|direitos dos trabalhadores

Mudar na forma e não no conteúdo

Numa época em que se agrava o fosso entre ricos e pobres, em que a retribuição do trabalho voltou a perder espaço para a retribuição do capital, o PS negou-se a reduzir e regular o período normal de trabalho.

A luta contra a precariedade tem sido uma marca da acção reivindicativa dos trabalhadores nos últimos anos
Créditos / Abril de Novo Magazine

Não foi por falta de oportunidade ou de propostas que o PS não fez desta «Agenda» uma efectiva «Agenda da dignidade no trabalho». Ao longo de todo o processo de discussão pública, foram enviados largas centenas de contributos provenientes de organizações de trabalhadores. A dissonância entre o conteúdo das propostas e contributos recolhidos e a versão final do texto é tão evidente quanto o foi o falhanço do PS em aproveitar esta oportunidade para introduzir alterações verdadeiramente transformadoras.

A tónica geral dos contributos recebidos incidia: na revogação do regime de sobrevigência e caducidade das convenções colectivas de trabalho; no combate ao abuso da subcontratação (Outsorcing) e ao trabalho temporário – as principais e mais representativas formas de precariedade laboral –, fazendo reflectir o principio de que, para uma actividade permanente deve corresponder um contrato de trabalho sem termo; na revogação do período experimental, de 180 dias, para os jovens à procura de primeiro emprego e desempregados de longa duração, o que agrava a posição – já de si frágil – de sujeição a situações inaceitáveis e exploração laboral; ou a redução do período normal de trabalho, consagrando as 35 horas semanais para todos os trabalhadores. Mas a verdade é que, ao invés da reversão das medidas introduzidas entre 2003 e 2015, o PS mantém o essencial desses regimes, optando por uma operação cosmética de burocratização dos processos, talvez na tentativa de dissuadir algumas entidades patronais, especialmente, do recurso ao trabalho temporário e à denúncia das convenções colectivas de trabalho.

Se, por um lado, o PS introduz uma norma relativa aos algoritmos, inteligência artificial e uma presunção de contrato de trabalho para quem preste actividade através das plataformas digitais, por outro, não faz repercutir, na qualidade do emprego, aquele que poderia constituir o impacto maior no aproveitamento positivo do desenvolvimento científico e tecnológico. Refiro-me à oportunidade perdida de redução do tempo de trabalho, redistribuindo aos trabalhadores uma parte dos avanços conseguidos com o seu próprio trabalho.

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PS mantém corte de direitos laborais

A chamada Agenda do Trabalho Digno fica distante da nomenclatura que enverga. Introduz remendos, mas nega a introdução de normas que representem avanços civilizacionais.

CréditosTiago Petinga / Agência Lusa

As alterações laborais da «Agenda do Trabalho Digno» foram hoje aprovadas em votação final global com os votos favoráveis apenas do PS, a abstenção do PSD, Chega, PAN e Livre, e votos contra do BE, PCP e IL. A proposta do Governo que altera a legislação laboral entrou no Parlamento em Junho, tendo sido aprovada na generalidade em 8 de Julho com votos favoráveis do PS, contra da IL e do PCP, e a abstenção do PSD, Chega, BE, PAN e Livre.

O início da discussão na especialidade arrancou em 29 de Novembro de 2022 e a proposta do Governo foi sofrendo alterações, com a inclusão de algumas iniciativas dos partidos, tendo ficado de fora outras que trabalhadores e sindicatos vêm reivindicando, como a reposição do princípio do tratamento mais favorável aos trabalhadores e a revogação da norma da caducidade da contratação colectiva, chumbadas hoje pelo PS e pelas bancadas da direita, a que se junta a aplicação das 35 horas a todos os trabalhadores, com votação semelhante (o Chega absteve-se). Ou seja, os problemas estruturais que afectam a vida de milhões de trabalhadores não são resolvidos, mantendo-se e, nalguns casos ampliando-se, os instrumentos a que os patrões podem recorrer para impor salários baixos e a precariedade. 

A opção do Governo PS, secundada pelo PSD, IL e Chega, ao deixar de fora a solução para estas reivindicações, significa que se mantêm os principais factores que alimentam a precariedade, os baixos salários e um modelo que não serve os trabalhadores, nem o desenvolvimento do País. Um modelo que permite a acumulação de riqueza para uma minoria, mas que nega melhores condições de trabalho e de vida à larga maioria.

O documento, que o Governo alega servir para melhorar as condições de trabalho e a conciliação entre a vida pessoal e profissional, mantém a norma relativa à presunção da aceitação do despedimento, não repõe os valores pré-troika por trabalho suplementar e por indemnização por despedimento, nem tão pouco introduz limitações à laboração contínua, que obriga cada vez mais trabalhadores ao trabalho por turnos. 

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Para um governo que tem feito das questões da natalidade e da conciliação algumas das bandeiras da sua acção política, é importante aqui dizer que, pelos vistos, nem a dimensão, nem tão-pouco a arrumação do tempo de trabalho, na vida dos trabalhadores, são vistas como variáveis fundamentais na capacidade de conciliação que um trabalhador tem. O governo, em vez de atacar a questão fundamental, ficou-se pelo acessório. O caso da limitação de licenças para a laboração contínua constitui um exemplo pragmático do modus operandi governamental: requerer mais informação e justificação, para no final ficar tudo na mesma e continuarmos a assistir ao aumento exponencial do número de empresas e sectores que obrigam os trabalhadores a acomodar as suas vidas pessoais e familiares aos turnos fixos ou rotativos e ao trabalho nocturno.

Numa época em que se agrava o fosso entre ricos e pobres, em que a retribuição do trabalho voltou a perder espaço para a retribuição do capital, em matéria de distribuição dos resultados da riqueza produzida pelo próprio trabalho, o PS negou-se a reduzir e regular o período normal de trabalho, o que significaria maior justiça na repartição da riqueza produzida, como todos sabemos, pelos trabalhadores.

Não faltaram, também, propostas, quer de organizações sociais, quer de outros partidos, a exigir a revogação dos bancos de horas, dos regimes de adaptabilidade e de outras formas de desregulação dos horários de trabalho. Também, a este respeito, o PS optou por manter, no essencial, o regime que vem de trás e que tão grande dano tem causado aos trabalhadores e às suas famílias. Trabalhadores com horários que alteram quase diariamente, com turnos rotativos que mudam todas as semanas, nunca podendo programar a sua vida com estabilidade, são casos que se multiplicam todos os dias.

No trabalho suplementar, por exemplo, aprovando uma proposta que repõe em níveis anteriores aos da troica, o valor pago à hora, mas apenas após 100 horas prestadas de tempo extra, o governo PS opta assim por fazer o seu normal jogo de cintura, parecendo estar a dar alguma coisa, sem a dar realmente.

«Assim, não basta, portanto, criar condições para que haja mais contratação colectiva; é preciso criar condições para que se negoceie a contratação colectiva certa, aquela que valoriza os direitos dos trabalhadores, que faz progredir as suas condições de trabalho»

Já em matéria de contratação colectiva, a sua actuação pode ser caracterizada através da seguinte metáfora: a caducidade é um poço perigoso não assinalado; em vez de o tapar, o PS decide rodeá-lo de arame farpado; mas entrega ao patronato um alicate de corte para atirar ao poço os direitos dos trabalhadores. O PS cria um mecanismo arbitral para apreciar a denúncia que se adiciona ao mecanismo arbitral para a suspensão da sobrevigência e mediação; cria uma arbitragem necessária para preencher o vazio, caso as partes não se entendam na mediação ou o vazio persista no prazo de 12 meses após a caducidade; nenhum destes mecanismos impede a caducidade da convenção colectiva. No fundo, burocratiza-se ainda mais o processo, mas dá-se sempre a chave do cofre ao que pretende arrombá-lo: o patronato.

Tal é o caso das sucessivas suspensões de publicação dos avisos de caducidade pela DGERT [Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho], a instituição de um sistema de mediação em caso de denúncia «infundada» ou do recurso à arbitragem necessária, que apreciará da validade da denúncia.

Ora, para além das questões de constitucionalidade que se continuam a verificar e que resultam numa total desconsideração do direito de contratação colectiva, atribuído às associações sindicais, o PS continua a dar cobertura a situações em que o patronato acordou um texto na mesa das negociações, mas em que, mais tarde, por oportunismo e ataque aos direitos, decide dar o dito pelo não dito, denunciar e fazer caducar a convenção que antes havia negociado e acordado.

Diversos foram os projectos-lei de diversos partidos (3/XV/1 e 168/XV/1) que propuseram a revogação deste regime, cuja discussão foi também realizada de forma conjunta com a Proposta de Lei, e que o PS não aprovou. Não faltou, portanto, oportunidade para fazer avançar o direito de contratação colectiva e, pelo menos, repor o que já foi um legítimo direito dos trabalhadores portugueses.

Outro falhanço importante reside na manutenção da possibilidade de escolha individual da convenção aplicável, limitando, é certo, o seu âmbito de aplicação, mas mantendo, no essencial, um regime anti-sindical, o qual, injustamente, confere a quem não é sindicalizado direitos que, apenas, são conferidos aos associados dos sindicatos que negoceiam as convenções escolhidas.

Sem compreender ou pretender actuar relativamente a esta situação, o PS vem propor a criação de incentivos no domínio da contratação pública, dos incentivos fiscais ou do acesso a fundos comunitários ou nacionais. Ou seja, a «agenda do trabalho digno» prepara-se para premiar o patronato, simplesmente, por ser outorgante de convenções colectivas, independentemente dos conteúdos que outorga.

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CGTP-IN entregou pareceres contra alterações à legislação laboral

A CGTP-IN foi recebida pela Comissão Parlamentar de Trabalho, Segurança Social e Inclusão, a quem apresentou centenas de pareceres sobre a alteração à legislação laboral enquadrada na suposta «agenda do trabalho digno».

CréditosAntónio Pedro Santos / Agência Lusa

Na AR, a CGTP-IN procedeu à entrega de muitas centenas de pareceres a rejeitar esta proposta de lei, no quadro da auscultação feita aos trabalhadores, em plenários, reuniões de comissões sindicais e órgãos das várias estruturas sindicais de todos os sectores de actividade e de todo o País.

A central sindical rejeita a proposta de lei do Governo, porque, entende, não dá resposta às reivindicações de revogação das normas gravosas da legislação laboral e vem introduzir aspectos que ainda agravam o desequilíbrio das relações laborais, mantendo o essencial de uma legislação que não serve o interesse dos trabalhadores.

A discussão em torno da Agenda do Trabalho Digno realiza-se num quadro de instabilidade e insegurança resultantes da precariedade dos vínculos de trabalho, deterioração da qualidade de vida e a impossibilidade de conciliar vida pessoal e familiar com vida profissional, em resultado da desorganização e desregulação dos horários de trabalho e das exigências de períodos de trabalho cada vez mais longos. Para a Intersindical, a estes problemas, juntam-se ainda os baixos salários, com o bloqueio patronal à negociação da contratação colectiva.

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Manifestação Nacional da CGTP-IN: «Tudo sobe, menos o nosso salário»

Milhares de trabalhadores denunciaram hoje, frente à Assembleia da República, a especulação em torno dos aumentos do custo de vida. Só a exploração explica salários tão baixos, considera a CGTP-IN.

Manifestação Nacional da CGTP-IN: Pelo aumento dos salários e pensões/Contra o aumento do custo de vida e ataque aos direitos. Lisboa, 7 de Julho de 2022 
CréditosPaulo António / AbrilAbril

Em frente aos milhares de trabalhadores que desfilaram até à  Assembleia da República, acorrendo à convocatória da central sindical, Isabel Camarinha, secretária-geral da CGTP-IN, defendeu que a actualidade tem demonstrado que «os direitos, a reposição e conquista de direitos, não são inimigos do crescimento, pelo contrário, são uma alavanca. E não fosse o carácter limitado desse processo de recuperação e conquista de direitos e salários, maior seria o crescimento e desenvolvimento de Portugal».

 José Carlos Pratas

Manifestação Nacional da CGTP-IN, 7 de Julho, Lisboa

Sete rios de multidão desfilaram até à Assembleia da República, por convocatória da CGTP-IN, exigindo o aumento dos salários como medida indispensável para travar a especulação inflacionista.

 José Carlos Pratas.
Créditos
 José Carlos Pratas
Créditos
Créditos José Carlos Pratas
Créditos José Carlos Pratas
Créditos José Carlos Pratas
Créditos José Carlos Pratas
CréditosJosé Carlos Pratas
CréditosJosé Carlos Pratas
CréditosJosé Carlos Pratas
CréditosJosé Carlos Pratas
CréditosJosé Carlos Pratas
CréditosJosé Carlos Pratas
CréditosJosé Carlos Pratas
CréditosJosé Carlos Pratas
CréditosJosé Carlos Pratas
CréditosJosé Carlos Pratas
CréditosJosé Carlos Pratas

Enquanto se realizava a manifestação, a Assembleia da República discutia a interpelação do PCP, que chegou a estar agendada para o dia de ontem, mas devido à discussão da moção de censura foi reagendada para esta quinta-feira. Uma interpelação centrada nas soluções para a defesa do poder de compra e das condições de vida dos trabalhadores e das populações, nomeadamente contra a subida do custo de vida e pelo aumento dos salários e pensões.

Uma legislação laboral mais ao jeito do patrão

Quanto ao projecto do Governo, segundo o qual o PS entende promover «relações de trabalho mais sustentáveis», embora não revogue a caducidade da contratação colectiva, medida imposta pela Troika, nem reponha os regimes de compensação e indemnização por despedimento, é clara a oposição dos trabalhadores.

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Isabel Camarinha: «Enquanto não houver respostas, a luta vai continuar»

À conversa com o AbrilAbril, a secretária-geral da CGTP-IN faz o retrato dos problemas que os trabalhadores enfrentam e das vitórias que já foi possível alcançar. As acções de luta realizadas ao longo do último mês convergem numa manifestação nacional, esta quinta-feira, em Lisboa. 

CréditosEstela Silva / Agência Lusa

A manifestação de amanhã faz convergir as lutas travadas pela CGTP-IN desde a aprovação do Orçamento do Estado (OE) para 2022. Desde então, e como fomos percebendo pela sua agenda, esteve presente em várias iniciativas, de Norte a Sul. Que balanço faz desta acção e que sentimento recolheu junto dos trabalhadores?

