Em pouco mais de cinco minutos, o primeiro-ministro endereçou uma mensagem de Natal, a primeira desde que ocupa o cargo. As novidades foram nulas e o que foi dito não passou de um breve resumo do que o executivo está a realizar.
Luís Montenegro aproveitou o momento para vender as supostas virtudes do Orçamento do Estado, como a não subida de impostos, a actualização das pensões e o aumento do Salário Mínimo Nacional, segundo o acordo alcançado em concertação social. A par disto, valorizou ainda um suposto alívio da carga fiscal.
O que o primeiro-ministro não disse foi que os impostos que recaem sobre os trabalhadores, nomeadamente os indirectos, continuam altos, que a actualização das pensões é irrisória, que a subida salarial é aquém das necessidades efectivas dos trabalhadores, e que o alívio fiscal beneficia única e exclusivamente as grandes empresas.
Para desviar as atenções de uma política que em nada melhora o país, o primeiro-ministro quis ainda terminar a sua mensagem com aquilo que passará a ser foco de análise, que está a ser potenciado por uma prática de instrumentalização da Polícia de Segurança Pública para fins políticos.
Luís Montenegro focou a parte final da sua mensagem nas questões securitárias. Não foi inocente, como ficou evidente, a sequência de temas, uma vez que a segurança seguiu-se da imigração, uma clara tentativa de correlação entre os dois aspectos elencados.
Começando por dizer que o seu Governo quer «promover uma imigração regulada para acolher com dignidade e humanismo os que escolherem viver e trabalhar», disse depois que Portugal é «dos países mais seguros do mundo, mas temos de salvaguardar esse ativo para não o perdermos», uma clara tentativa de justificação das várias operações policiais que estão a ser realizadas à margem da Constituição da República Portuguesa e que incidem numa ofensiva contra os trabalhadores imigrantes.
O primeiro partido a reagir foi o PCP. Jamie Toga, da Comissão Política do Comité Central, considerou que a mensagem de Natal do primeiro-ministro não falou dos dois milhões de portugueses que vivem abaixo do limiar de pobreza, dos quais 300 mil são crianças e não mencionou o facto de haver um milhão de reformados com pensões «de miséria», tudo isto em contraste com os 19 grupos económicos no país acumulam lucros 32 milhões de euros por dia.
O PS, por via de Alexandra Leitão, acompanhou os comunistas na análise feita, considerando que a mensagem de Natal «contrasta com a realidade». A socialista considerou também que o Governo «cavalga uma perceção de insegurança que não é real e aproveita para entrar numa deriva de populismo totalitário».
O Bloco de Esquerda, pela Aliyah Bhikha, membro da comissão política, nenhuma análise objectiva fez e para além de umas generalidades sobre a questão da habitação, fez exactamente aquilo que Luís Montenegro quis e focou a sua visão nas questões de segurança.
À direita, Rui Rocha da Iniciativa Liberal entende que «é como se a aprovação do Orçamento na generalidade em Outubro tivesse esgotado toda a capacidade política do Governo em Portugal» e Paulo Núncio, vice-presidente do CDS-PP, comprovou o objectivo do Governo e focar tudo na actuação policial, dizendo que «o Governo faz bem em colocar a segurança como uma prioridade da sua governação e a polícia faz bem em combater a criminalidade e em realizar estas operações de prevenção».
Como não podia deixar de ser, André Ventura fez aquilo que a mensagem de Natal o deixava fazer e foi uma mera caixa de ressonância que procura a intensificação da instrumentalização da polícia para ofuscar os problemas concretos do país e as borlas dadas aos grandes empresários que condicionam o poder político em prol dos seus interesses.
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