de agricultores indianos, dirigiu missivas ao primeiro-ministro, Narendra Modi, e a representantes de todos os partidos políticos, convidando-os a participar no protesto e a tomar medidas concretas para resolver os problemas dos agricultores.
Entre outras questões, os manifestantes, que hoje marcharam em direcção ao Parlamento, exigem que seja convocada uma sessão especial na assembleia nacional para debater e aprovar duas propostas de lei sobre a libertação das dívidas contraídas pelos agricultores e sobre preços à produção garantidos.
Isto mesmo foi dito por Vijoo Krishnan, que sublinhou «a unidade na luta» crescente, nos últimos quatro anos, dos agricultores indianos, que se debatem com dívidas decorrentes da aquisição de terras e do investimento na produção, e não lhes conseguem fazer frente, devido aos elevados custos à produção, a anos de más colheitas e a falta de apoios.
Motiram Wagh, um agricultor de 65 anos que veio de Nasik (estado de Maharashtra) até à capital, lembrou as muitas promessas feitas por Narendra Modi, antes das eleições, para o sector agrícola, mas que, em seu entender estão todas por cumprir: «Fez promessas sobre seguros, preços mais altos, perdão das dívidas, etc., mas não as cumpriu», disse.
Ontem, os agricultores e trabalhadores rurais, provenientes dos estados de Andhra Pradesh, Karnataka, Gujarate, Madhya Pradesh, Maharashtra, Tamil Nadu, Bengala Ocidental, Uttar Pradesh, Bihar, Rajastão, entre outros, sentiram o apoio de muita gente em Déli, na forma de alimentos e bebidas recebidos ou da adesão ao protesto contra o governo de Modi – foi o caso de médicos, artistas, advogados, professores e estudantes universtários.
Transformar o desespero em luta
Kukkudbai, de 63 anos, veio do estado de Madhya Pradesh e, apesar de «sentir dores nas pernas», não pensou em desistir, porque «a marcha serve um propósito maior», disse ao Mumbai Mirror. Sublinhou a participação cada vez maior das mulheres nas actividades agrícolas, na medida em que há cada vez mais homens a sair do campo e a ir para as cidades em busca de empregos mais bem remunerados. «A agricultura só por si não consegue sustentar as famílias nas áreas rurais», disse.
De acordo com o periódico referido, entre 1991 e 2011, quase um 1,5 milhões de agricultores abandonaram a actividade agrícola. Outro dado revelador das dificuldades com que os trabalhadores se deparam no sector é o número de suicídios de agricultores: 300 mil entre 1995 e 2015.
O dirigente sindical Tapan Sen destacou a importância de os trabalhadores agrícolas perceberem, gradualmente, que cometer suicídio não é uma solução e que o melhor é estar na rua e lutar para mudar as políticas actuais.
Comentando a manifestação de hoje, que terá juntado mais 35 mil pessoas em Déli, Sitaram Yechury, secretário-geral do PCI(M), escreveu na sua conta de Twitter que o governo de Modi é o «mais anti-agricultores de sempre» e que, se tem tempo para «tratar dos grandes negócios dos seus compinchas», mantém «um silêncio ensurdecedor sobre os agricultores».
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