Há, de facto, um descontentamento muito profundo que já vinha de trás – não vale a pena estarmos aqui a fazer a história de todos os problemas que temos e que os trabalhadores sentem na degradação das suas condições de vida e de trabalho –, mas o momento que estamos a viver e a falta de soluções está a provocar grande descontentamento nos trabalhadores e a exigência de resposta às suas reivindicações, nomeadamente a questão dos salários. Com este aumento brutal do custo de vida, o aumento dos salários é a questão fundamental, embora haja um conjunto de condições de trabalho e de direitos que estão também a ser atacados, contribuindo assim para o desenvolvimento da luta e para a unidade dos trabalhadores. Iniciámos, de facto, esta acção de luta nacional no dia 27 de Maio, com aquela grande concentração na Assembleia da República, por ocasião da votação do OE, em que colocávamos já toda esta problemática mais geral e a necessidade de resposta, quer do patronato, quer do Governo, à situação de agravamento e acentuar das desigualdades e da pobreza de quem trabalha e trabalhou, porque os reformados e pensionistas também estão a viver momentos de enormíssimas dificuldades. E o que verificámos foi que, com esta nossa acção de luta nacional, houve um desenvolvimento de processos reivindicativos nas empresas, nos locais de trabalho, nos serviços de grande dimensão, com muitas greves, muitas paralisações, centenas de plenários por todo o País. Há acções concretas também à porta de empresas, serviços e associações patronais, a exigir precisamente que haja o desbloqueio da negociação colectiva, que se responda a esta necessidade de repor e melhorar o poder de compra dos trabalhadores e das suas famílias, com uma consciência muito grande de que esse é o caminho para desenvolver o País, porque se continuarmos com este modelo, o que vamos ter é mais dificuldades e assistir a um retrocesso. O que sinto desta minha intervenção, em muitos locais de trabalho em todo o País e em todos os sectores, é exactamente isto: a determinação e unidade dos trabalhadores.

Houve boa adesão? 

As greves que realizámos foram greves com muito grandes adesões dos trabalhadores, incluindo os trabalhadores jovens e, naturalmente, nos sectores com muita mão-de-obra feminina, muitas mulheres. Os jovens, e para muitos esta foi a primeira participação numa acção de luta, estão agora a entender que para conseguir respostas é preciso unir, é preciso intervir, organizar e lutar. Este mês de Junho foi muito cheio desta luta dos trabalhadores nas empresas e locais de trabalho, com esta ideia de agora fazer convergir todo este descontentamento e reivindicação na manifestação nacional de 7 de Julho, com concentração no Marquês de Pombal (Lisboa) e desfile para a Assembleia da República.

O dia coincide com a discussão na generalidade da Agenda para o Trabalho Digno, que a CGTP-IN não acompanha.

É uma proposta que não vai ao encontro das reivindicações dos trabalhadores, e que a CGTP-IN tem colocado, da necessidade de resolver um conjunto de problemas que a actual lei, de uma maneira geral, coloca aos trabalhadores, desequilibrando ainda mais as relações de trabalho a favor do patronato. Estou a falar da caducidade das convenções colectivas, que se mantém intacta [no documento da Agenda], ali com uma alteraçãozinha que abre portas ao reforço dos poderes de um tribunal arbitral, de uma arbitragem que possa decidir, em última análise, o destino da convenção colectiva. Ora, isto não desbloqueia a contratação colectiva, não resolve o problema da desvalorização enorme das carreiras e das profissões, que tem a ver com este bloqueio da contratação colectiva. Porque a verdade é que, não havendo revisão dos contratos colectivos de trabalho, não havendo actualização das tabelas salariais, o que acontece é a compressão dessas tabelas, fazendo com que trabalhadores com funções qualificadas, com categorias profissionais mais diferenciadas, com muitos anos de trabalho e experiência adquirida estejam a receber neste momento pouco mais do que o salário mínimo nacional ou o próprio salário mínimo. Isto é completamente inadmissível e contraria a propaganda do Governo, de que quer atrair, quer melhorar o salário médio.  Diz querer atrair e fixar os trabalhadores, mas nem em relação à Administração Pública o faz: com os 0,9% que manteve no Orçamento do Estado, nem nas empresas públicas, onde o Governo está a aplicar exactamente os mesmos 0,9%, que não são aumento, são uma actualização pequenina de salários, dando também assim sinal para o sector privado. E a verdade é que nem se desbloqueia a contratação colectiva, nem se dá sinal naquilo que ao Governo compete, que são as condições de trabalho e salariais na Administração Pública e nas empresas públicas, onde também não há verdadeira melhoria das condições dos trabalhadores.

«(...) não havendo revisão dos contratos colectivos de trabalho, não havendo actualização das tabelas salariais, o que acontece é a compressão dessas tabelas, fazendo com que trabalhadores com funções qualificadas, com categorias profissionais mais diferenciadas, com muitos anos de trabalho e experiência adquirida estejam a receber neste momento pouco mais do que o salário mínimo nacional ou o próprio salário mínimo.»

Portanto, o que temos aqui é uma proposta de lei que, deste ponto de vista, também não repõe o princípio do tratamento mais favorável ao trabalhador, mantendo uma chantagem patronal e um aproveitamento da condição que o trabalhador tem como parte mais frágil na relação de trabalho, em que lhe podem ser impostas condições abaixo da própria lei ou do contrato colectivo, o que é absolutamente inaceitável. Mas também não resolve os problemas da precariedade e da desregulação dos horários de trabalho, mantendo tudo exactamente na mesma. Não atende à necessidade da redução do horário de trabalho para fazer com que, tudo o que são avanços da ciência, da técnica, da automação e dos processos produtivos tenham consequências positivas na vida das pessoas, dos trabalhadores e das famílias, permitindo maior conciliação da vida profissional com a vida pessoal, mais tempo para a família, o desporto, a cultura, o lazer, para que os trabalhadores tenham vida para além do trabalho.

Os horários mantêm-se longos e desregulados.

Sim, não só não reduz, como mantém toda uma desregulação que inferniza a vida dos trabalhadores com trabalho por turnos, horário nocturno, laboração contínua, bancos de horas e adaptabilidades, que são impostas aos trabalhadores em empresas que não têm qualquer necessidade. E era uma das questões que colocávamos, por exemplo em relação à laboração contínua, horário nocturno e por turnos, a lei poder definir exactamente quem é que pode requerer este tipo de horário de funcionamento, restringindo àquelas empresas e serviços que de facto precisam de utilizar esse tipo de horários. Não foi isso que aconteceu, e manteve-se também a redução de valores no pagamento do trabalho extraordinário, a não reposição dos descansos compensatórios, ou seja, o embaratecimento e a facilitação dos despedimentos introduzida, quer esta, quer a do trabalho extraordinário, pelo governo do PSD e do CDS-PP. Bem pode vir agora o PSD dizer que está muito preocupado com os baixos salários dos trabalhadores, mas nós não esquecemos o que foi a política nos vários governos em que o PSD esteve, nomeadamente o último, com a troika e toda aquela política que causou o empobrecimento generalizado e a destruição de sectores da nossa economia, da nossa indústria, privatizações, etc., tal como os governos do PS também têm feito. 

A verdade é que esta proposta de lei, que está em discussão pública, não resolve os problemas de fundo. Tem ali uns paliativozitos na precariedade, muito em torno da externalização de serviços, das plataformas digitais, colocando ali alguns direitos aos trabalhadores, mas não resolve o problema de fundo da precariedade porque não define com clareza que a um posto de trabalho permanente tem que corresponder um vínculo de trabalho efectivo. E mantém a possibilidade de contratação a termo certo com vários fundamentos que não são credíveis, mantendo esta situação que temos, perfeitamente inadmissível, de sermos, na União Europeia, um dos países que têm maior nível de precariedade, com todas as consequências que isso tem ao nível dos salários dos trabalhadores, na ausência de cumprimento de direitos e na instabilidade que isso traz para a vida, nomeadamente dos jovens, a tal geração mais qualificada de sempre, que vai com as suas qualificações de mala aviada para o estrangeiro, porque aqui não consegue encontrar forma de viver e de trabalhar. Até porque os custos da habitação são o que são, e agora com esta subida das taxas de juro vai ser ainda  mais difícil para qualquer jovem, que queira tornar-se independente, arranjar casa... nem comprada, nem alugada. 

«E mantém a possibilidade de contratação a termo certo com vários fundamentos que não são credíveis, mantendo esta situação que temos, perfeitamente inadmissível, de sermos, na União Europeia, um dos países que têm maior nível de precariedade (...)»

Os trabalhadores têm todos os motivos para lutar, trazendo para a rua as suas reivindicações concretas. Ao contrário do que tentam fazer crer, a CGTP-IN e os seus sindicatos nunca deixaram de mobilizar e organizar os seus trabalhadores para lutarem pela resposta às suas reivindicações, em nenhuma situação. E agora, com a situação muito difícil que os trabalhadores estão a viver, observamos resultados positivos ao longo deste ano, como aumentos salariais em muitas empresas, negociação de contratos colectivos de trabalho com algumas associações patronais, redução do horário de trabalho, passagem a efectivos de trabalhadores com vínculos precários, melhoria das condições de trabalho e de matérias pecuniárias, como o subsídio de alimentação, e outros a que os trabalhadores têm direito. E a verdade é que temos tido esses resultados, fruto da luta dos trabalhadores, e tem sido muita a luta realizada.

Como analisa a actuação do Governo, que não quis ir além de 0,9% de actualização dos salários da Administração Pública e faz campanha com os salarios médios, apontando 20% de aumento em cinco anos, com base em mais benefícios fiscais para as empresas?

No fundo, o PS está a mostrar a sua verdadeira cara. Porque, durante alguns anos, não tendo maioria e vindo de um período que deixou marcas muito grandes nos trabalhadores e no povo, que foi o período do governo do PSD e do CDS-PP e da intervenção da troika, foi obrigado a negociar algumas coisas com os partidos à esquerda, mas a verdade é que as suas opções foram sempre as mesmas. É um Governo e um partido submissos às imposições da União Europeia, que agora nos fez um ralhete no relatório do Semestre [Europeu], a dizer que Portugal tem que ter cuidado com as políticas públicas e com os aumentos dos salários na função pública e com o aumento das pensões, mais uma vez, querendo manter Portugal como um país periférico, em que as grandes potências é que controlam e dominam a produção de mais valor, é que determinam as regras que, fruto de termos governos submissos, vamos seguindo.

«E agora, com a situação muito difícil que os trabalhadores estão a viver, observamos resultados positivos ao longo deste ano, como aumentos salariais em muitas empresas, negociação de contratos colectivos de trabalho com algumas associações patronais, redução do horário de trabalho, passagem a efectivos de trabalhadores com vínculos precários, melhoria das condições de trabalho e de matérias pecuniárias, como o subsídio de alimentação, e outros a que os trabalhadores têm direito.»

Há estas opções do PS, mas há também as opções do PS, mesmo enquanto governo minoritário, de se encostar à direita em matérias estruturantes para os trabalhadores, para as relações de trabalho e para a melhoria das condições de trabalho, como aconteceu em várias propostas que foram à Assembleia da República, de alteração da legislação laboral, que revogavam a norma da caducidade, que repunham valores do trabalho extraordinário e descanso compensatórios, que repunham valores das indemnizações por despedimento, que acabavam com a precariedade, como a temos no nosso país, colocando ali regras que não permitissem que a um posto de trabalho permanente não correspondesse um vínculo efectivo. 

Nessas matérias, o PS não só nunca apresentou propostas, como votou contra as que outros partidos levaram à Assembleia da República. 

Exacto. E não é propriamente uma surpresa que a agenda que o Governo tanto propagandeou tenha resultado nesta proposta que está em discussão pública, e que não resolve os problemas de fundo que os trabalhadores sentem nos seus direitos e no exercício da contratação colectiva, nos contratos de trabalho, nos salários, etc. Aliás, ainda veio agravá-los. Há bocado não referi uma matéria que para nós é fundamental, que é o exercício da liberdade sindical na empresa e que o Governo se tinha comprometido a clarificar, tendo em conta haver um ataque generalizado do patronato a este direito dos sindicatos, tentando impedir a sua entrada nas empresas quando não haja organização sindical. Em vez de clarificar esta situação, o Governo veio piorá-la, porque coloca na lei limitações e constrangimentos que esta não tinha, veio portanto agravar a tentativa de impedir o exercício da actividade sindical na empresa, que nós não vamos aceitar, naturalmente. Vamos continuar a realizá-la, se preciso à porta, mas a realidade é que o Governo não cumpriu um compromisso que tinha assumido até com a própria CGTP-IN, em várias reuniões, em que nos disse que ia clarificar na lei esta situação e garantir o exercício da actividade sindical. 

Portanto, há este comportamento do Governo, que no fundo são as opções que o PS colocou no seu programa, que nós rejeitámos, e que vamos continuar a esclarecer, informar e mobilizar os trabalhadores no sentido de se unirem e lutarem pela resposta às reivindicações concretas, mas também a estas questões nacionais, de precisarmos de alterar o nosso modelo produtivo, de aumentar a produção nacional, mas produção de valor, e não com as sobras que nos deixam as grandes potências da UE, de haver investimento público que garanta o desenvolvimento da nossa economia, no sentido de aproveitarmos os nossos recursos, e também de aproveitarmos os nossos recursos do ponto de vista do mercado de trabalho.

Os nossos trabalhadores têm qualificações, têm experiência adquirida, é preciso que haja emprego digno e compensação por essa qualificação e experiência. Os salários são miseráveis. Temos 11,2% dos trabalhadores que são pobres e mais de 70% dos trabalhadores no nosso país com salários abaixo dos 1000 euros. Eu falo com representantes de organizações de outros países, que ficam de boca aberta quando falamos destes números, não acreditam que trabalhadores com competências, qualificações, estejam a ganhar acima do salário mínimo nacional, mas abaixo dos 1000 euros. É uma realidade inadmissível e não é com assistencialismo, que é a política deste governo, que se resolvem os problemas.

«Os nossos trabalhadores têm qualificações, têm experiência adquirida, é preciso que haja emprego digno e compensação por essa qualificação e experiência.»

É isso, de resto, que os partidos da direita pretendem. Aliás, o discurso do novo líder do PSD foi muito nesse sentido; mais assistencialismo, menos Serviço Nacional de Saúde (SNS) e mais «sistema» nacional de saúde, dirigindo uma eventual resposta no sentido contrário àquele que devia ser, que era de garantir que o Estado tem os meios e investe nos serviços públicos e nas funções sociais de forma a garantir a necessária resposta às populações. Mas não é isso acontece. Veja-se o SNS, mas podíamos falar da Escola Pública, da protecção social, que deixa de fora mais de metade dos desempregados que não têm direito a subsídio de desemprego. Devia haver um aumento da protecção social a quem dela verdadeiramete necessita, mas o que vemos é opções ao contrário. Reduzir impostos, mas não é impostos do trabalho, é impostos às empresas, e quem é que beneficia disso e sempre beneficiou?

