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Moção de censura ao governo francês: extrema-direita salva o «sistema»

Foi a primeira moção de censura ao Governo de Michel Barnier e deu para apurar onde reside a oposição. Eram necessários 289 votos e a moção de censura só alcançou 197 favoráveis. A extrema-direita salvou a marionete de Macron.

Já se antecipava que esta moção de censura ao Governo d’Os Republicanos, chefiado por Michel Barnier, iria ser apresentada pelas forças que compõem a Nova Frente Popular, e sabia-se também que a coligação de esquerda não detinha os votos necessários para a fazer aprovar, no entanto foi o suficiente para apurar vontades. 
Clémence Guetté, representante da Nova Frente Popular, ao defender as razões que levaram à apresentação de uma moção de censura, relembrou que o partido do primeiro-ministro, Os Republicanos, alcançou «apenas 6%» dos votos, tendo ficado apenas em quarto lugar nas eleições legislativas. Por este motivo, a mesma considerou o Governo «ilegítimo» e que por esse motivo a moção colocada à votação visava «estabelecer a ordem das coisas».
Ainda na coligação de esquerda, Olivier Faure do Partido Socialista acusou o novo primeiro-ministro de querer «quer fazer muito com quem tem pouco e quase nada com quem tem tudo», numa clara alusão à medidas de neo-austeridade já anunciadas, e Emeline K/Bidi do partido O Progresso acusou Barnier de ter prometido a «a continuidade, austeridade e ainda por cima e a dependência do Reagrupamento Nacional como bónus».
Para salvar a marioneta governativa encontrada por Macron, Pierre Cazeneuve, deputado do Renascimento, partido fundado pelo presidente gaulês, ignorando os resultados das eleições a vontade clara do povo francês, acusou a Nova Frente Popular de procurar «construir desequilíbrios quando os franceses precisam de um rumo». 
Para se defender, Michel Barnier subiu ao púlpito e fez a mais inovadora leitura dos resultados eleitorais. Disse o recém primeiro-ministro que a moção de censura era um  «processo de ilegitimidade» por ser apresentada antes de qualquer projecto de lei apresentado. O mais caricato foi Barnie considerar: «os franceses não puseram ninguém em condições de governar. Disseram-nos: “Vão ter de se entender, ultrapassar as vossas diferenças, unir-se”». Uma forma original para negar um quase golpe institucional. 
«Vocês querem censurar as palavras, nós só censuramos os actos»- Foi desta forma triste e pouco frontal que o deputado do Reagrupamento Nacional, Guillaume Bigot, justificou o apoio claro do seu partido a tudo o que o sistema representa: o empobrecimento de quem trabalha e enriquecimento dos milionários que vivem à custa do trabalho produzido pelos trabalhadores. «Podemos estar ansiosos por censurar. (...) Mas de quem é a culpa de não ter surgido uma maioria alternativa nesta Assembleia? A culpa é do vosso chamado bloqueio republicano», afirmou.
Para já fica claro que o extremo-centro macronista conta com todo o apoio da extrema-direita, uma vez que ambos os projectos políticos são defensores da mesma classe e, desta forma, essa está salvaguardada. Para registo fica ainda o facto desta ter sido a 35.ª moção de censura desde 2022

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