«É urgente uma mobilização massiva de ajuda humanitária internacional para evitar a miséria e ajudar as 21 milhões de pessoas que já enfrentam níveis muitos graves de fome», advoga o comunicado da Oxfam, uma das maiores organizações não-governamentais de luta contra a pobreza do mundo.
A Oxfam International alertou esta sexta-feira para o desvio de ajudas já destinadas a certos países como forma de fazer frente à crise migratória com origem na Ucrânia. As repercussões mundiais da actual «crise ucraniana» – que já se sentem no aumento dos preços de bens, alimentação e energia – poderiam minar os fundos de ajuda dos países doadores, destinados a pessoas que estão noutros «pontos quentes» humanitários, refere a organização não governamental (ONG) numa nota de imprensa. Neste sentido, o organismo indica que a União Europeia (UE) reduziu para mais de metade os fundos humanitários para Timor-Leste. Outros doadores adiantaram que vão cortar em 70% a ajuda oficial para o desenvolvimento do Burkina Faso, e outros países da África Ocidental estão a receber notícias semelhantes. Evelien Van Roemburg, directora do gabinete da Oxfam na UE, sublinhou que a população do Iémen e da Síria, os milhões que passam fome na África Oriental e Ocidental ou as pessoas que estão em acampamentos no Bangladesh «não devem ser penalizados» por causa dos cuidados que o povo da Ucrânia deve ter. Um relatório da ONU divulgado esta quinta-feira denuncia as «violações massivas de direitos humanos» dos migrantes e refugiados quando atravessam a Líbia em busca de uma vida melhor. O relatório, publicado conjuntamente pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos e pela Missão de Apoio das Nações Unidas na Líbia (UNSMIL, na sigla em inglês), revela com detalhe uma série de «terríveis violações e abusos cometidos tanto por funcionários estatais como por grupos armados e traficantes de pessoas». No resumo que antecede o documento propriamente dito – com 61 páginas e acessível apenas em inglês –, afirma-se que a investigação abarca um período de 20 meses até Agosto de 2018 e foi levada a cabo por funcionários das Nações Unidas especializados em direitos humanos, que entrevistaram mais de 1300 migrantes e refugiados na Líbia, na Nigéria e em Itália. Com base nas entrevistas e também nas visitas efectuadas a centros de detenção na Líbia, os funcionários registaram os «horrores inimagináveis» por que passam os migrantes e refugiados «desde que entram em território líbio, durante o tempo que ali permanecem e – quando conseguem sobreviver – nas tentativas de atravessar o Mar Mediterrâneo». Entre os «horrores referidos», contam-se casos de execução extrajudicial, torturas, detenções arbitrárias, violações em grupo, escravidão e trabalho forçado, denunciam ambos os organismos das Nações Unidas, sublinhando que «o clima de anarquia» que se vive actualmente no país africano é «terreno fértil para as actividades ilícitas, como o tráfico de pessoas e o contrabando». «Aqueles que conseguem chegar à costa e, no final, tentam empreender a perigosa travessia do Mediterrâneo são interceptados de forma crescente pela Guarda Costeira da Líbia (GCL), que os leva de volta para a Líbia, onde muitos são novamente submetidos ao esquema de abusos de que acabaram de escapar», alerta o relatório. Os cerca de 29 mil migrantes que a GCL obrigou a regressar ao país africano desde o início de 2017 foram transferidos para centros de detenção do Departamento de Combate à Migração Ilegal e, segundo refere o texto, milhares deles «continuam detidos indefinida e arbitrariamente, sem o devido processo, acesso a apoio legal ou a serviços consulares». Neste sentido, as Nações Unidas lamentaram que a União Europeia e os seus estados-membros tenham mantido «uma política que visa reduzir a possibilidade de os migrantes e refugiados alcançarem as costas