Tal como das medidas, quer agora, com a guerra na Ucrânia e as sanções, quer relativamente à pandemia, o que vimos foi que a esmagadora maioria das pequenas e médias empresas ficou de fora dos apoios, e quem beneficiou foram, mais uma vez, os grandes grupos económicos, que continuam a aumentar os seus lucros, como vemos agora com o aumento dos preços da energia e dos combustíveis, como a EDP, a GALP, entre outras, que aumentam substancialmente os seus lucros, sendo que isso depois não tem consequência para os salários dos trabalhadores e o Governo mantém esta situação em que a pobreza, nomeadamente de quem trabalha e trabalhou, continua a aumentar no nosso país. 

Como se acaba com este flagelo?

A verdadeira medida que podia alterar isto é o aumento dos salários. Nós temos colocado as nossas reivindicações gerais de 90 euros para todos os trabalhadores, aumento extraordinário para os que tiveram actualizações já absorvidas pela inflação, aumento do salário mínimo nacional para 850 euros no curto prazo, mas ser de 800 euros a 1 de Julho, para dar resposta a este momento em concreto, e aumento das reformas e pensões, em pelo menos 20 euros, mas de forma a garantir a reposição do poder de compra. Ora, nada disto são opções, nem do Governo, nem do PS, nem do patronato, que o que quer é aumentar a exploração à custa dos sacrifícios dos portugueses. Isto é completamente inaceitável, e nós continuaremos a nossa luta e a mobilizar os trabalhadores para que exijam as efectivas respostas e soluções que eles e o País precisam.

11,2%

Há 11,2% dos trabalhadores na pobreza e mais de 70% com salários abaixo dos 1000 euros. 

Até porque o nosso tecido empresarial é constituído maioritariamente por micro, pequenas e médias empresas que vivem do mercado interno. É uma coisa básica, se a maioria da população não tem poder de compra, como é que as empresas se desenvolvem e se mantêm? Não conseguem, porque é o aumento dos salários e das pensões que vai aumentar o poder de compra no nosso país. É incrementando o mercado interno que se promove o desenvolvimento da produção nacional, porque é preciso produzir mais, escoam-se mais produtos, vende-se mais e naturalmente que a economia também se desenvolve. 

Entretanto, o patronato escuda-se no argumento da produtividade para não responder à emergência dos salários.

O que nós afirmamos, suportados em dados concretos, em estatísticas e informação, inclusive de organismos oficiais, é que a riqueza que produzimos no nosso país é suficiente para que haja salários dignos para todos os trabalhadores. Da esquerda à direita, toda a gente concorda que os salários são baixos no nosso país, mas depois o patronato e o PS, e os partidos de direita e extrema-direita, vêm com o argumento de que, «é verdade, os salários são baixos, mas a produtividade também é baixa, portanto precisamos primeiro de aumentar a produtividade», e o PS acena com uma tal «espiral inflacionista» se os salários aumentarem, remetendo para depois o eventual aumento que propagandeiam do salário médio. Em primeiro lugar, o que é preciso é que haja dignidade e condições de vida e de trabalho no nosso país. Há que garantir que os trabalhadores, reformados e pensionistas têm essas condições. Por outro lado, e, segundo números do próprio Governo, o crescimento da produtividade no nosso país não foi acompanhado pelo aumento dos salários, as linhas da produtividade e do aumento real dos salários têm 5% de diferença, portanto há aqui um desfasamento logo à cabeça. Mas a verdade é que, o que faz com que a produtividade aumente é o aumento dos salários e condições de trabalho dignas, e isso também está provado.

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Patrões vão continuar a ter trabalho de borla

Projectos para acabar com a imposição do trabalho não remunerado, seja através dos bancos de horas ou das intermitências dos horários, foram chumbados hoje pelo PS e pelos partidos à sua direita.

CréditosNuno Fox / Agência Lusa

Em pleno século XXI, e não obstante as conquistas civilizacionais alcançadas com a Revolução de Abril, os trabalhadores voltam a enfrentar longas jornadas de trabalho no nosso país, sem tempo para viver e com consequências a vários níveis, nomeadamente familiares e de saúde. A ideia foi vincada esta quinta-feira no Parlamento, no debate de iniciativas do PCP, do BE e do PAN. 

Em 2009, o banco de horas estava enquadrado pela contratação colectiva. Com o governo do PSD e do CDS-PP impôs-se a desvalorização do trabalho e o banco de horas passou a ser possível por contrato de trabalho individual, tendo sido também introduzido o banco de horas grupal. Medidas que, na prática, permitiram aos empregadores a imposição de trabalho extraordinário sem a devida compensação, ou seja, trabalho mais barato. 

Entretanto, em 2019, o banco de horas individual foi revogado. Não obstante, a IL, advogando que o pagamento de horas extraordinárias pode «aumentar de forma relevante a carga salarial da empresa», e «alterar as condições de viabilidade da mesma», propôs o seu restabelecimento.

O projecto foi acompanhado pelo CDS-PP, que votou a favor, e mereceu, curiosamente, a abstenção do PAN, que também tinha a votação um projecto de lei (não passou) com vista a garantir «a conciliação do trabalho com a vida familiar e uma maior estabilidade profissional», tendo sido rejeitado pelos restantes partidos na Assembleia da República. 

Crianças privadas de direitos

Ontem, na abertura da discussão, a deputada comunista Diana Ferreira deu conta da impunidade trazida pelos mecanismos de adaptabilidade e de bancos de horas, e do impacto que os mesmos acarretam na vida dos trabalhadores, nomeadamente o frágil acompanhamento dos seus filhos. 

«Na Fnac, o banco de horas pode afastar os trabalhadores 12 horas da família», exemplificou a deputada, concluindo que a empresa «não precisa de contratar mais trabalhadores, não paga horas extraordinárias e ainda fica com 150 horas da vida dos trabalhadores para utilizar a seu bel-prazer». 

Se, por um lado, o banco de horas «não paga contas ao fim do mês», «nem põe comida na mesa», como realçou Diana Ferreira, a sua revogação, bem como a dos mecanismos de adaptabilidade, «é fundamental para um cumprimento efectivo dos horários de trabalho e para garantir uma articulação entre o trabalho e a vida pessoal e familiar», reforçou, salientando que horários de 12, 14 ou 16 horas diárias privam as crianças do direito de serem acompanhadas pelos pais.

Por outro lado, sublinhou que, «se há horas extraordinárias que são continuadas e muitas vezes diárias na vida dos trabalhadores, elas não são extraordinárias, são necessidades permanentes», tendo que haver «contratação de mais trabalhadores para aquela empresa».

Pelo BE, o deputado José Soeiro vincou que 75% dos trabalhadores por conta de outrem trabalham com uma modalidade flexível de horário laboral, sublinhando que o banco de horas foi, neste contexto, «um mecanismo de desregulação dos horários e de embaratecimento do valor do traballho». Trazendo uma «dificuldade acrescida» de conciliar trabalho, família e lazer, e, ao mesmo tempo, uma redução da autonomia dos trabalhadores. 

Tanto os projectos de lei do PCP, pela revogação dos mecanismos de adaptabilidade e de banco de horas, e dos mecanismos de adaptabilidade individual, como o do BE, com vista à eliminação do banco de horas grupal e da adaptabilidade individual e grupal, foram chumbados pelo PS e pelos partidos à direita (CH absteve-se na revogação dos mecanismos de adaptabilidade), com a abstenção do PAN. 

Alterações «devem passar pela concertação»

O sentido de voto do PSD percebeu-se pela intervenção da deputada Lina Lopes, que ontem afirmou que «não podemos estar constantemente a revogar ou a modificar leis laborais, sem dar espaço à estabilidade e à contenção do processo legislativo», e que o País «precisa de gerar confiança». 

Embora reconhecendo que «foram detectadas fragilidades», tanto no teletrabalho como na conciliação entre a vida pessoal e profissional, Lina Lopes apelou à «paz social» e remeteu as alterações ao Código do Trabalho para a concertação social, que classificou de «pedra angular».

A resolução destas matérias através de novo acordo com os patrões na concertação social foi igualmente defendida pela bancada do CDS-PP, que, pela voz do deputado João Almeida, assume que «não faz sentido eliminar o banco de horas», nos termos em que está previsto na lei, e que o PS se orgulha de ter criado. «Sentido», para o CDS-PP, fazia «repor o banco de horas individual».

Para Lina Lopes, «este é o tempo de debater o Orçamento do Estado», onde, de acordo com a proposta do Governo, faltam medidas de valorização do trabalho e dos trabalhadores.

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Trabalhadores com redução de horário, que tenham uma vida familiar, pessoal estabilizada, que tenham tempo também para se ocuparem com as outras coisas que a vida nos proporciona, trabalhadores que tenham a garantia de que podem acompanhar os filhos, que tenham tempo para estar com os filhos e ritmos de trabalho que não levem à exaustão, que é o que temos no nosso país: trabalhadores com ritmos de trabalho brutais. Para além do horário longo, desregulado, e muitas vezes acima do definido, com as adaptabilidades, os bancos de horas, as horas extraordinárias mal pagas, etc., com consequências enormes para a saúde dos trabalhadores.

Ora, um trabalhador doente não é naturalmente um trabalhador que possa produzir em pleno. Portanto, há aqui também, por parte do patronato, a negação de uma realidade objectiva: condições de trabalho dignas e salários dignos proporcionam mais produtividade. Temos necessidade de alterar o modelo que temos no nosso país e que, não só prejudica os trabalhadores e as suas famílias, degradando as suas condições de vida e de trabalho, como compromete o desenvolvimento da nossa economia e das empresas. No fundo, são opções que levam a andarmos para trás, em vez de avançarmos, que é o que deveríamos fazer, tendo em conta a evolução da nossa sociedade. 

O que se perspectiva, do ponto de vista da acção da CGTP-IN, depois da manifestação nacional desta quinta-feira? 

Este mês de Junho, que teve centenas de plenários de trabalhadores e um conjunto de processos significativos de luta, vai ter continuidade em Julho e Agosto. Porque, de facto, enquanto não houver resposta às reivindicações dos trabalhadores e a esta degradação das condições de vida e de trabalho, a luta vai ter que continuar e é isso que vamos continuar a fazer. Serão meses muito intensos porque o aumento do custo de vida, pelos vistos, não vai de férias, as dificuldades dos trabalhadores também não vão de férias, portanto, os trabalhadores vão ter necessidade de continuar a lutar e de exigir respostas às suas reivindicações.

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A uma só voz, milhares de trabalhadores rejeitaram o «aprofundamento deste modelo, que tira ao trabalho para dar ao capital, que agrava as desigualdades, que amarra o país às opções políticas da maioria PS e dos partidos da política de direita, da União Europeia e dos interesses instalados dos mais ricos e poderosos».

«A riqueza criada no nosso país permite outra distribuição, já! Não é o nível de riqueza produzida que justifica os baixos salários e pensões, é a exploração», reforçou Isabel Camarinha.

Para dar resposta aos aumentos do custo de vida, a CGTP-IN defende o aumento geral dos salários em 90 euros, a fixação do Sarlário Mínimo Nacional nos 800 euros, no imediato, e nos 850 o mais rapidamente possível, assim como a regulamentação e imposição de limites aos aumentos especulativos verificados nos preços de muitos produtos.

Mil razões desfilaram até ao Parlamento

«Por mais poderosa que seja a campanha de manipulação, a realidade vivida por quem trabalha, e trabalhou, acaba sempre por se sobrepor», afirmou, esta tarde, Isabel Camarinha.

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Bosch acusada de chantagear trabalhadores e fomentar precariedade

A denúncia surgiu esta segunda-feira, através da deputada do PCP Carla Cruz, à margem de um encontro com a comissão de trabalhadores da Bosch de Braga. Outras questões como a precariedade foram mencionadas.

Créditos / Wikimedia Commons

As acusações surgiram ontem, à margem de um encontro da deputada Carla Cruz, eleita do PCP na Assembleia da República por Braga, com a comissão de trabalhadores da unidade da Bosch nessa cidade.

Em declarações à agência Lusa, citadas por O Minho, a deputada comunista denunciou a existência de formas de pressão pela empresa sobre cerca de 100 trabalhadores para que mudem de turno, em forma de «chantagens», além de recorrer a vínculos precários para preencher postos de trabalho efetivos.

«O que nos foi dito é que há um número expressivo de trabalhadores que agora estão a ser contratados por via de uma empresa de trabalho temporário, não são efectivos da Bosch, ou seja, a empresa está a recorrer a trabalho precário e temporário para preencher postos de efectivo», denunciou Carla Cruz.

Sobre a mudança de turno, a deputada explicou que «um dos objetivos [da reunião] era perceber como decorre a implementação do fim do 3.º turno, que funciona das 23h às 06h, e aquela que tem sido a chantagem da empresa para que passem para o 4.º e 5.º turnos». Os turnos em questão passam pelo trabalho em todos os fins-de-semana e com uma rotatividade muito penosa.

Uma situação que já motivou um protesto dos trabalhadores no centro de Braga, realizado a 16 de Abril, contra as pressões da Bosch e as consequências dos turnos, tanto do ponto de vista familiar como de saúde, além de afirmarem que a empresa tem «condições para encontrar outras soluções que não passam por aí».

Fim do contrato colectivo fragilizou novos trabalhadores

A deputada adiantou ainda que, apesar do salário base na Bosch ser superior ao mínimo nacional, existem diversas discriminações entre trabalhadores, em detrimento dos mais recentes. Uma situação derivada da caducidade da contratação colectiva e que beneficiou a empresa.

«O fim da contratação coletiva permitiu que apenas os de maior antiguidade tenham maior majoração pelo trabalho nocturno, diuturnidades. Os que não estão abrangidos por esses contratos mais antigos já não, ou seja, para funções idênticas temos salários diferentes», explicou.

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Ao AbrilAbril, Bruna Lopes, 24 anos, dirigente da Interjovem/CGTP-IN e trabalhadora da unidade da Bosch em Braga, assumiu algumas dificuldades em conciliar os baixos salários com o aumento dos custos das necessidades básicas: habitação, transportes, alimentação. 

«Tenho colegas que voltaram para casa dos pais»: um salário, por trabalho a tempo inteiro, já não lhes chega «para cobrir as despesas». «A empresa não nos dá os aumentos necessários, aumenta sempre o trabalho e o salário mantém-se o mesmo», razão essa que levou à dinamização de várias lutas nos últimos meses, «com cada vez mais jovens a participar».

Bernardo Lopes, residente nas Caldas da Rainha, tem trabalhado na área da restauração, até há pouco tempo no restaurante Pizza Hut da cidade. Juntou-se à manifestação para «lutar pelos seus direitos e de todos os trabalhadores». Com 20 anos, Bernardo gostava de poder estudar, mas os constantes aumentos do custo de vida forçaram-no a abdicar dos seus projectos.

Não hesitou, no entanto, em denunciar a situação em que vivem os trabalhadores da restauração: «É uma área muito precária, de muita exporação, em que os nossos direitos são constantemente postos em causa para dar resposta à alta pressão da procura». «As horas que fazemos e o salário que recebemos não correspondem» ao esforço dos trabalhadores.

