Alguns arautos queixam-se da falta de participação dos jovens na vida política, mas, quando estes o tentam fazer, a Polícia é chamada a intervir. A acção não é propriamente nova. A intervenção policial é a norma quando se trata de jovens a pintar murais ou a manifestar-se, mas ontem registou-se um grave episódio.
Um conjunto de estudantes encontrava-se acampado nas instalações na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa em solidariedade com a Palestina e para exigir um cessar-fogo imediato e incondicional em Gaza. A acção foi pacífica, não causando qualquer tipo de entrave ao normal funcionamento da instituição.
Ainda assim, a Universidade de Lisboa, recorrendo às práticas do antigamente, identificando que decorria uma acção política por parte de estudantes, chamou a Polícia para os expulsar do interior da faculdade.
Se numa primeira abordagem não houve recurso à violência, após recusa dos estudantes em abandonar o local, dada toda a legitimidade em exercer o seu direito de manifestação constitucionalmente consagrado, a Polícia partiu para a força. Os estudantes foram obrigados a sair e oito pessoas foram detidas e algemadas.
Com a denúncia da intervenção policial nas redes sociais, diversas pessoas mobilizaram-se junto à porta da Faculdade de Psicologia de forma a apoiar a iniciativa dos jovens. Perante tal aparato montado, as forças policiais começaram a desferir bastonadas, segundo alguns relatos, de forma a desmobilizar os presentes.
A par da preocupante repressão e desproporcionalidade da força exercida pela Polícia, este acontecimento tem que obrigar a uma reflexão sobre o que significa a presença da Polícia em espaços que se quer que sejam livres e autónomos do ponto de vista político, cultural e científico.
Este episódio não é novo, sendo que ainda no ano passado algo de semelhante tinha acontecido na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. À data, o PCP questionou os ministros da Administração Interna e do Ensino Superior sobre as intervenções policiais em faculdades de Lisboa, considerando que estavam em causa «reacções intransigentes e antidemocráticas» e «atropelos à liberdade de manifestação».
Na pergunta assinada pela ex-deputada Alma Rivera podia ler-se que «estas situações não estão desligadas de uma cada vez maior restrição à participação dos estudantes na vida das instituições de ensino superior, de que o regime jurídico das instituições de ensino superior é instrumento, com vista a criar um caminho de completa mercantilização e privatização do ensino».
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