europeias», «contribuindo para que milhares de pessoas, desesperadas, fiquem presas na Líbia». Ghassan Salamé, representante especial do secretário-geral da ONU e directora da UNSMIL, frisou que existe um «fracasso local e internacional na abordagem a esta calamidade humana escondida que continua a ter lugar na Líbia». Por seu lado, a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, destacou que «a situação é absolutamente horrorosa», e lembrou a necessidade de combater «a impunidade generalizada» para «acabar com o sofrimento de dezenas de milhares» de migrantes e refugiados, que «apenas procuram uma vida melhor». As Nações Unidas consideram que a Líbia não é um «país seguro». Mais que isso, a Líbia é, desde a intervenção promovida em 2011 pelos EUA, a França, o Reino Unido e seus aliados contra o governo de Muammar Khadafi, um Estado falhado, destruído, onde diversos grupos armados passaram a lutar entre si pelo controlo de território e de recursos. Em 2010, a Líbia era o país com maior Índice de Desenvolvimento Humano no continente africano, de acordo com dados das Nações Unidas. Com os seus imensos recursos aquíferos, petrolíferos e de gás a saque, a população das cidades líbias passou a sofrer de escassez de água, cortes de luz e falta de instalações médicas. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Citada no portal da ONG, Van Roemburg denuncia que «todos os dias ouvimos falar de super-iates e mansões apreendidos», enquanto multimilionários de todas as nacionalidades crescem de forma «obscena» com a especulação, a evasão fiscal e o aumento vertiginoso dos lucros corporativos e dos preços das acções. «Rejeitamos qualquer afirmação de acordo com a qual ajudar um refugiado da Ucrânia ou um agricultor faminto da Somália seja uma escolha», acrescentou. Os países nórdicos prometeram 300 milhões de euros – quase por inteiro a Noruega – para ajudar a Ucrânia, mas isto equivale a 40% dos fundos de ajuda orçamentados pela Noruega e, se não houver um reforço, haverá grandes cortes noutros programas, indica a nota. Também esta semana, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, alertou para situação humanitária no Iémen, após sete anos de cerco e guerra de agressão liderada pelos sauditas – com apoio dos EUA –, e num contexto de falta de fundos para a ajuda humanitária. «Se a guerra não acabar agora, caminhamos para uma situação irreversível e corremos o risco de perder toda uma geração de crianças», alertou a coordenadora humanitária da ONU para o Iémen, Lise Grande. As Nações Unidas alertaram para «o nível mais elevado» de má-nutrição entre crianças pequenas em determinadas zonas do país árabe, que há cinco anos e meio é alvo de uma violenta campanha militar liderada pela Arábia Saudita. A escalada da guerra, a crise económica, o grande impacto da pandemia de Covid-19 e a interrupção, por falta de fundos, em projectos de ajuda – ao nível do apoio alimentar e serviços de saneamento, água e higiene – «conduziram à beira do precipício uma população já exausta». Num comunicado conjunto emitido esta semana, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Programa Alimentar Mundial e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) afirmaram que mais de meio milhão de crianças com menos de cinco anos no Sul do Iémen apresentam níveis de desnutrição aguda jamais registados no país, acrescentando que um estudo em curso no Norte deve apresentar resultados «igualmente preocupantes». De acordo com o relatório das três agências das Nações Unidas, nas áreas estudadas (133 distritos no Sul do país árabe) registou-se um aumento de 15,5% de casos de má-nutrição aguda grave entre as crianças com menos de cinco anos, o que significa que pelo menos 98 mil menores nessa faixa etária correm um «risco elevado de morrer» se não receberem tratamento urgente. «Os dados que estamos a divulgar confirmam