Também Albino Gouveia, estafeta da Glovo no Porto, conta história semelhante, de grande precariedade. «A empresa baixou-nos os quilómetros de 44 cêntimos para 24 e ainda temos de ser nós a pagar o equipamento, sem qualquer subsídio», denuncia. Nem quando os seus colegas têm um acidente a empresa se digna a ajudar: «A Glovo diz que tem um seguro, o que é falso, não existe nada».

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Sindicato organiza sessão de apoio à legalização dos trabalhadores imigrantes

O Sindicato da Hotelaria do Norte promove esta quarta-feira uma sessão de apoio para trabalhadores imigrantes sobre a nova legislação de vistos com o objectivo de combater o trabalho ilegal no sector.

O Sindicato da Hotelaria do Norte denuncia que os trabalhadores da Uber Eats e da Glovo estão «contratados ilegalmente a recibo verde» e sublinha as «condições de vida e de trabalho» que enfrentam
Créditos / El Confidencial

A sessão de esclarecimento para trabalhadores imigrantes decorre amanhã às 9h30, na sede do Sindicato da Hotelaria do Norte (CGTP-IN), no Porto, com a presença de Manuel Sola, presidente da Comissão Nacional para a Legalização de Imigrantes.

Em comunicado, o sindicato alerta que «o número de trabalhadores imigrantes tem vindo a crescer muito nos hotéis, restaurantes, cafés e pastelarias nos últimos três anos», salientando que muitos chegam com visto de turista e acabam a trabalhar em condições muito duras, ilegalmente, ​​​​​​dando como exemplo a Uber Eats e a Glovo.

A estrutura sindical afirma que se trata de «trabalhadores muito vulneráveis, com muitas dificuldades de fazerem face às despesas com o alojamento e alimentação», assim como «a dormirem sem condições mínimas de higiene e habitabilidade, em escritórios de empresas ou em quartos alugados sem mínimas condições».

«Muito patronato do sector aproveita-se da situação fragilizada destes trabalhadores e explora-os até ao tutano, mantendo-os a trabalhar ilegalmente, por vezes mais de um ano, sem descontos para a Segurança Social, sem seguro contra acidentes de trabalho, a trabalhar dez, 12 e 14 horas diárias, sem pagamento de trabalho suplementar, sem férias, subsídio de férias e de Natal», acusa o sindicato.

Por outro lado, quando os trabalhadores exigem os seus direitos, a estrutura sindical denuncia que o patronato opta por retaliar com despedimentos, ameaças e denúncias às autoridades, recordando o recente caso no restaurante Miradouro Ignez.

Além de denunciar tais «práticas ilegais e violentas do patronato», o Sindicato da Hotelaria do Norte recorda também que tem procurado defender os direitos destes trabalhadores na contratação colectiva, como é «o caso da proibição de retirar ou agravar o alojamento e o direito a acumular férias de dois anos para poderem gozar com a família nos seus países de origem».

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Os trabalhadores destas empresas (Uber Eats, Glovo e Bolt Food são as mais importantes, a nível nacional) muitas vezes têm medo de dar a cara, mas cada vez mais se têm juntado à luta contra entidades patronais que, por seu lado, praticamente não existem: «falamos com eles por e-mail, não existe um escritório físico, parece-se mais com uma empresa fantasma».

«Os combustíveis estão sempre a aumentar, os custos de vida não páram de aumentar, e eles continuam a baixar os valores pagos aos trabalhadores», lamenta, «não têm mesmo respeito por ninguém, tratam-nos como animais». Neste momento, o objectivo dos trabalhadores é integrar o Sindicato de Hotelaria do Norte (SHN/CGTP-IN), que lhes tem dado um importante apoio nas suas lutas recentes.

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Manifestação Nacional da CGTP-IN, 7 de Julho, Lisboa
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Para a central sindical, a actual situação económica e social, com a insuportável subida de preços dos bens essenciais e consequente redução do poder de compra em função dos baixos salários, está a contribuir para o agravamento das condições de vida dos trabalhadores, e as soluções necessárias não constam na proposta do Governo.

No parecer entregue, a CGTP-IN faz um conjunto de propostas que a seu ver resolveriam a dramática situação com que os trabalhadores estão confrontados, como a revogação do regime da caducidade e sobrevigência da contratação colectiva, a reposição plena do princípio do tratamento mais favorável, a redução do tempo de trabalho para as 35 horas semanais sem perda de retribuição, a revogação dos regimes de adaptabilidade e dos bancos de horas, a delimitação objectiva das actividades abrangidas pelo regime de laboração contínua, entre outras.

Em nota de imprensa divulgada, a CGTP-IN defende que trabalho digno «significa antes de tudo assegurar o princípio do direito ao trabalho com direitos com a efectivação dos direitos fundamentais dos trabalhadores plasmados na Constituição da República Portuguesa». Dá ainda conta da exigência de que, em sede da discussão na Comissão Parlamentar, sejam introduzidas as alterações que garantam a efectivação dos direitos e a valorização do trabalho e dos trabalhadores.

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Sabendo-se que a lei não consagra um princípio universal de tratamento mais favorável ao trabalhador, que as convenções, hoje, e por anuência do PS, podem contemplar regimes mais desfavoráveis do que os constantes no próprio código do trabalho, o PS prepara-se para valorizar, através do acesso a benefícios diversos, entidades patronais que, sendo outorgantes de convenções colectivas, outorgam convenções que representam a degradação dos direitos, ao invés dos promoverem.

Assim, não basta, portanto, criar condições para que haja mais contratação colectiva; é preciso criar condições para que se negoceie a contratação colectiva certa, aquela que valoriza os direitos dos trabalhadores, que faz progredir as suas condições de trabalho, que representa uma forma de promoção do progresso e da justiça social.

Este tipo de actuação é também constatável em matéria de trabalho temporário e terciarização de serviços, agravando sanções e prevendo novas exigências para as empresas do sector, ou determinando novas incompatibilidades individuais, as quais afastam certos indivíduos da gestão das mesmas. Mas o que o PS não faz é impedir a contratação precária para actividades permanentes, ou impedir o acesso das empresas à actividade de intermediação, quando estão em causa práticas abusivas e socialmente lesivas de contratação.

O mesmo tipo de raciocínio pode ser aplicado ao trabalho temporário. É certo que, aqui e ali, responsabilizam mais as empresas utilizadoras pelas situações de recurso ilícito ao trabalho temporário, ou agravando o regime contra-ordenacional. Não obstante, o PS não apenas mantém um regime mais favorável do que o contrato a termo certo, para o trabalho temporário, permitindo até quatro renovações, como mantém em aberto todas as justificações legalmente admissíveis para o trabalho temporário, que acabam por continuar a dar cobertura à manutenção e milhares de trabalhadores em situações de precariedade absolutamente inaceitáveis.       

«ao estabelecer que esta presunção de existência de contrato de trabalho se aplica "sem prejuízo" do regime de trabalho independente, está automaticamente a assegurar às empresas da chamada "uberização" que não se preocupem, que não está em causa um ataque frontal ao seu modelo negócio predador»

Mesmo que a alteração proposta, pelo PS, estenda a responsabilidade, quanto à sucessão dos contratos relativamente a diversos utilizadores, também às entidades patronais com relação de domínio e de grupo, esta questão apenas reforça a ideia de que se pretende, apenas, actuar nos efeitos e não na origem. A origem do problema está na facilidade com que se recorre ao trabalho temporário, à abertura que se dá para a existência e exploração de situações de fragilidade dos trabalhadores e à profusão de empresas – «agências» – de colocação, que mais não são do que intermediários, cuja existência não se justifica, a não ser num plano de agravamento da exploração dos trabalhadores.

Vejamos o aspecto contraditório. Nomeadamente, o que resulta da alteração que obriga a aplicar a contratação colectiva, em vigor, aos trabalhadores temporários ou em regime de Outsorcing. Parecendo melhorar a situação destes trabalhadores, o que esta norma faz, na prática, é legalizar uma situação de recurso ilícito à precariedade. Se as funções são as constantes das convenções colectivas assinadas, tratam-se, em princípio de funções permanentes, regulares, da actividade. Logo, se aplicar o conteúdo da convenção ao trabalhador temporário ou em regime de Outsorcing pode ser positivo, menos positiva é a normalização que esta alteração faz destas situações.

Olhemos também, por exemplo, para a situação do período experimental de 180 dias para os jovens à procura de primeiro emprego ou desempregados de longa duração. Reconhecendo o fracasso da medida e o abuso constante de muitas empresas, o PS vem exigir um aviso prévio de 30 dias para os períodos experimentais superiores a 120 dias, notificações obrigatórias à ACT [Autoridade para as Condições do Trabalho] no caso de jovens à procura de primeiro emprego ou desempregados de longa duração, ou à CITE [Comissão para a Igualdade no Trabalho e Emprego], no caso das mulheres grávidas, puérperas ou lactantes, trabalhador em gozo de licença parental ou trabalhador cuidador. Ao mesmo tempo, faz incorporar anterior contrato a termo, com duração superior a 90 dias, na contagem do período experimental – incorporando anterior contrato a termo ou estágio na contagem do período experimental. Ora, mas se o trabalhador já prestou actividade anterior, para que serve então este período experimental senão para criar uma situação de poder total da entidade patronal sobre o trabalhador?

Já uma das situações mais ambíguas e perigosas desta «agenda do trabalho digno» consiste na criação de um regime legal intermédio entre o trabalhador por conta de outrem, com contrato de trabalho, e o trabalhador independente. Esta ambiguidade não deixará de abrir a porta a um sem-número de abusos, muitos deles já bem conhecidos, nomeadamente, numa época em quê se multiplicam os exemplos de exploração desumana perpetrados pelas empresas que exploram plataformas informáticas, mas não só.

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Não governam para nós

O ministro da Economia destaca o «muito bom» desempenho num ano em que cresceram as desigualdades e o poder de compra caiu a pique, graças ao brutal aumento do custo de vida. Foi «muito bom»... para os mesmos de sempre.

CréditosTiago Petinga / Agência Lusa

Coincidiu. Enquanto Costa e Silva se regozijava a debitar números, milhares de trabalhadores, reformados e pensionistas davam corpo a uma manifestação rumo à Assembleia da República, em Lisboa. Outros milhares fizeram-no, ontem também, um pouco por todo o País. Nas ruas, o sentimento (a CGTP apelidou-o de Indignação) é de revolta face ao rumo que a vida toma, com cada vez maiores dificuldades para chegar ao fim do mês, conseguir pagar um tecto, alimentar a família ou ter tempo para estar com ela, graças aos horários desregulados, e devido aos salários que a inflação vai comendo. Tendência que Governo e patrões se recusam a contrariar, como hoje se confirma de novo com a aprovação das alterações laborais da chamada agenda do trabalho digno. 

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Governo bem pode falar de crescimento económico, o povo não dá conta

O mais importante está assegurado. Face a uma das mais brutais perdas do poder de compra das últimas décadas, Fernando Medina, ministro das Finanças, destacou o fundamental para o PS: é que a economia cresceu.

CréditosTiago Petinga / Agência Lusa

Não há pão? Comam crescimento económico... Em declarações à Agência Lusa, Fernando Medina, ministro das Finanças e um dos nomes fortes do Governo de maioria absoluta do PS, destacou o alcançar do maior crescimento económico em 35 anos, que se verificou no ano de 2022.

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Os gigantescos lucros dos grupos económicos

Os cerca de dois mil milhões de euros de lucros das 12 empresas do PSI20 que anunciaram os resultados do primeiro semestre correspondem a um aumento superior a 60% em relação a igual período de 2021.

Créditos / jornaldamoeda.pt

Os cinco maiores bancos (CGD, BPI, Santander Portugal, Novo Banco e BCP) obtiveram lucros de 1,3 mil milhões de euros, só no primeiro semestre deste ano, um crescimento de cerca de 80% em relação ao ano passado.

Entretanto, apenas sete das multinacionais do petróleo anunciaram os seus resultados, que ascendem a 117,8 mil milhões de euros e correspondem a um aumento de 153%.

Este elevado crescimento das taxas de lucro, fruto do aproveitamento especulativo que os grupos económicos estão a fazer da guerra e das sanções, contrasta, por um lado, com as dificuldades da generalidade das micro, pequenas e médias empresas. Por outro, com o agravamento das condições de vida dos trabalhadores e das populações, vítimas da inflação e do aumento de bens essenciais, nomeadamente a energia e a alimentação.

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Os obscenos lucros da Galp

Os lucros da Galp, 420 milhões de euros neste primeiro semestre, são grandes e chocantes, sobretudo quando confrontados com os brutais aumentos de preços dos combustíveis que martirizam a população.

A Galp Energia tem uma cotação em bolsa superior a 10 mil milhões de euros
«O que as contas do primeiro semestre deste ano também demonstram é que a Galp, através do aumento brutal do preço de venda, consegue aumentar os lucros apesar de não aumentar a produção» Créditos

Entretanto, os neoliberais, por um lado, vão procurando justificar estes aumentos de preços com o aumento dos impostos (que até têm baixado) ou a guerra, como se a subida do preço dos combustíveis tivesse começado a 24 de Fevereiro. Por outro, a propósito dos lucros, tentam esconder a realidade falando dos prejuízos que a Galp teve durante os anos da pandemia, sem recorrer aos apoios do Estado, numa altura em que o preço do petróleo chegou a andar negativo, na lógica de que o lucro é a recompensa justa.

Justificações que merecem duas considerações. A primeira é que, sendo verdade que na especulação bolsista daqueles tempos o petróleo chegou a andar por valores negativos, tal nunca teve grande reflexo no preço da gasolina ou do gásoleo contribuindo para aumentar os lucros na distribuição e comercialização.

A segunda, para dizer que, segundo as próprias contas da Galp, o único ano em que a empresa deu prejuízo foi 2020 e tal deveu-se não apenas às consequências da pandemia, mas principalmente à decisão de encerrar a Refinaria de Matosinhos, que implicou colocar nas contas de 2020 prejuízos, nomeadamente os 153 milhões de euros de perdas por imparidade nos activos da refinação e as provisões de 128 milhões de euros para desmantelamento, desactivação, descontaminação e reestruturação. Isto é, não fora a decisão de encerrar a Refinaria de Matosinhos, penalizando a economia nacional, a Galp até em 2020, mesmo com a pandemia e o confinamento, teria dado lucro, algo como 84 milhões de euros. Aliás, a Galp comportou-se com os seus accionistas como se tivesse dado lucro, distribuindo dividendos (318 milhões de euros) sobre os resultados de 2020.

