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Chegou a greve parcial no Centro de Distribuição Postal da Moita

Neste centro de distribuição postal, que serve cerca de 40 mil habitantes, existem apenas sete carteiros. Trabalhadores vão fazer duas horas de greve no final do seu horário, entre 13 e 23 de Junho.

Apenas 7 carteiros exercem as suas funções no Centro de Distribuição Postal da Moita, servindo uma área com cerca de 40 mil habitantes 
Créditos / CGTP

Como em muitos outros pontos do país desde a privatização encetada pelo Governo PSD/CDS-PP de Pedro Passos Coelho, a greve parcial dinamizada pelos trabalhadores do Centro de Distribuição Postal da Moita tem um mesmo motivo: as pobres condições de trabalho e a falta de pessoal. Neste centro de distribuição postal estão apenas ao serviço sete carteiros, para dar resposta aos cerca de 40 mil habitantes da zona.

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CTT: um serviço «criminosamente privatizado»

Ao longo do último mês, o SNTCT promoveu acções de denúncia em dezenas de cidades, em todos os distritos e regiões autónomas. Périplo culmina amanhã, com concentração nos Restauradores, Lisboa, às 10h30.

Protestos de hoje foram antecedidos nos últimos meses por dezenas de protestos de utentes por todo o País
CréditosAntónio Cotrim / Lusa

«Há que dar a volta nos CTT», Correios de Portugal. Esta é a certeza que ficou depois de mais de um mês de contactos com a população e autarcas locais de todo o país. Santarém, Leiria, Évora, Beja, Angra do Heroísmo, Funchal, em toda a parte, o Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Correios e Telecomunicações (SNTCT/CGTP-IN) constatou a mesma realidade: uns CTT privatizados não servem.

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Sindicato percorre o País contra destruição dos CTT

A partir de 29 de Agosto, e até meados de Setembro, prosseguem as acções de esclarecimento e denúncia do SNTCT junto das populações e eleitos autárquicos.

Os CTT foram totalmente privatizados em 2014, pelo governo do PSD e do CDS-PP
CréditosManuel Almeida / Agência Lusa

Em causa, admite o Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações (SNTCT/CGTP-IN) num comunicado, está a necessidade de «dar a volta» e «parar a destruição» do que resta de bom e do «excelente serviço» que os CTT já prestaram, bem como do seu «capital mais importante», ou seja, os seus funcionários. 

Neste sentido, desde o passado dia 16 de Agosto que o SNTCT está a levar a cabo acções públicas nas capitais de distrito e regiões autónomas. Para os próximos dias estão agendadas iniciativas nos distritos do Centro: Aveiro e Viseu (29 de Agosto), Guarda e Castelo Branco (30 de Agosto), e Coimbra (31 de Agosto). 

A estrutura sindical defende a reposição nos Correios, «criminosamente privatizados», de um conjunto de aspectos, a começar pelo serviço público postal de qualidade. «Apesar de o primeiro-ministro e o Governo terem recusado a renacionalização dos CTT, desautorizado a Anacom e terem dado, de mão-beijada, aos accionistas dos CTT, um contrato de prestação do Serviço Postal Universal leonino para os últimos, o decréscimo na qualidade do serviço prestado está à vista de todos» e as sucessivas multas do regulador, «por incumprimento dos padrões mínimos de qualidade são disso a prova», refere-se na nota. 

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CTT: Milhões de lucro e falhas no serviço

O anúncio de que o lucro dos CTT no ano passado mais do que duplicou face a 2020, para 38,4 milhões de euros, surge poucos dias depois de a Anacom relatar falhas em vários centros de distribuição.

CréditosAntónio Cotrim / Agência Lusa

Os CTT obtiveram no ano passado um resultado líquido consolidado de 38,4 milhões de euros, «21,7 milhões de euros acima do obtido em 2020», refere a empresa em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

No período em análise, os rendimentos operacionais subiram 13,8% para 847,9 milhões de euros, «reflectindo um consistente processo de transformação do negócio com menor dependência do correio tradicional», sendo que esta tendência «foi sustentada pelo crescimento da área Expresso e Encomendas (+32,5% face a 2020), do Banco CTT (+20,4% face a 2020) e dos serviços financeiros e retalho (+11%)». 

Desde a privatização da empresa, que em Janeiro propôs aumentos salariais de 13 cêntimos, que o registo de lucros e distribuição de dividendos tem convivido com o encerramento de estações e a livre degradação do serviço postal.

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Nos CTT, o Governo cede em tudo ao Grupo Champalimaud

O Governo assume a submissão total face às reivindicações de Manuel Champalimaud e demais accionistas dos CTT, através da resolução do Conselho de Ministros publicada em Diário da República.