que a má-mutrição aguda entre as crianças está a atingir os níveis mais altos que vimos desde que a guerra começou», disse Lise Grande, coordenadora humanitária da ONU para o Iémen. Acrescentou que, desde Julho, tem vindo a chamar a atenção para esta situação e que «o Iémen está à beira de uma crise de segurança alimentar catastrófica». «Se a guerra não acabar agora, caminhamos para uma situação irreversível e corremos o risco de perder toda uma geração de crianças pequenas», avisou a funcionária das Nações Unidas. O Iémen enfrenta a pior crise humanitária do mundo. Particularmente afectada pela fome, a população iemenita tem sido também atingida por doenças como cólera, difteria, sarampo e dengue, na sequência da guerra de agressão lançada pela Arábia Saudita em Março de 2015, à frente de uma coligação de países aliados e que contou com forte apoio do Ocidente, nomeadamente dos EUA e do Reino Unido. Apesar de não ter conseguido alcançar os objectivos declarados de suprimir a resistência do movimento Huti Ansarullah e recolocar no poder o antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Riade, a coligação liderada pelos sauditas prossegue a guerra, continuando a fazer baixas entre a população civil, incluindo crianças. Segundo as agências da ONU, quase 80% da população iemenita (24 milhões de pessoas) dependem de alguma forma de ajuda. Em meados de Outubro, as agências apenas tinham recebido 1,43 mil milhões de dólares dos 3,2 mil milhões que são necessários, em 2020, para financiar os projectos de ajuda humanitária no Iémen. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Apesar de a ONU ter classificado a situação no Iémen como a maior crise humanitária do planeta nos tempos modernos, após quase sete anos seguidos de «morte, destruição, deslocações, fome… numa escala massiva», o secretário-geral revelou que o organismo e os seus parceiros foram obrigados a «redimensionar ou encerrar» dois terços dos programas vitais no país árabe devido a falta de fundos. De acordo com o responsável pelos Assuntos Humanitários da ONU, Martin Griffiths, são necessários quase 4,3 mil milhões de dólares, este ano, para ajudar mais de 17 milhões de pessoas no Iémen. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
ONG alerta para solidariedade selectiva com desvio de fundos para a Ucrânia
Internacional|
Migrantes e refugiados passam por «horrores inimagináveis» ao atravessar a Líbia
Um país que «não é seguro», destruído pela NATO
Contribui para uma boa ideia
«Risco de catástrofe» no Iémen
Internacional|
Iémen: má-nutrição infantil atinge nível mais elevado
Guerra de agressão e pior crise humanitária do mundo
Contribui para uma boa ideia
Contribui para uma boa ideia
A situação muito frágil, social e económica, desta região é agravada, nos últimos tempos, «por conflitos armados e políticos, cheias, e um período de seca que dura já há dois anos – sem precedentes em 40 anos – em vários países da África Oriental».
O aumento dos preços provocado pela pandemia de Covid-19, na área alimentar, já tinha deixado vários países africanos com poucas capacidades para combater, com eficácia, as muitas situações de carência verificadas. «A crise na Ucrânia traz novas consequências para estas populações, aumentando os preços de comida e comodidades para lá do que estes governos conseguem pagar».
Muitos destes países, principalmente a Etiópia, Quénia, Somália e Sudão do Sul, importam cerca de 90% do seu trigo da Ucrânia e da Rússia. Os preços já estão a disparar. Na Somália já se paga o dobro (por cereais) do que se pagava no mesmo período do ano passado.
«O mundo não pode continuar a falar até à inércia, enquanto milhões de pessoas são atiradas para a carência alimentar extrema. Não agir, agora, seria imoral e o abandono dos nossos imperativos humanitários», defendeu Gabriela Bucher, directora executiva da Oxfam.