Quanto ao argumento, também usado, de que com a «instabilidade» do sector «a Galp tem direito aos seus lucros porque, em alturas de prejuízo, também arcou com as consequências das perdas», basta olhar para o total de lucros destes dez anos, que são cerca de cinco mil milhões de euros, mesmo faltando seis meses de 2022.

E há quem caracterize a situação como sendo a Galp «a seguir as regras do mercado que umas vezes lhe dão muito dinheiro e outras lhe criam muitas dificuldades». Porventura, o que queriam dizer é que umas vezes lhe dão muito dinheiro e noutras ainda mais dinheiro.

Olhando para os accionistas da Galp, o maior deles é a Amorim Energia, que detém 33,34%, embora ela própria seja detida em 45% pelo Estado angolano e em 55% por duas holdings controladas pela família Amorim (mas não obrigatoriamente a 100%). A família Amorim controla a Galp com menos de 18,3% do seu capital, enquanto a Amorim Energia paga os seus impostos, «patrioticamente», na Holanda.

O Estado, através da Parpública, detém 7,48% da Galp, mas recusa-se a ter qualquer papel enquanto accionista, excepto o de receber dividendos. Quanto ao restante capital, o essencial é detido por investidores institucionais (mais de 85%), sendo a sua distribuição geográfica muito elucidativa: EUA – 31,4%; Reino Unido – 26,80%; Resto da Europa – 15,9% e Portugal – 0,30%.

«E há quem caracterize a situação como sendo a Galp «a seguir as regras do mercado que umas vezes lhe dão muito dinheiro e outras lhe criam muitas dificuldades». Porventura, o que queriam dizer é que umas vezes lhe dão muito dinheiro e noutras ainda mais dinheiro.»

Como se pode ver, se é verdade que há todas as razões para os accionistas se alegrarem, essa alegria pouco chega a Portugal e aos portugueses.

O que as contas do primeiro semestre deste ano também demonstram é que a Galp, através do aumento brutal do preço de venda, consegue aumentar os lucros apesar de não aumentar a produção: a produção de petróleo e gás diminuiu ligeiramente de 2021 para 2022 (de 111,8 para 111,2 Kbpd no petróleo e de 13,3 para 12,7 Kboepd no gás).

Na refinação, a produção aumentou ligeiramente (de 40,7 para 44,7 mboe), mas os resultados líquidos dispararam de 45 para 285 milhões de euros. Mesmo nas energias renováveis, a variação do Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortizações) RCA, mesmo sendo muito pouco significativa, de -8 para -5 milhões de euros, fica a dever-se no essencial ao aumento do preço da electricidade vendida, que passou de 61,6 para 166,5 euros/Mwh.

Em qualquer destes casos, o que fica completamente à vista é que o aumento de lucro da Galp se deve, antes de mais, à especulação com os preços.

Estes lucros demonstram ainda duas coisas:

os interesses dos accionistas da GALP e o interesse nacional estão muito longe de ser a mesma coisa. Que o país tenha de importar o que antes produzia e exportava pouco ou nada interessa à Galp... desde que os seus lucros cresçam. Isto é, se os lucros podem crescer aumentando o preço em vez de aumentar a produção, para a Galp é igual. Para o País é que não.

o crime compensa. Observando os resultados dos primeiros semestres dos últimos sete anos, percebe-se perfeitamente a quebra de produção provocada, primeiro, pela pandemia e, depois, pelo encerramento da Refinaria de Matosinhos, a partir de 2020. Vê-se como os resultados baixaram durante a pandemia e como, devido à quebra na procura mundial, as margens de refinação baixaram significativamente. E vê-se também, para além de o ano de 2022 estar a ser marcado pelo aumento totalmente especulativo das margens de refinação, como foi errado encerrar uma refinaria que poderia estar neste momento a acrescentar uns cem milhões de euros aos resultados da empresa. Sobretudo, poderia permitir obter resultados positivos sem estas margens completamente especulativas

Por fim, sublinhando que aqueles que estão a ganhar centenas de milhões com a liberalização querem aproveitar as consequências desastrosas dessa liberalização para ganhar ainda mais dinheiro, deixando de pagar impostos. Os impostos sobre os combustíveis baixaram significativamente no último ano, mas o preço dos combustíveis subiu beneficiando os lucros das petrolíferas.

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Os grupos económicos, embora não consigam esconder os avultados lucros e o seu crescimento, procuram esconder as suas causas: aumento da exploração e da especulação. Aliás, a afirmação recente de um dos principais banqueiros sobre a «hostilidade cultural ao capital e à sua acumulação» ou a acusação de populismo aos que denunciam estes lucros escandalosos, tem apenas como objectivo esconder que, por detrás estes lucros de uma minoria de privilegiados, estão também os baixos salários e os aumentos especulativos.

A ONU já veio reconhecer a necessidade de um imposto extraordinário sobre os lucros que estão a ser obtidos com a especulação. Mas não chega. É preciso aumentar salários, nomeadamente o salário mínimo, pôr fim aos mecanismos especulativos de fixação de preços, travar a liberalização da economia portuguesa e recuperar o controlo público de sectores estratégicos.

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A população residente em Portugal pode ter sentido na pele as consequências da pandemia, da inflação e do aumento do custo de vida mas o sector económico não podia estar mais satisfeito com os resultados: estamos 2,6% acima dos níveis anteriores à pandemia, 2019, «o que não acontece com outros países» da União Europeia.

«Um défice dentro do patamar 1,5%, abaixo de 1,5% do Produto [Interno Bruto] e uma dívida pública de 115% do Produto», são, considera o ministro, «um elemento de confiança no país». Em contrapartida, no mesmo ano, verificou-se uma descida substancial do salário real (-4,5%).

Mas Medina não é o único que, perante as dificuldade sentidas pelos trabalhadores e a grave situação que o PS prolonga na educação e no SNS, assume uma postura celebratória.

A economia está de boa saúde, os trabalhadores é que estão piorzinho

O que realmente se verificou em Portugal, neste período, foi uma enorme operação de transferência de riqueza dos trabalhadores para as grandes empresas, que não contém o jubílio ao anunciar sucessivos anos de lucros recorde. Enquanto os salários perdem cada vez mais valor e os custos da habitação, alimentação, saúde, etc... aumentam, o Governo PS opta por boicotar todas as tentativas de proteger os rendimentos de quem, todos os dias, constrói a riqueza.

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O que representa uma inflação fixa em 2% para os salários?

A nova estratégia anunciada pelo Banco Central Europeu (BCE) de manter a inflação a 2% é melhor do que o actual paradigma, mas mantém uma lógica de controlo sobre os aumentos de salários.

Créditos / www.cgd.pt

O BCE anunciou, a aprovação de uma nova estratégia, que passa pela definição da meta de inflação (aumento generalizado dos preços de um determinado cabaz de bens e serviços). Esta deixa de estar abaixo de 2%, para passar a fixar-se neste valor. O objectivo é o de estabelecer uma meta simétrica, ideia que já vinha sendo avançada mesmo antes da pandemia. Assim, o BCE passa a fazer o que a Reserva Federal norte-americana faz há vários anos, cumprindo a tese de que se passam a dissipar incertezas quanto à taxa a aplicar.

No documento aprovado por unanimidade por todos os governadores dos bancos centrais nacionais, concluiu-se ainda que o custo com a casa é incorporado no cálculo da taxa de inflação e que as questões relacionadas com o clima passam a ter mais centralidade.

Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, já veio valorizar esta alteração, referindo, numa entrevista ao Público esta segunda-feira, que «este objectivo de 2%, com uma aproximação simétrica», permite «desvios acima e abaixo», naquilo em que considera ser «um mundo bastante diferente daquele que tínhamos até aqui, que permitirá ao BCE, perante cenários como aqueles com que fomos confrontados, transmitir uma função de reacção compatível com essa ancoragem das expectativas».

Não obstante, se de facto esta determinação pode representar uma melhoria face à actual situação (inflação sempre abaixo dos 2%), na realidade apontar para uma fixação do valor da taxa de inflação implica um controlo sobre o aumento dos salários.

A ideia dos que acompanham a teoria dominante é que o aumento dos salários acima da inflação registada no período homólogo anterior, cria pressões inflacionistas, podendo aumentar o custo de vida de forma incontrolada. Todavia, isto implica, na prática, que o salário real não aumente, ao mesmo tempo que o nível de vida das pessoas fica estagnado.

É verdade que viver-se uma realidade em que os preços sobem muitíssimo diariamente, significaria que os nossos salários perdem todos os dias capacidade de comprar o mesmo cabaz de bens ou serviços. Recorde-se o cenário de inflação galopante no pós-II Guerra Mundial, que fez estremecer a economia alemã. No entanto, este factor é utilizado pelos decisores políticos para condicionar e impedir o aumento geral dos salários, reivindicação que em Portugal ganha sentido reforçado porque o nível salarial médio é muito baixo, sobretudo quando comparado com outros países da União Europeia.

O BCE decidiu também a incorporação no cálculo da taxa de inflação dos custos com a habitação e a sua manutenção. Mas é a própria instituição que alerta que esta inclusão demorará anos, e que apenas contará com o custo de compra de uma casa para habitação própria e não para investimento.

A medida da inclusão dos custos com a manutenção da casa é uma medida positiva, porque corresponde a um dos grandes problemas identificados no cabaz. Recorde-se que já tinha sido positiva a incorporação das rendas, e esta medida vem também nesse sentido.

No que respeita à realidade portuguesa, deveria ainda ser considerada a incorporação de despesas relacionadas com a compra da primeira habitação, pois em países como Portugal a compra de primeira habitação não é um investimento, porque se trata de uma necessidade muito condicionada pelas condições reais do mercado de arrendamento.

Quanto à questão das «implicações profundas» das alterações climáticas para a estabilidade de preços, fica ainda por definir o modelo da sua inserção neste quadro.

Mas é o próprio BCE que reconhece que «as alterações climáticas e a transição para uma economia mais sustentável afectam as perspectivas em termos de estabilidade de preços através do seu impacto em indicadores macro-económicos como a inflação, o produto, o emprego, as taxas de juro, o investimento e a produtividade, a estabilidade financeira e a transmissão da política monetária». Este é um alerta a ter em conta, porque é uma situação que pode vir a conduzir a uma «acumulação indesejável de riscos financeiros relacionados com o clima».

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Se o PS (acompanhado por PSD, IL e Chega), por um lado, chumba propostas, como a do PCP, que pretendem impor controlo aos preços do cabaz alimentar, por outro, para garantir as tais contas certas, limita em milhares de milhões o indispensável investimento público.

Em relação ao que era proposto no Orçamento do Estado para 2022 (aprovado com a abstenção do PAN e Livre), o investimento público ficou aquém 2,4 mil milhões de euros. São 2,4 mil milhões que não foram investidos na melhoria da ferrovia, não foram para garantir que as maternidades e urgências permanecem abertas e que não serviram para fixar professores nas escolas (quando dezenas de milhares de alunos não têm, pelo menos, um professor a cada disciplina).

Uma vez mais, Medina comemora o desinvestimento feito pelo Governo PS: em relação aos dados da execução orçamental, «estamos no bom caminho para fecharmos o ano de 2022 dentro das metas».

É clara a razão que levou o PS de António Costa a recusar-se a reverter a maioria das medidas austeritárias de Passos Coelho

O Governo PS assume uma maior confiança relativamente ao andamento do ano de 2023, perante os lucros pornográficos de empresas dos vários sectores de actividade (grande distribuição, energia, banca, etc...). Esta perspectiva assumida pelo ministro das Finanças evoca as declarações de Luís Montenegro em 2014, já perto do final do mandato de Passos Coelho: «a vida das pessoas não está melhor mas o país está muito melhor».

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António Costa tem todas as soluções, menos no que toca aos salários

Com o retrato que o primeiro-ministro pintou hoje, em debate na Assembleia da República, «poder-se-ia mesmo concluir que os trabalhadores ainda ficam a dever dinheiro ao Governo», afirmou Jerónimo de Sousa.

António Costa quer definir prioridades do próximo Orçamento do Estado antes das férias do Verão
CréditosAntónio Cotrim / Agência Lusa

É um fenómeno de alternância que aflige tanto o PS como PSD. Ambos os partidos assumem, cada um a seu turno, o papel de ferverosos apoiantes dos aumentos dos salários e pensões. Chegados ao Governo, passam imediatamente a ser inflexíveis gestores das contas certas, limitando ao máximo qualquer aumento de rendimento da população portuguesa.

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Maioria do PS trava resposta à crise económica e social

Eliminação do corte das pensões, tributação dos ganhos extraordinários das empresas e redução do IVA na energia foram algumas das medidas recusadas pela bancada do PS no Parlamento.

CréditosMiguel A. Lopes / Agência Lusa

Depois do programa de medidas avançado pelo Governo, criticado pelos pensionistas e pelas pequenas e médias empresas, e do chumbo de um projecto com medidas de emergência para combater o aumento do custo de vida e o agravamento das desigualdades (chumbado também por PSD, CH e IL), as votações desta quinta-feira na Assembleia da República revelaram-se mais uma oportunidade desperdiçada para milhares de famílias.

Numa altura em que, revela uma sondagem publicada pela SIC/Expresso, um em cada três portugueses já está a reduzir os gastos com bens de primeira necessidade e quase 20% já começou a cortar em despesas de saúde, ao mesmo tempo que quase 70% dos portugueses já teme não conseguir pagar as contas da electricidade, da água ou do gás, o PS mantém a sua agenda.

Indiferente ao aumento do custo da energia, a bancada parlamentar do partido do Governo ficou isolada no voto contra da redução do IVA na eletricidade e no gás para os 6%, medida que contou com a abstenção do PAN. 

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Governo aceita perda de poder de compra ao manter subida dos preços

Limitadas e insuficientes, as medidas apresentadas pelo Executivo não travam a escalada da inflação porque não interrompem a subida dos preços, mas protegem os interesses dos grandes grupos económicos.

CréditosAntónio Pedro Santos / EPA

Chegou a ser descrito como «pacotão», mas o que se percebe do conjunto de medidas anunciadas esta segunda-feira por António Costa é, mais uma vez, a falta de vontade política para uma resposta estrutural aos problemas com que os portugueses estão confrontados e, novamente também, a intenção de deixar a salvo os interesses dos grandes grupos económicos ao não intervir, por exemplo, na fixação dos preços, medida que poderia dar alguma estabilidade aos bolsos das famílias. 

Ao contrário do que afirmou esta manhã o ministro das Finanças, o programa definido não só está longe de ser «eficaz» na resposta, tendo em conta que é curto e concentrado no tempo, como se revela prejudicial para os pensionistas, ao comprometer o rendimento destes a longo prazo. 

Segundo o que foi aprovado ontem em Conselho de Ministros, no próximo mês os pensionistas (que recebem até 5318,4 euros mensais) vão receber uma prestação única equivalente a meia pensão, juntamente com o valor da prestação mensal. Mas este bónus acaba por não o ser, já que o Governo adianta aos pensionistas uma parte do valor que deveriam receber em 2023 pela actualização automática das pensões, prevista na lei. 