Os comunistas apelam ao Governo que assuma as suas responsabilidades e trave o caminho de degradação do serviço postal
Créditos / União dos Sindicatos de Évora (CGTP-IN)

A realidade é tramada. Estava o Governo – e os comentadores do costume – tão empolgado em demonstrar que estamos perante o governo mais à esquerda desde o Conselho de Comissários do Povo, e que os Decretos da Paz e da Terra só não iam entrar em vigor por culpa do voto contra do PCP ao Orçamento do Estado, e eis que sai o Diário da República de 3 de Novembro com mais uma dose de realidade pura e dura (como se não chegasse o estado do SNS, os salários congelados, o preço das rendas e da energia, a habitação inacessível, etc.).

Veio esta realidade na forma da publicação da resolução do Conselho de Ministros sobre os CTT, aprovada ainda em Setembro, mas que só agora viu a luz do dia (coincidências...). E não é que o Governo ajoelha soezmente aos pés das reivindicações de Manuel Champalimaud e demais accionistas dos CTT? É que a submissão é total. Vejamos alguns exemplos:

– Os capitalistas que esmifram a concessão pública vinham-se queixando do facto de a ANACOM não se submeter aos seus ditames (o que de facto é uma raridade, pois os reguladores independentes foram criados para serem independentes do poder político e submissos ao poder económico). E o Governo determina que «os parâmetros de qualidade do Serviço Postal Universal e os objectivos de desempenho passam a ser definidos pelo concedente», deixando de ser fixados pela ANACOM como prevê a Lei Postal!

«E o Governo «mais à esquerda» de que alguns têm memória e outros expectativa (o que diz muito dessa memória e dessa expectativa, e pouco deste Governo), decide entregar por «ajuste directo» a um grupo capitalista a concessão do Serviço Postal Universal, passando a pagar por um serviço que sempre foi lucrativo no Estado, e permitindo a continuação da brutal degradação do serviço postal.»

– Os capitalistas que esbulham os utentes dos Correios vinham reclamando do facto de a ANACOM não os autorizar a maiores aumentos de preços (apesar de terem desde a privatização já imposto um aumento de 56% na tarifa base). Pois o Governo determina «que os preços são aprovados pelo Governo, sob proposta da concessionária», em vez de serem fixados pela ANACOM como determina a Lei Postal em vigor.

O carácter «revolucionário» da resolução só é reflectido pelo facto de a mesma determinar que, como a lei actual não permite ao Governo fazer o que quer, o Governo irá primeiro mudar a lei por decreto e depois fazer o contrato com o privado. Tudo antes de 31 de Dezembro.

E o Governo «mais à esquerda» de que alguns têm memória e outros expectativa (o que diz muito dessa memória e dessa expectativa, e pouco deste Governo), decide entregar por «ajuste directo» a um grupo capitalista a concessão do Serviço Postal Universal, passando a pagar por um serviço que sempre foi lucrativo no Estado, e permitindo a continuação da brutal degradação do serviço postal.

E, entretanto, ainda se prepara para que todos paguemos uns milhões de euros em «equilíbrio financeiro da concessão». Sobre isso, sobre o escândalo de o contrato de concessão remeter «os litígios» entre o Estado e o privado para os «tribunais» arbitrais, a resolução do Conselho de Ministros nada diz, o que augura que o mesmo mecanismo de transferência de fundos públicos para os bolsos privados está salvaguardado no próximo contrato de concessão.

Claro que todo este percurso só é possível porque ele ocorre perante o silêncio cúmplice da comunicação social dominada, fiel intérprete dos desejos e interesses do grande capital. Fidelidade que partilha com um Governo que em seis anos sempre se opôs à renacionalização dos CTT, que seis vezes se aliou a PSD e CDS-PP (e também ao Chega e à IL) para travar projectos de renacionalização, e que apenas aceitou aprovar declarações de intenções que nunca pensou concretizar e criar grupos de trabalho que nada estudaram e se limitaram a ganhar tempo. Como o comportamento presente deixa exposto.

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Apesar disso, o Governo não só tem rejeitado a renacionalização da empresa, reivindicada por trabalhadores e utentes, como decidiu atribuir, em Fevereiro, um novo contrato de concessão por um período de sete anos, que o Tribunal de Contas entendeu por bem dispensar de visto

No início desta semana, a Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom) divulgou o resultado de 22 acções de fiscalização em 13 centros de distribuição postal, entre Julho de 2021 e Janeiro deste ano. Segundo confirmou então a Anacom, existem «demoras significativas no encaminhamento do correio prioritário e correio normal, assim como a ausência de distribuição postal em certos giros em determinados dias, situações que perduram por períodos de tempo bastante alargados».

Para o regulador, os CTT deviam corrigir as deficiências verificadas «o mais urgentemente possível», pondo termo aos atrasos na distribuição do correio que chega diariamente a cada um dos centros de distribuição. 

A degradação do serviço postal não é novidade para os utentes e tampouco para a Anacom, que em 2020 chegou a determinar a descida dos preços devido ao incumprimento de indicadores de qualidade.

