|Manuel Gouveia

Não, há 50 anos não era bom! 

O cartaz do Chega com as caras de Sócrates e de Montenegro tem um alvo muito preciso, quase subliminar, que não está nem nas ditas caras nem na discussão que o seu uso provocou. Está na ideia «Há 50 anos», que é lida como «Há 50 anos é que era bom... não havia corrupção».

Créditos / CM

Esta ideia, fascista, é completamente falsa. Há 50 anos, até àquela madrugada libertadora, havia tanta ou mais corrupção que a que há hoje. O governo estava no bolso da grande burguesia, dos latifundiários, dos grupos económicos estrangeiros. Até mais do que hoje. A censura impedia as notícias sobre corrupção, a polícia e os tribunais evitavam enfrentar as grandes famílias. Ainda mais que hoje. O povo vivia na miséria e na pobreza, era enviado para combater em guerras no estrangeiro, forçado a ver os seus filhos emigrar em massa. Tudo muito pior que hoje. E a grande burguesia, e os latifundiários, e os administradores das empresas estrangeiras viviam como nababos. Quando o povo tentava protestar, a GNR e a PIDE reprimiam e a imprensa silenciava.

Só há uma boa razão para quem viveu o fascismo ter saudades desse tempo. Porque nessa altura era jovem.

Porque a mentira e a falsificação é muita, vale a pena recordar como era DE FACTO a vida do povo português há 50 anos. 

Diz o nosso povo que o que interessa é que haja saúde. Ora estamos todos de acordo. Olhemos para os números da esperança de vida à nascença. Em média, desde 1974 vivemos mais um quinto do que vivíamos. Somos mesmo o país da União Europeia em que a Esperança de Vida mais aumentou (uns extraordinários 19,2%!!) desde 1974. 

E porque melhorou a esperança de vida? Desde logo, graças ao Serviço Nacional de Saúde, que não existia então. Olhemos para outros dados:

No tempo do fascismo é que era bom, não era? 

Mas, já agora, não foi só graças ao SNS que passámos a viver mais em Portugal. É porque passámos  a viver melhor, a ter melhores casas, com água potável, electricidade, esgotos. Que uma grande parte do povo português não tinha. Olhemos para as estatísticas, são oficiais, estas são dos censos de 1970:

E se estes números são chocantes para muitos portugueses, que já se esqueceram ou nunca foram ensinados sobre a verdadeira desgraça que era este país há 50 anos, nos distritos do Interior, essa realidade era ainda pior. Olhemos para o mesmo quadro, mas usando os dados do distrito de Beja:

Era bom, não era? 

Essa realidade estava completamente transformada em 1991. Como transmitem os Censos de então.

Particularmente notável a melhoria no acesso à electricidade – fruto da nacionalização e reorganização do sector – o extraordinário aumento em 35% do número de alojamentos, e a generalizada melhoria no acesso às redes de esgoto e água canalizada, que iria prosseguir nos anos seguintes.

Que este país está muito melhor que há 50 anos é um facto indiscutível. E tem que ser a base de partida para a crítica de tudo o que se passou nestes 50 anos, onde muita coisa de mau se passou, particularmente desde 1976, desde o início do processo contra-revolucionário. Claro que Portugal podia e pode estar muito melhor do que está. Mas para isso não pode andar para trás, para antes de há 50 anos. Portugal precisa de avançar, de colocar os valores e os ideais de Abril no futuro de Portugal. Novamente! 

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