Nos meses de Novembro e Dezembro, e não obstante não se perspectivar uma alteração favorável da inflação, o valor das pensões voltará a ser o de Setembro. Entretanto, a partir de Janeiro do próximo ano, em vez do mecanismo de actualização automática previsto na lei, que, a ser aplicado, ditaria aumentos entre os 7,1% e os 8%, o Executivo propõe-se realizar aumentos que ficam apenas entre 3,53% e 4,43%, ou seja, praticamente metade, não acolhendo o valor da inflação em 2023.

Tendo em conta esta alteração, e assumindo que não haverá outras, a partir de 2024 os pensionistas irão receber menos do que receberiam se o Governo de António Costa não tivesse avançado com este «bónus». 

Recorde-se que, em Maio, na discussão na especialidade do Orçamento do Estado, o PS (e também a IL) chumbou o aumento das pensões e dos salários da Administração Pública, mantendo-se para estes a miserável cifra de 0,9%. O pacote de medidas apresentado com grande adjectivação pelo Executivo deixa de fora o aumento dos salários, nomeadamente do salário mínimo nacional, e medidas como a fixação dos preços ou a taxação dos lucros dos grandes grupos económicos, que permitiriam o reforço das funções sociais do Estado. 

Em vez de um real aumento dos salários, o Governo fica-se por uma prestação única, também em Outubro, de 125 euros a cada trabalhador que ganhe até 2700 euros brutos mensais, mas que não chega sequer a metade do valor da inflação já verificado. Veja-se o caso de um trabalhador que aufere o salário mínimo nacional e que desde o início do ano tem estado a perder 50 euros todos os meses.

No mesmo mês e a pensar nos mais novos, mas pouco, foi considerado um cheque único e irrepetível de 50 euros «por cada descendente, criança ou jovem» que as famílias tenham a cargo. A medida não vai servir sequer para aliviar o custo do regresso às aulas e que anda, em média, segundo revelou o JN esta segunda-feira, nos 350 euros por aluno do Ensino Básico e nos 600 euros para cada aluno do Secundário. 

Igualmente limitada no tempo é a redução do IVA da electricidade, de 13 para 6%, a que o Governo tem vindo a resistir. A medida estará em vigor a partir de Outubro e até Dezembro do próximo ano, e será aplicada aos primeiros 100 kWh consumidos em cada mês, mas desde que a potência contratada não supere os 6,9 kVA. Uma análise do Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgada em Outubro do ano passado concluiu que a despesa média anual da luz subiu mais de 200 euros no período entre 2010 e 2020, não obstante o aumento dos lucros do sector. 

No pacote aprovado pelo Governo consta também um «travão» ao aumento das rendas, com a respectiva compensação dos proprietários através de reduções no IRS e no IRC. A medida prevê um tecto máximo de 2% de aumento em 2023, em vez dos 5,43% de actualização que resultariam da aplicação do habitual coeficiente anual.

No plano dos combustíveis, o Executivo continua a fugir a medidas que poderiam aliviar as famílias, como a fixação e o controlo dos preços, ou a taxação dos lucros das petrolíferas (só a Galp arrecadou 420 milhões no primeiro semestre), optando por manter a redução do ISP, equivalente a uma descida do IVA da gasolina e do gasóleo de 23% para 13%, e o congelamento da taxa de carbono até ao final de 2022. António Costa frisou ontem que a medida equivale a poupanças de 16 euros por cada 50 litros de gasóleo e de 14 euros por cada 50 litros de gasolina. 

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A tributação dos ganhos extraordinários dos sectores energético, bancário, segurador e da distribuição alimentar foi outra das iniciativas que o PS não deixou passar, aqui acompanhado por PSD, CH e IL. A proposta dos comunistas previa uma contribuição aplicável às empresas com lucros superiores a 35 milhões de euros em 2022 e 2023. 

Os mesmos que chumbaram a taxação dos grandes grupos económicos opuseram-se também a um aumento intercalar dos salários de cerca de 6,9%, ainda este ano, e das pensões – proposta chumbada por PS, PSD e IL.

Em matéria de legislação laboral, a mesma tripla votou contra o fim da caducidade e a reposição do princípio do tratamento mais favorável ao trabalhador. 

Sozinho, o partido de António Costa votou ainda contra a eliminação do corte das pensões, um programa de emergência para a Serra da Estrela, a definição/execução de procedimentos para situações pós-incêndio, bem como o alargamento das medidas de apoio às vítimas dos incêndios florestais. 

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Em 2022, é agora a vez de o PSD, depois dos cortes brutais nos salários e pensões no período da Troika, se apresentar como um partido profundamente preocupado com os parcos aumentos salariais da função pública e pensões. 

Miranda «olha para o que ele diz, não olhes para o que ele faz» Sarmento, líder da bancada social-democrata, acusou, no debate de hoje na Assembleia de República, o Governo de não aumentar salários na função pública, promovendo a perda do poder de compra.  

António «contas certas» Costa foi rápido a desmanchar a retórica de um PSD que, quando esteve no poder, nunca aplicou a fórmula da actualização da lei de bases da Segurança Social. O primeiro-ministro não deixou, no entanto, de esclarecer qual é a posição do Governo de maioria absoluta do PS.

«São necessárias políticas ajustadas para que se combata a inflação», afirmou. E tal só será atingido, defendeu o primeiro-ministro, «evitando alimentar uma espiral inflacionista, onde estamos a perder amanhã o que só aparentemente estamos a ganhar hoje».

O justo e razoável seria um aumento que garantisse que os trabalhadores não perdessem poder de compra face ao aumento dos preços. O Governo deixou clara qual é, concretamente, a sua posição no que toca ao aumento dos salários e António Costa volta a avisar: é preciso «o máximo de cautela, para evitar criar uma espiral da qual ninguém depois sabe sair».

Aumentam os custos e aumentam os lucros, só os salários ficam na mesma

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«Não podem ser sempre os mesmos a pagar»

«Fraude», «truque» ou «embuste» foram algumas das expressões usadas esta tarde no Parlamento para classificar as medidas vertidas no programa que o Governo apresentou, alegando responder aos problemas do País. 

CréditosTiago Petinga / Agência Lusa

Depois do chumbo do Orçamento do Estado para 2022, em Outubro, que a agora ministra Ana Catarina Mendes classificou então de «responsável» e de «esquerda», não obstante as medidas nele previstas permitirem alcançar a degradação das condições de vida dos trabalhadores da Administração Pública, mas também das funções sociais, como se tem visto no Serviço Nacional de Saúde (SNS), o Governo volta a socorrer-se de um plano de comunicação para defender o conjunto de medidas que gizou em nome do apoio às famílias. 

O ministro das Finanças, responsável por detalhar o programa, faltou ao debate sobre o «aumento do custo de vida e dos lucros dos grupos económicos e o agravamento das desigualdades», marcado pelo PCP, e onde foram ouvidas várias críticas à actuação do Governo. 

Paula Santos, líder da bancada parlamentar comunista, denunciou o facto de o PS se recusar a enfrentar os interesses e o poder dos grupos económicos, preferindo «sacrificar as condições de vida» dos trabalhadores, pensionistas e reformados. A crítica nasce da ausência de medidas no programa do Governo, e que o PCP já apresentou, como o aumento de salários, pensões e prestações sociais, o controlo e fixação de preços de bens e serviços essenciais e a tributação dos lucros dos grupos económicos, que, a avaliar pelo primeiro semestre do ano, gozam de boa vitalidade. 

«A inflação atingiu níveis históricos e já significou um corte de 50 euros por mês a um trabalhador que receba o salário mínimo nacional. Num ano tem um corte de quase um salário, mas o Governo acena com uma prestação de 125 euros como se isso resolvesse o problema», denunciou Paula Santos, que defendeu um «aumento intercalar do salário mínimo nacional para 800 euros já em Setembro, com a perspectiva da sua fixação em 850 euros em Janeiro de 2023».

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Governo aceita perda de poder de compra ao manter subida dos preços

Limitadas e insuficientes, as medidas apresentadas pelo Executivo não travam a escalada da inflação porque não interrompem a subida dos preços, mas protegem os interesses dos grandes grupos económicos.

CréditosAntónio Pedro Santos / EPA

Chegou a ser descrito como «pacotão», mas o que se percebe do conjunto de medidas anunciadas esta segunda-feira por António Costa é, mais uma vez, a falta de vontade política para uma resposta estrutural aos problemas com que os portugueses estão confrontados e, novamente também, a intenção de deixar a salvo os interesses dos grandes grupos económicos ao não intervir, por exemplo, na fixação dos preços, medida que poderia dar alguma estabilidade aos bolsos das famílias. 

Ao contrário do que afirmou esta manhã o ministro das Finanças, o programa definido não só está longe de ser «eficaz» na resposta, tendo em conta que é curto e concentrado no tempo, como se revela prejudicial para os pensionistas, ao comprometer o rendimento destes a longo prazo. 

Segundo o que foi aprovado ontem em Conselho de Ministros, no próximo mês os pensionistas (que recebem até 5318,4 euros mensais) vão receber uma prestação única equivalente a meia pensão, juntamente com o valor da prestação mensal. Mas este bónus acaba por não o ser, já que o Governo adianta aos pensionistas uma parte do valor que deveriam receber em 2023 pela actualização automática das pensões, prevista na lei. 

Nos meses de Novembro e Dezembro, e não obstante não se perspectivar uma alteração favorável da inflação, o valor das pensões voltará a ser o de Setembro. Entretanto, a partir de Janeiro do próximo ano, em vez do mecanismo de actualização automática previsto na lei, que, a ser aplicado, ditaria aumentos entre os 7,1% e os 8%, o Executivo propõe-se realizar aumentos que ficam apenas entre 3,53% e 4,43%, ou seja, praticamente metade, não acolhendo o valor da inflação em 2023.

Tendo em conta esta alteração, e assumindo que não haverá outras, a partir de 2024 os pensionistas irão receber menos do que receberiam se o Governo de António Costa não tivesse avançado com este «bónus». 

Recorde-se que, em Maio, na discussão na especialidade do Orçamento do Estado, o PS (e também a IL) chumbou o aumento das pensões e dos salários da Administração Pública, mantendo-se para estes a miserável cifra de 0,9%. O pacote de medidas apresentado com grande adjectivação pelo Executivo deixa de fora o aumento dos salários, nomeadamente do salário mínimo nacional, e medidas como a fixação dos preços ou a taxação dos lucros dos grandes grupos económicos, que permitiriam o reforço das funções sociais do Estado. 

Em vez de um real aumento dos salários, o Governo fica-se por uma prestação única, também em Outubro, de 125 euros a cada trabalhador que ganhe até 2700 euros brutos mensais, mas que não chega sequer a metade do valor da inflação já verificado. Veja-se o caso de um trabalhador que aufere o salário mínimo nacional e que desde o início do ano tem estado a perder 50 euros todos os meses.

No mesmo mês e a pensar nos mais novos, mas pouco, foi considerado um cheque único e irrepetível de 50 euros «por cada descendente, criança ou jovem» que as famílias tenham a cargo. A medida não vai servir sequer para aliviar o custo do regresso às aulas e que anda, em média, segundo revelou o JN esta segunda-feira, nos 350 euros por aluno do Ensino Básico e nos 600 euros para cada aluno do Secundário. 

Igualmente limitada no tempo é a redução do IVA da electricidade, de 13 para 6%, a que o Governo tem vindo a resistir. A medida estará em vigor a partir de Outubro e até Dezembro do próximo ano, e será aplicada aos primeiros 100 kWh consumidos em cada mês, mas desde que a potência contratada não supere os 6,9 kVA. Uma análise do Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgada em Outubro do ano passado concluiu que a despesa média anual da luz subiu mais de 200 euros no período entre 2010 e 2020, não obstante o aumento dos lucros do sector. 

No pacote aprovado pelo Governo consta também um «travão» ao aumento das rendas, com a respectiva compensação dos proprietários através de reduções no IRS e no IRC. A medida prevê um tecto máximo de 2% de aumento em 2023, em vez dos 5,43% de actualização que resultariam da aplicação do habitual coeficiente anual.

No plano dos combustíveis, o Executivo continua a fugir a medidas que poderiam aliviar as famílias, como a fixação e o controlo dos preços, ou a taxação dos lucros das petrolíferas (só a Galp arrecadou 420 milhões no primeiro semestre), optando por manter a redução do ISP, equivalente a uma descida do IVA da gasolina e do gasóleo de 23% para 13%, e o congelamento da taxa de carbono até ao final de 2022. António Costa frisou ontem que a medida equivale a poupanças de 16 euros por cada 50 litros de gasóleo e de 14 euros por cada 50 litros de gasolina. 

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Sobre a proposta do Governo para os pensionistas, uma das mais contestadas pela oposição, Paula Santos assumiu tratar-se de «uma fraude», acusando o Governo de «condicionar a valorização das pensões e reformas». «O Governo que anda há meses a propagandear o aumento histórico, afinal o que pretende, na verdade é condicionar e obstaculizar a valorização das pensões e das reformas», disse.

Apesar de prever uma redução de 250 euros anuais na conta dos pensionistas após 2023, como salientou a deputada bloquista Mariana Mortágua, Gabriel Bastos, secretário de Estado da Segurança Social, alegou que a opção tomada pelo Governo «não prejudica em um cêntimo os pensionistas». Por outro lado, e recuperando a ideia de «contas certas», António Mendonça Mendes, secretário de Estado Adjunto e dos Assuntos Fiscais, argumentou ser «necessário responder ao que o País tem capacidade para enfrentar 2023 com grandes certezas», escamoteando o facto de o Executivo travar a lei que permitia valorizar as pensões.  

Governo prepara entrega serviços de saúde a privados

O estado do SNS foi outro dos temas em debate, com deputados, como João Dias do PCP, a acusarem o Governo de estar a preparar a entrega de mais serviços públicos aos privados. Os comunistas exigem o reforço do financiamento do SNS e se valorizem carreiras e remunerações dos profissionais de saúde.

«O Governo assistiu passivamente ao enfraquecimento do SNS», criticou João Dias, realçando que «são os interesses dos grupos privados da saúde que determinam a estratégia de reduzir o serviço público a um mínimo assistencialista que responda aos utentes mais frágeis deixando o restante para favorecer o lucro do sector privado».

Pelo BE, o deputado Pedro Filipe Soares recordou o facto de este ter sido intitulado o «orçamento mais à esquerda de sempre», realçando que «falta vontade de cuidar dos serviços públicos». O deputado Rodrigo Saraiva, da IL, acusou o Governo de incompetência, enquanto o social-democrata Ricardo Baptista Leite acusou o PS de se ter «escondido atrás de uma maioria absoluta para não responder perante o País», apesar da vontade do PSD não ser diferente quanto a entregar o SNS aos privados

«Até quando a impunidade dos grupos económicos?»