O Bangladesh considerou o voto de condenação da invasão militar, na ONU, insuficiente, por não abrir caminho a uma solução diplomática. Em retaliação, a Lituânia recusa-se a entregar 445 mil doses de vacinas. A solidariedade e a ajuda humanitária parecem estar, nos dias que correm, sujeitas à submissão dos países necessitados às agendas geo-políticas dos estados «caridosos». A decisão do governo lituano toma contornos ainda mais incompreensivos quando confrontada com a posição aparentemente digna do delegado do Bangladesh às Nações Unidas. A ONU prevê um aumento de 40% de pessoas em situação vulnerável em relação a 2020 e estima que, em 2021, sejam necessários pelo menos 29 mil milhões de euros para garantir a ajuda humanitária. Se, no início deste ano, 170 milhões de pessoas precisavam de ajuda de emergência, a previsão para o próximo é de que esse número suba até aos 235 milhões, refere o estudo Panorama Global Humanitário 2021. O relatório, apresentado pelo Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (UNOCHA, na sigla em inglês), precisa que, se todas essas pessoas com necessidade de ajuda humanitária durante o próximo ano vivessem num país, este seria o quinto mais populoso do mundo. No contexto da pandemia de Covid-19, subiram os preços dos alimentos, diminuíram os rendimentos, foram interrompidos programas de vacinação e foram encerrados centros de ensino, alerta o texto, sublinhando que, pela primeira vez em 22 anos, a pobreza extrema aumentou – sendo de esperar que surjam múltiplas situações de fome. No fim do próximo ano, alerta a organização, 736 milhões de pessoas poderão estar em situação de pobreza extrema, a viver com menos de 1,60 euros por dia. O UNOCHA tem como objectivo chegar a 160 milhões de pessoas em situação de grande vulnerabilidade, as que mais são atingidas pela fome, conflitos armados, deslocações forçadas, efeitos de mudanças climáticas e pandemia de Covid-19, informa a Prensa Latina. Os 34 planos de resposta apresentados no relatório, coordenados pela ONU, visam dar assistência aos «mais indefesos» em 56 países. Para tal, a comunidade internacional deve contribuir com 35 mil milhões de dólares (cerca de 29 mil milhões de euros) no próximo ano. Durante a apresentação do documento, o coordenador humanitário da ONU, Mark Lowcock, explicou que estes 29 mil milhões de euros se destinam a evitar a fome, lutar contra a pobreza e manter as crianças vacinadas e na escola. Lowcock destacou a importância de unir forças para ajudar os países e pessoas que necessitam de assistência e impedir que 40 anos de progresso sejam revertidos. De acordo com o UNOCHA, os países com maior necessidade de ajuda humanitária são a Síria (4,2 mil milhões de dólares para 10,5 milhões de pessoas afectadas) e o Iémen (3,4 mil milhões para ajudar 19 milhões de pessoas), ambos sujeitos a brutais guerras de agressão dinamizadas pelas potências ocidentais e seus aliados regionais. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Em causa está a abstenção do Bangladesh na votação da resolução com o título Agressão contra a Ucrânia, a 2 de Março, que «condena inequivocamente a intervenção militar da Rússia» nesse país do leste europeu. 34 outros países assumiram a mesma posição, que contou apenas com cinco votos contra. A representação do Bangladesh reiterou o apoio do país a uma solução de paz para o conflito e o total respeito pela integridade territorial da Ucrânia, no entanto, a ausência de soluções concretas para travar a guerra no documento apresentado, ditaram o sentido de voto do país. A decisão de apoiar este país do Sul Asiático, com cerca de 165 milhões de habitantes, com a maior densidade populacional do país, com 444 600 mil doses de vacina contra a Covid-19 tinha sido tomada no início dessa mesma semana. Uma solidariedade pouco duradoura, já que o resultado da votação determinou o cancelamento do apoio. A decisão foi avançada pela Rádio e Televisão Nacional da Lituânia (LRT), entretanto confirmada pelo gabinete da primeira-ministra conservadora Ingrida Šimonytė. 53% da população bangladeshi já tem, neste momento, a vacinação completa, abaixo da média mundial. Morreram, até ao momento, 29 mil pessoas. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Lituânia cancela ajuda humanitária depois de abstenção do Bangladesh
Internacional|
Cerca de 235 milhões de pessoas devem precisar de ajuda humanitária em 2021
Contribui para uma boa ideia
Contribui para uma boa ideia
A realidade já é, neste momento, dramática: mais de 13 milhões de pessoas da Etiópia, Quénia e Somália, só no primeiro trimestre de 2022, tiveram de se deslocar na região em busca de água e pastagens. Mais de um milhão teve de fugir da cheias que assolaram o Sudão do Sul, uma região que sofre a pior praga de gafanhotos dos últimos 70 anos, destruíndo as colheitas.
No Quénia, uma redução de 70% em todas as colheitas agrícolas, levou à declaração de um desastre natural: metade das famílias no país é forçada a viver de apoios e comprar comida a crédito; Quase um milhão de cabeças de gado morreram na Somália, atirando milhares de famílias dependentes da pastorícia sem nada.
«Apenas 3%, de um total de seis mil milhões que constavam do apelo de ajuda humanitária das Nações Unidas, foram recolhidos até ao momento».
Contribui para uma boa ideia
Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.
O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.
Contribui aqui