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Acrescenta-se a necessidade de «prover trabalhadores em número suficiente», nas ruas e balcões. Actualmente faltam, a nível nacional, mais de 750 carteiros e 250 técnicos nos balcões. «Os giros dobrados há meses, os balcões vazios há outros tantos, os trabalhadores esgotados e a quem ainda tentam restringir o gozo de férias com a família, tudo isto tem que ter um fim», defende o sindicato. 

No texto alerta-se igualmente para a necessidade de melhores condições de trabalho para todos os trabalhadores, «sujeitos à "lei da rolha"», não podendo dizer, por exemplo, que o correio que estão a distribuir com atraso (por vezes de semanas) teria sido distribuído a tempo e horas se não tivessem visto os seus giros acrescentados por extinção de outros e se cada giro tivesse um carteiro titular.

O SNTCT defende que a administração dos Correios tem que negociar/pagar salários que respeitem a qualificação profissional de cada trabalhador. Afinal de contas, com mais de 38 milhões de euros de lucro em 2022, «em que 36 milhões foram directa ou indirectamente para o bolso dos accionistas», a administração da empresa aplicou, unilateralmente, um aumento de 7,50 euros a cada trabalhador. 

Por outro lado, «a gestão privada dos CTT tem que acabar com a lamúria de, diz, não ter quem queira trabalhar na empresa, fundamentalmente os jovens», uma vez que «lhes oferece trabalho só para o Verão e, pasme-se, quando mesmo assim algum jovem ou menos jovem se lhes dirige, só lhes oferecem uma ou duas semanas de trabalho, quando não são dois ou três dias». 

O SNTCT critica também o «assédio moral» por parte da administração, que «tenta menorizar» trabalhadores com carreiras longas para os levar a sair da empresa, com graves penalizações. 

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No imediato, há alguma intervenções que a gestão privada dos CTT deve introduzir: a reposição da prestação de um Serviço Publico Postal de qualidade (os CTT privatizados foram sucessivamente alvo de multas por incumprimento dos mínimos estabelecidos por lei); a contratação de mais de 750 carteiros e 250 técnicos nos balcões (no mínimo); melhorar as condições de trabalho para todos os trabalhadores dos CTT.

Já é mais do que tempo, defende o sindicato, de «acabar com a lamúria» recorrente da gestão privada, persistentemente a lamentar-se de os jovens não querem trabalhar. «Como quer a gestão privada dos CTT que os jovens queiram trabalhar na empresa se lhes oferece trabalho só para o Verão e, pasme-se, quando, mesmo assim, algum jovem, ou menos jovem, se lhes dirige, só lhes oferecem uma ou duas semanas de trabalho, quando não são dois ou três dias?».

Por fim, os CTT «têm que acabar com o assédio moral com que vêm tentando intimidar e menorizar trabalhadores com carreiras longas, para os levar a saír da empresa (despedindo-se ou aposentando-se antecipadamente)». 

Para o SNTCT, é claro: «na empresa só está a mais quem tem a desfaçatez de mandar, ou de, a mando, assediar trabalhadores com carreira e provas dadas nos CTT». O sindicato lamenta, no entanto, que tenha sido exactamente a estes que o Governo PS tenha decidido, «desautorizando a ANACOM», dar, «de mão-beijada», um contrato de prestação de serviço postal universal «leonino», recusando a necessária nacionalização.

A concentração de dirigentes, delegados e activistas sindicais do SNTCT/CGTP-IN terá lugar amanhã, na Praça dos Restauradores, em Lisboa, às 10h30, contando com a presença da secretária-geral da CGTP-IN, Isabel Camarinha.

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Esta situação, que se tornou endémica desde que os CTT viraram o foco para a acumulação de lucros para os accionistas privadas e ignoraram os serviços públicos (a administração privada voltou a falhar todos os 22 indicadores de qualidade do serviço postal em 2022, algo que se repete desde 2018), «põe em causa a normal distribuição do correio e causa atrasos constantes na entrega da correspondência normal».

«Para além do efectivos prejuízos que toda a situação provoca na normal distribuição do serviço postal nacional, é necessário a contratação de mais carteiros e a criação de melhores condições de trabalho», explica o comunicado da União dos Sindicatos de Setúbal (USS/CGTP-IN), enviado ao AbrilAbril.

Com início no dia 13 de Junho, os carteiros do centro de distribuição postal da Moita vão realizar uma greve parcial às duas últimas horas do período normal de trabalho, terminando a acção de luta a 23 de Junho.

«A União dos Sindicatos de Setúbal está solidária com a luta destes carteiros e defende que a empresa CTT seja renacionalizada, para que o serviço público postal seja igual em todo o país e não seja posto em causa pela falta de recursos humanos ou exaustão dos actuais trabalhadores».

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