A pergunta foi largada no hemiciclo pelo deputado comunista Bruno Dias a propósito dos lucros dos grandes grupos, que disparam «à custa dos sacrifícios do povo». Bruno Dias aproveitou para confrontar o Governo com o facto de o brutal aumento da energia e dos combustíveis resultar em lucros milionários para os grupos económicos do sector, que o Governo insiste em deixar de fora de qualquer taxação. 

«São as opções políticas de quem prefere deixar intocados os interesses do poder económico, em vez de defender o interesse nacional», registou o eleito, salientando que as medidas anunciadas pelo Governo «são curtas e tardias». «Andamos há anos a fio a propor essa medida (regresso à tarifa regulada no gás). Sabe quando é que foi a última vez? Foi agora em Maio, mas teve o voto contra do CH, IL, PSD e PS», registou Bruno Dias, salientando que o mesmo aconteceu para a tarifa regulada da electricidade. 

Reconhecendo o facto de o PCP ter feito a proposta para regresso ao mercado regulado numa altura em que os efeitos da inflação galopante eram já bem visíveis, João Galamba escusou-se a dizer que «as medidas se tomam quando são necessárias».

«O Governo insiste em ignorar o descontrolo absoluto sobre a formação de preços e sobre as margens abusivas e injustificadas, que continuam com total impunidade», disse ainda Bruno Dias, realçando que a margem bruta de refinação na Galp «quase quintuplicou». Também o deputado Rui Tavares (Livre) salientou que não pode haver «medo de intervir legalmente na formação de preços», realçando que, em «em momentos como o que estamos a viver, isso não tem nada de mais, é, aliás, o básico da resposta à crise».

A encerrar o debate do custo de vida, a deputada comunista Alma Rivera recuperou o pacote do Governo para denunciar que, quando este opta por uma prestação para todos os trabalhadores que não cobre metade do valor perdido com a inflação, «aquilo que realmente está a fazer é a submeter-se ao grande patronato ao não operar um aumento geral dos salários absolutamente urgente», realçando haver «todas as condições» para avançar com as soluções apresentadas pelo PCP na Assembleia da República.

A deputada acabou a pedir «coragem» ao Executivo de António Costa, sublinhando que «não podem ser sempre os mesmos a pagar» e que «é preciso escolher o povo e o País».

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A actual dissonância entre salários dos trabalhadores e os lucros das grandes empresas entrou no debate pela voz do PCP, que alertou para o facto de «os portugueses pagarem, hoje, mais 24% pela energia, mais 19% pelo peixe, mais 17% pela carne, mais 12% pelos produtos de mercearia, mais 10% pelas frutas e legumes, mais 17% pelo material escolar».

Em contraste, «as grandes empresas cotadas na bolsa arrecadaram, só no primeiro semestre, dois mil e trezentos milhões de euros de lucros».

As respostas foram evasivas. O primeiro-ministro afirmou ter ajudado muito os portugueses, acrescentou que aplicou muitas medidas de apoio, que se amparou agora as pessoas e as famílias, irá fazer o mesmo no futuro mas, por detrás desta cortina de fumo, o Governo recusou-se a esclarecer porque é que não apoia a taxação dos grandes lucros especulativos e a instituição de limites no aumento dos preços.

«Poder-se-ia mesmo concluir que os trabalhadores ainda ficam a dever dinheiro ao Governo, tal como os reformados e pensionistas», afirmou, em jeito de ironia, Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP.

Sem resposta para os salários e pensões, PS apresenta uma mão-cheia de nada para o problema da habitação

A habitação foi outro dos temas levantados pelos deputados comunistas. A inexistência de casas e quartos disponíveis para o arrendamento de jovens tem sido um dos temas centrais do novo ano lectivo, assim como uma das armas de arremesso usadas pelas associações de proprietários, nos últimos meses.

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Procura-se alojamento

Apesar de estar na ordem do dia, o problema do alojamento não é nem um problema recente, nem um problema desligado dos restantes problemas estruturais do Ensino Superior. 

Créditos / ulisboa.pt

Os estudantes vivem nos dias de hoje, tal como a restante população, profundas dificuldades directamente associadas ao aumento geral do custo de vida. O papel de qualquer dirigente associativo deve passar por uma reflexão profunda do actual nível de agravamento das condições do Ensino Superior, as consequências que isto acarreta para a vida dos estudantes e a construção e defesa de reivindicações que vão de encontro a solucionar todos estes problemas.

Para além de todos os entraves proporcionados pela existência da propina, as consequências do processo de Bolonha e as condições de financiamento ligadas ao regime fundacional, os estudantes do Ensino Superior irão encontrar na entrada para este ano lectivo uma dificuldade acrescida no acesso a um espaço digno para habitação. 

Segundo os dados disponibilizados pelo PNAES (Plano Nacional para o Alojamento no Ensino Superior) apenas 9% dos 175 mil estudantes deslocados tiveram acesso a uma cama numa residência da sua respectiva instituição de Ensino Superior. Mesmo quando analisamos os dados que parecem mais animadores, como por exemplo o facto de 77% dos alunos deslocados identificados, enquanto estando em situação de carência terem esse acesso garantido a uma cama, é necessário ter em conta que nem todos os alunos que passam profundas dificuldades no plano económico para garantir a sua frequência no Ensino Superior estão abrangidos por esta categoria. E, neste momento, apesar do referido número ser substancial, continuam a existir bastantes estudantes deslocados nesta situação que ainda não têm acesso a uma cama nas residências.

Este números denotam uma prova clara da tendência do Estado para a desresponsabilização para com o Ensino Superior e os estudantes que o frequentam. Esta tendência necessita de ser reconhecida e analisada com bastante seriedade, de forma a que os estudantes consigam reivindicar e lutar por um melhor ensino que é deles por direito.

«Para além de todos os entraves proporcionados pela existência da propina, as consequências do processo de Bolonha e as condições de financiamento ligadas ao regime fundacional, os estudantes do Ensino Superior irão encontrar na entrada para este ano lectivo uma dificuldade acrescida no acesso a um espaço digno para habitação.»

Cada estudante que vê negado o acesso a uma cama numa residência é um estudante que é atirado para o mercado em busca de um quarto privado. Este é um problema que tem variadas ramificações, sendo uma delas a própria natureza e condições deste mercado, natureza que fica patente no mais recente relatório do Observatório do Alojamento Estudantil. Este relatório aponta para o facto de cerca de 80% dos quartos que estavam à disponibilidade de estudantes, por esta mesma altura no ano passado, terem sido retirados, isto em números absolutos representa um decréscimo dos 9884 quartos para os 1973, quartos que passam a estar ao serviço do sector turístico e dos nómadas digitais, colocando assim milhares de jovens numa situação de precariedade e insegurança cada vez mais marcada. É importante ainda notar que existe um acréscimo das rendas na ordem dos 10% para os quartos que estão ainda disponíveis, algo que não se pode desligar da actual inflação galopante que se tem verificado nos últimos meses e que não tem sido de todo acompanhada com as necessárias medidas de apoio à população no geral e à comunidade estudantil no particular.

O mercado mostra-se portanto incapaz de satisfazer as necessidades efectivas dos estudantes. Estas necessidades apenas podem ser colmatadas através de um cumprimento e alargamento do PNAES e por uma verdadeira responsabilização do Estado pelo Ensino Superior. Isto é inegável quando analisamos cada problema dos estudantes na sua forma concreta, nos dias que passam. 

Apesar de estar na ordem do dia, o problema do alojamento não é nem um problema recente, nem um problema que pode estar desligado dos restantes problemas estruturais do Ensino Superior. No passado dia 24 de Março, milhares de estudantes levaram a sua luta para a rua na defesa de um Ensino Superior público, democrático, gratuito e de qualidade, hasteando bandeiras contra as propinas e emolumentos, contra a falta de estudantes nos órgãos decisórios da faculdade, pelo direito à cultura e lazer, contra o encurtamento das licenciaturas e desintegração de mestrados, pelo direito à habitação digna e imensos outros problemas que assombram todos os estudantes do Ensino Superior.

Hoje, a questão do alojamento é mais um ponto central que tem de servir como base do alargamento da unidade no movimento associativo estudantil. Os dirigentes associativos têm uma tarefa histórica na defesa do reforço das condições no Ensino Superior. É necessário apresentar reivindicações que vão ao encontro aos problemas reais dos estudantes que se têm vindo a agravar recentemente, tendo sempre em consideração que estes problemas só podem ser solucionados através da luta dos mesmos. Uma luta que apenas será frutífera e justa se construída na base da unidade e do diálogo. Todos os estudantes têm direito a frequentar o Ensino Superior, o direito a um alojamento acessível e de qualidade e a ter poder de decisão no futuro das suas faculdades. Lutemos para que estes direitos se materializem!


André Marques, membro da direcção da Associação de
Estudantes da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa

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Opinião
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André Marques

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De acordo com dados do Plano Nacional para o Alojamento no Ensino Superior, apenas 9% dos 175 mil estudantes deslocados tiveram acesso a uma cama numa residência da sua respectiva instituição de Ensino Superior.

Se a resposta do PS a estes problemas não se fez tardar, o horizonte definido para a sua resolução não podia ser mais demorada. O Governo de maioria absoluta do PS acenou com o seu programa de política pública de habitação (que consiste na aquisição, recuperação e construção de nova habitação), que está já em curso, afirma António Costa.

Quem espere uma resposta aos problemas de hoje, terá de esperar sentado na rua: «o tijolo não é posto hoje e o telhado amanhã». Em concreto, neste momento, a única medida que o Governo tem para apresentar a dezenas de milhares de alunos, que não têm onde ficar, é a limitação do aumento das rendas em 2% (com a devida compensação para os proprietários).

Entre o tablóide do Chega e as conspirações liberais

IL e Chega dedicaram, quase exclusivamente, as suas intervenções a alimentar casos de tablóide ou teorias de conspiração dos recessos mais obscuros da internet.

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IL: «Temos de nos habituar a viver sem» serviços públicos

A citação, proferida esta manhã por um dirigente da IL sobre a TAP, está vertida de forma subliminar no programa deste partido, que hoje analisamos, onde se perspectiva o fim das funções sociais do Estado. 

Créditos / RTP

«Reformar o Estado», ou seja, «emagrecê-lo», é a ideia-chave da Iniciativa Liberal (IL) às eleições para a Assembleia da República, alicerçada no raciocínio de que assim será possível um Estado «mais forte e mais capaz», e alcançar a «maximização da liberdade individual e da igualdade de oportunidades». Mas as propostas vertidas no programa dos liberais não batem certo com o argumentário. 

Esta manhã, um dirigente da IL dizia à Rádio Observador, num debate sobre a TAP, que os portugueses tinham de se habituar a viver sem ela. Olhando para as mais de 600 páginas do programa dos liberais, percebemos que o intuito é que nos habituemos a viver sem serviços públicos, num país mais desigual e empobrecido, e com maiores índices de precariedade laboral

Entre as propostas que concorrem para esta conclusão está o restabelecimento do banco de horas individual, por «comum acordo» entre empregado e empregador, com o horário normal de trabalho a poder esticar até «duas horas por dia, 50 por semana e 150 por ano». Na base da proposta está uma «gestão mais eficiente» das empresas, mas que na prática significa deixar de pagar o trabalho extraordinário. Quanto ao teletrabalho, o partido liderado por Cotrim de Figueiredo defende a revisão de «restrições [...] que criem obstáculos ao trabalho remoto». 

No plano dos rendimentos, a IL volta a propor a substituição do salário mínimo nacional pelo «salário mínimo municipal», associando a ideia de que tal fomentaria a «coesão territorial». Colocar os municípios a definir o salário mínimo «que mais se adequa à sua economia local» levaria ao aumento das desigualdades observadas a nível territorial. Os liberais sustentam a ideia no facto de o custo de vida variar bastante entre diferentes municípios do País, negligenciando, por exemplo, que nalgumas regiões o acesso a serviços públicos, designadamente à saúde, é mais limitado. 

Entre as condições deste salário mínimo «municipal» (ou «razoável»), a IL deixa clara a sua visão sobre as relações entre trabalhadores ou sindicatos e empresas, que, neste caso, seriam os municípios. Em resposta à possibilidade de os sindicatos poderem «ter influência sobre executivos camarários, obrigando-os a subir salário mínimo para além do que os empregadores podem pagar», a IL assume que o «risco» é «mitigado pelo facto de que as empresas podem mover-se para outras cidades, dando um incentivo aos executivos para serem razoáveis na determinação do nível de salário mínimo». Ou seja, toda uma estratégia para estagnar a evolução do salário mínimo nacional, que, qualquer que seja a região, é baixo para responder às necessidades de centenas de milhares de trabalhadores e suas famílias. 

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PS faz depender aumento dos salários de mais benefícios fiscais para as empresas

O AbrilAbril detalha algumas das propostas e inconsistências dos programas eleitorais às legislativas de 30 de Janeiro. Hoje falamos das propostas do PS. 

CréditosInácio Rosa / Agência Lusa

Tomando o exemplo recente, em que o Governo de António Costa compensou as empresas pelo aumento do salário mínimo para 705 euros, no valor de 100 milhões, o PS apresenta no seu programa às legislativas de 30 de Janeiro a criação de um quadro fiscal para que as empresas assegurem, «a par da criação de emprego líquido, políticas salariais consistentes em termos de valorização dos rendimentos e de redução das disparidades salariais, centrado na valorização dos salários médios».

Tal como o AbrilAbril tem vindo a denunciar, a compensação das empresas por um direito dos trabalhadores, além de onerar as contas públicas e comprometer o financiamento das funções sociais do Estado, é um contributo para a campanha de que a subida dos baixos salários trava a competitividade do País. 

O PS, que recusou ir além dos 705 euros de salário mínimo nacional (SMN) para 2022, meta que os patrões não queriam ultrapassar, volta a invocar a concertação social para o que chama de «acordo de médio prazo». O objectivo é atingir «pelo menos os 900 euros em 2026», mas fazendo depender a trajetória plurianual de actualização do SMN da «dinâmica do emprego e do crescimento económico». 

Depois de ter rejeitado, na Assembleia da República, uma proposta com vista a regular a sucessão das convenções colectivas, eliminando a caducidade e repondo o princípio do tratamento mais favorável ao trabalhador, o PS apela no seu programa à valorização da negociação colectiva, «através da sua promoção na fixação dos salários, na actualização das principais convenções colectivas de trabalho», e com «o objectivo de implementar sistemas de progressões e promoções, e garantindo, simultaneamente, a necessária amplitude salarial». 

O mesmo PS, que optou por voltar a suspender a caducidade da contratação colectiva, em vez de lhe pôr fim, defende agora a importância de priorizar a negociação colectiva, reconhecendo que ela «permite alinhar os salários com a produtividade das organizações, promovendo a melhoria da qualidade do emprego e dos salários». 

Outras promessas eleitorais apresentadas na esfera laboral prendem-se com as chamadas «novas formas de equilíbrio dos tempos de trabalho» e as «alterações legislativas para a Agenda do Trabalho Digno», com destaque para a possibilidade de reduzir o horário de trabalho «em diferentes sectores» através da introdução das «semanas de quatro dias».

Mas também aqui encontramos incongruências, uma vez que o PS tem vindo a chumbar sucessivamente propostas como a redução geral do horário de trabalho para as 35 horas semanais, sem perda de direitos, o combate à desregulação de horários ou a consagração de 25 dias úteis de férias para todos os trabalhadores. 

«Mais justiça social»

No campo da fiscalidade, o partido de António Costa clama pelo que é de facto uma emergência nacional, mas deixa cair uma das ferramentas para lá chegar, que é o englobamento obrigatório de rendimentos (de capital, prediais e de trabalho), uma das matérias negociadas no âmbito do Orçamento do Estado (OE) para 2022, e que o PS tinha inscrito no programa eleitoral de 2019.

Recorde-se, no entanto, que a proposta que o Governo apresentou na proposta de OE 2022 tinha uma abrangência simbólica, já que apenas era obrigatório o englobamento da compra e venda de acções para os contribuintes situados no último escalão do IRS, ficando todo o restante rendimento, incluindo o especulativo, livre da obrigatoriedade de ser englobado. 

O PS prevê «dar continuidade ao desenvolvimento de mecanismos que acentuem a progressividade do IRS» e concluir a revisão de escalões, matéria em que também não foi tão longe quanto necessário, tendo em conta que o desdobramento dos escalões proposto no Orçamento (3.º e 6.º) deixava de fora os rendimentos até 1000 euros brutos, ou seja, não aliviava os contribuintes de mais baixos rendimentos.  

Voltando à participação do Estado na valorização dos salários pagos pelo sector privado, o PS volta a puxar pela medida do IRS Jovem, «abrangendo mais jovens, durante mais anos», prevendo-se, à semelhança do que foi a sua proposta no Orçamento, que a intenção seja eliminar o limite máximo de rendimentos para aplicação da isenção. 

A promessa da regionalização

O PS, que vem adoptando truques para adiar a regionalização, como a eleição das Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) ou a desconcentração de competências para as autarquias, acena agora com um referendo (ver caixa) à regionalização para 2024.

Entretanto, compromete-se a «identificar novas competências» a descentralizar para as comunidades intermunicipais (CIM), para os municípios e para as freguesias, «aprofundando» áreas já descentralizadas e «identificando novos domínios». 

O PS fala na necessidade de «assegurar serviços de proximidade», quando ainda estão em falta milhares de eleitos autárquicos devido à «reforma administrativa» do PSD e do CDS-PP, que riscou do mapa nacional mais de 1000 freguesias, rurais e urbanas, afastando os eleitos das populações. Uma das promessas do PS na campanha eleitoral de 2015 era revertê-la, mas tudo tem feito para a manter na gaveta.

Curioso é também que a regionalização e a coesão territorial surjam em capítulos distintos do programa eleitoral do PS, o que talvez ajude a explicar a falta de visão que ainda persiste nesta matéria.  

Capitalizar propostas alheias

Ao longo do programa eleitoral do Partido Socialista é possível observar a capitalização de propostas de outras forças políticas, que foram negociadas ao longo dos últimos seis anos, designadamente do PCP. É o caso da redução dos preços dos passes em todo o território, da manutenção dos manuais escolares gratuitos (medida que o PS tem feito depender da devolução no final de cada ano lectivo, a partir do 1.º Ciclo) e da «progressiva gratuitidade da frequência de creche».

Mas também a redução dos impostos sobre as pequenas e médias empresas, «acabando definitivamente com o Pagamento Especial por Conta», e o aumento extraordinário das pensões, com retroactivos a 1 de Janeiro. 

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Taxar menos os que mais têm. Com o argumento de querer «pôr o País a crescer», a Iniciativa Liberal coloca entre as suas prioridades a introdução de uma taxa única de IRS de 15%, admitindo que o processo comece de forma gradual, com duas taxas de 15% e de 28%. Ao mesmo tempo, propõe a redução do IRC, de 21% para 15%, e a eliminação da derrama estadual, assim como a privatização das poucas empresas estratégicas que restam ao País, como a TAP, a CGD e a RTP. 

Quanto ao Serviço Nacional de Saúde, a proposta da IL é que ele evolua para um sistema onde o financiamento é público, mas a prestação pode ser pública e privada, continuando assim a engordar as empresas que se dedicam ao negócio da doença. Neste sentido, a IL pretende retirar da Lei de Bases da Saúde a exigência de que a gestão privada dos hospitais públicos tem de ser «excepcional», «supletiva» e «temporária. Entre outros objectivos, os liberais colocam a possibilidade de recuperar parcerias público-privado (PPP), como no caso dos hospitais de Loures, Braga e Vila Franca de Xira. 

Com base no demagógico argumento da «liberdade de escolha», a IL propõe uma «reforma do sistema» de Educação pela alteração do «financiamento do Estado para o financiamento do aluno», descapitalizando a Escola Pública e colocando mais uma vez o Estado a comparticipar escolas privadas ou sociais.

O chavão da «igualdade de oportunidades», que a Iniciativa Liberal tanto usa na campanha eleitoral às legislativas de 30 de Janeiro, esbarra na proposta de acabar com a dependência de avaliações do Ensino Secundário para entrada no 1.º ciclo do Superior. Os liberais defendem que seja atribuída às instituições de Ensino Superior a «liberdade e responsabilidade para determinar os seus métodos de admissão (incluindo testes de aptidão, vocacionais ou outros)». Medida que seria um recuo no caminho da democratização do ensino. 

A «reforma do sistema de pensões», ou, simplesmente, a descapitalização da Segurança Social, é outra das propostas da IL, com «a introdução de um pilar de recapitalização baseado na eliminação da taxa social única para os empregadores», ao mesmo tempo que se mantém a «manutenção obrigatória» da TSU dos trabalhadores. Ou seja, uma parte dos descontos seria feita para a Segurança Social e a outra parte para um fundo, que a IL designa por «novo pilar no sistema nacional de pensões de reforma».

Os liberais admitem a possibilidade de, adicionalmente, existirem incentivos fiscais às entidades empregadoras que decidam voluntariamente fazer contribuições adicionais para este fundo, cuja entidade gestora só teria a obrigatoriedade de pertencer ao sector público estatal «em momento inicial».

Uma espécie de jogo bolsista, através do qual a IL pretende fazer acreditar que as reformas dos trabalhadores ficarão mais seguras do que no solidário mecanismo de transferência de rendimentos de contribuintes activos para reformados. O partido de Cotrim de Figueiredo escuda-se na preocupante evolução demográfica no nosso país, com cada vez menos trabalhadores do que reformados e pensionistas, quando a receita seria, por exemplo, diversificar as fontes de financiamento da Segurança Social. 

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Sobre a alucinada conspiração apresentada pela Iniciativa Liberal, segundo a qual o Partido Comunista Chinês tem instaladas esquadras policiais clandestinas em Portugal, repatriando, ocasionalmente e com recurso à força, cidadãos chineses emigrados no nosso país, António Costa garantiu que nenhuma instituição de Estado português tinha conhecimento dessa teoria. Nomeadamente, por ser falsa.

Instado a apresentar provas, João Cotrim de Figueiredo lá assumiu que as provas que tinha para insinuar «estavam na Internet», uma lógica não muito distante do militante do PNR que, há vários anos, mandava os jornalistas ir pesquisar no Google provas das afirmações mirabolantes que fazia.

A organização que fez a denúncia original sustenta esta teoria conspirativa em sites como o 0039italia, sem qualquer reputação ou fiabilidade, não apresentando nenhum dado concreto, factual, que sustente a afirmação.

António Costa sugeriu que o dirigente liberal desse conta destas informações que recolheu na Internet à Procuradoria-Geral da República. Isto, claro, se não fosse este apenas mais um caso em que a IL cria manobras de distracção para criar polémicas artificiais nas redes sociais.

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É certo que a vida das pessoas está muito pior, que não conseguem marcar consultas nos hospitais, que não conseguem pagar as rendas, que perderam salário (embora tenham aumentado a produtividade), mas as administrações da Jerónimo Martim, da Sonae, do Santander, da Galp meteram ao bolso milhares de milhões de euros. Foquemo-nos antes no positivo.

Fernando Medina não renuncia a deixar um último aviso ao povo português: «a inflação diminuir não significa que os preços caiam, significa que aumentarão menos do que estavam a aumentar». Sem interesse por parte do PS, os povos que lidem com isso.

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Na Assembleia, o ministro da Economia voltou a falar do «maior aumento de sempre» do salário mínimo, como se ele tivesse sido capaz de acompanhar o aumento do custo de vida ou permitisse tirar trabalhadores da pobreza. Não permite. Vangloriou-se com o crescimento do PIB em 6,7% – «Desde 1987 que o País não atingia uma marca desta dimensão». Mas há também quase 40 anos que os portugueses não pagavam tanto pelos bens de consumo essenciais e ontem ouviram-se testemunhos de reformados que já só conseguem fazer uma refeição por dia, muitas famílias com filhos que enganam a fome para os alimentar.

De que serve o crescimento da economia e dos indicadores que importam a Bruxelas, se quem cá vive não tem para comer? Ou se o nível de investimento público vem decrescendo? De que serve o facto de as exportações terem passado 50% do PIB, se quem cria o que exportamos tem salários à beira do salário mínimo? Costa e Silva reconheceu que a escalada da inflação (que o Governo se recusou contrariar) afectou o rendimento das famílias e das empresas, e disse-o como se de uma inevitabilidade se tratasse. Ao mesmo tempo, falou dos valores recorde que atingiram sectores, como o do turismo, e que graças à exploração e precariedade em que mantêm os seus trabalhadores contribuem para este estado de coisas. 

Os «sinais positivos» de que fala o ministro da Economia e do Mar reportam-se aos mesmos de sempre e não chegam a quem verdadeiramente cria a riqueza. Vejam-se os lucros escandalosos da banca, que nem por isso deixa de asfixiar o direito das famílias à habitação enquanto vai engordando os seus accionistas.

Não vale a pena insistirem com argumentos, como o da guerra, porque a realidade desmente qualquer retórica. A riqueza existe, só não é bem distribuída. E quando um governante vai ao Parlamento atestar esta realidade, fica claro que não governa para o povo.  

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Se o PS é responsável por deixar entrar e operar estas empresas, sem que inicialmente cumprissem a legislação fiscal, comercial, segurança social e laboral aplicável… Numa segunda fase, o PS passou a fazer leis à medida das pretensões desta «nova economia digital». Não apenas criou uma lei – a lei dos TVDE – que manteve intocável o modelo de negócio baseado na precariedade e na ausência quase total e direitos laborais, como agora vem criar um regime de prestação de serviços que não deixará de ser usado para descaracterizar ainda mais o trabalho com dignidade e com direitos.

Diz o PS que um trabalhador independente «com dependência económica» tem, inclusive, direito à representação sindical ou à negociação colectiva. Ora, se o PS reconhece que estes trabalhadores têm interesses socioprofissionais, porque não dá o passo, então, com vista ao reconhecimento da plenitude dos seus direitos? Porque lhes nega esse direito? Porque opta por mantê-los neste limbo de precariedade e insegurança?

A própria proposta de «presunção de contrato de trabalho no âmbito de plataforma digital» demonstra esta intenção, por parte do PS, de manter em aberto este regime intermédio, pois, ao estabelecer que esta presunção de existência de contrato de trabalho se aplica «sem prejuízo» do regime de trabalho independente, está automaticamente a assegurar às empresas da chamada «uberização» que não se preocupem, que não está em causa um ataque frontal ao seu modelo negócio predador, baseado no dumping social, no trabalho precário e com salários de miséria.

«Em nenhum dos casos, o PS logrou enfrentar a agenda retrógrada e neoliberal do patronato, repondo os progressos civilizacionais antes conseguidos e sistematicamente subtraídos aos trabalhadores desde o início deste século.»

Durante os trabalhos da proposta de lei 15/XV/1, designada de «agenda do trabalho digno», procedeu-se à discussão conjunta de projectos-lei que visavam a reposição dos valores relativos ao trabalho suplementar, reportando-os ao período antes da Troica; a reposição do principio do tratamento mais favorável e revogação da sobrevigência e caducidade das convenções colectivas; revogação da adaptabilidade e banco de horas; revogação da presunção de aceitação do despedimento por causa objectivas, por aceitação, pelo trabalhador, da compensação por antiguidade; reforço da protecção do trabalho por turnos e nocturno; 35 horas para todos os trabalhadores; reposição dos valores compensatórios e indemnizatórios por despedimento, reportando ao período antes da Troica; direito a faltas por dores menstruais, entre outros.

Reconhecendo algumas melhorias pontuais, em matéria de parentalidade, trabalhador cuidador, trabalho temporário ou criminalização do trabalho não declarado, o facto é que esta revisão laboral não apenas não resolve problemas de fundo, como introduz algumas questões muito complicadas, como a criação de uma nova categoria de trabalhador, o reforço do procedimento de escolha individual da convenção aplicável, através da consagração da possibilidade de emissão de portaria de extensão que vise contornar o prazo de dois anos de duração da escolha; ou a consagração definitiva da extinção e associação de empregadores como motivo de caducidade de convenção colectiva.

Em matéria de liberdade sindical, não obstante a regulamentação introduzida, o PS não cumpriu o que havia prometido aos sindicatos, no sentido de reforçar, definitivamente, o princípio de que os sindicatos podem entrar em todas as empresas, tenham ou não sindicalizados, sem limitações que não sejam as que a lei já dispõe. Ao invés, fugindo da afirmação deste princípio, o PS entrou por um entrelaçado de curvas e contracurvas, permitindo, desta feita de forma explícita, diversas possibilidades de obstaculização do direito por parte das entidades patronais.

Assim, é esta a concepção do PS em matéria agenda do trabalho digno. Uma agenda de manutenção da senda de retrocesso civilizacional, com algumas melhorias pontuais, incapazes de inverter a tendência de empobrecimento e degradação do direito do trabalho e dos direitos dos trabalhadores. Em nenhum dos casos, o PS logrou enfrentar a agenda retrógrada e neoliberal do patronato, repondo os progressos civilizacionais antes conseguidos e sistematicamente subtraídos aos trabalhadores desde o início deste século.

Substancialmente, tudo permanece como antes. Mudou a forma, mas não a substância!

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